tag:blogger.com,1999:blog-232481522024-03-08T02:46:50.616+00:00SpeculumUerba. Voluptia. Libido. Dolor. Vita. Amor. Silentium. Persona.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.comBlogger542125tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-90244103446102799172015-10-04T01:11:00.000+01:002015-10-04T01:15:23.682+01:00Poema do fim Precisamos de chorar os nossos mortos<br />
mesmo que eles estejam vivos.<br />
Os olhos já se esvaziaram<br />
E quando se olha<br />
ao<br />
fundo<br />
só<br />
se encontra uma tristeza imensa<br />
que os<br />
inunda.<br />
<br />
Precisamos de chorar os nossos mortos<br />
dentro das linhas invisíveis que nos cosem<br />
a alma<br />
o coração<br />
e os mantêm unos<br />
mesmo que semi-desfeitos<br />
ou aos pedaços<br />
ou esburacados<br />
<br />
Uma coisa mesmo não sendo<br />
inteira não deixa de ser uma coisa<br />
com sentidos<br />
e sem sentido<br />
no decorrer dos dias e das lágrimas<br />
que atravessam calendários<br />
<br />
(nunca gostei muito de calendários<br />
e devo ter três ou quatro na carteira<br />
e um ou dois espalhados pela casa<br />
para que mesmo que esbarre com o<br />
tempo<br />
ao transpor a porta da cozinha<br />
ou ao remexer na carteira<br />
me lembre<br />
-sempre um cliché-<br />
que o pior e o o melhor do<br />
tempo<br />
é que ele<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
passa.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-109606042114084472014-02-02T01:36:00.001+00:002014-02-02T01:36:35.970+00:00I<br />
A escrita é a sintaxe do choro.<br />
<br />
II<br />
A noite é longa e o poema não faz sentido.<br />
Está frio.<br />
<br />
III<br />
O poema sai dos dedos.<br />
<br />
IV<br />
<br />
Os dedos são mutilados.<br />
<br />
V<br />
Os corações estão abandonados ao desapego dos dias.<br />
<br />
VI<br />
O meu coração é mutilado.<br />
<br />
VII<br />
Gosto de recortar poemas.<br />
<br />
VIII<br />
A pressa dos relógios atira-me para o turbilhão da loucura.<br />
<br />
IX<br />O médico disse que tenho dor do membro fantasma.<br />
<br />
X<br />
Ouvi a palavra 'amor' e dei uma gargalhada.<br />
<br />
XI<br />
A escrita é a purga do riso.<br />
<br />
XII<br />
Os lápis deixaram de se cravar nas folhas.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-63386799093557147132014-02-02T01:29:00.000+00:002014-02-02T01:38:04.363+00:00os dias de nevoeiro fazem-me dor de cabeça<br />
<div>
podia ser da luz clara, claríssima</div>
<div>
que me atordoa os sentidos</div>
<div>
e me faz entrar para um labirinto</div>
<div>
tal como Ariadne</div>
<div>
mas sem corda</div>
<div>
sem caminho de volta</div>
<div>
entrar</div>
<div>
percorrer</div>
<div>
encontrar monstros</div>
<div>
que mordem</div>
<div>
e envenenam</div>
<div>
e não ter corda para seguir</div>
<div>
e voltar para trás</div>
<div>
embrenha-se o viajante</div>
<div>
no nevoeiro</div>
<div>
e não volta mais</div>
<div>
<br /></div>
<div>
ou não volta o mesmo</div>
Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-80097197877270073812014-02-02T01:22:00.001+00:002014-02-02T01:22:25.146+00:00«a dor de todas as ruas vazias»relembrando Al Berto<br />
<br />
<br />
Poderia ser noite<br />
ou dia<br />
os olhos nada distinguem<br />
porque veem para dentro<br />
as ruas respiram ofegantes<br />
o chão pisado por milhares de pares de sapatos<br />
todos os dias<br />
a todas as horas<br />
os cheiros, os sons<br />
e mesmo assim ecoa<br />
a dor de todas ruas vazias<br />
é pedra, betão, paralelos<br />
não sei<br />
a dor de todas as ruas vazias<br />
o vazio<br />
a dor<br />
as ruas<br />
palavras escondidas em livros<br />
carne cauterizada no papel<br />
e a dor de todas ruas vazias<br />
do coração que de tão cheio<br />
esvaziou<br />
oco<br />
desapegado<br />
selvagem<br />
<br />Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-57807126594494004042014-02-02T01:17:00.001+00:002014-02-02T01:17:36.902+00:00A dor do desapego<br />
as paredes manchadas o chão árido<br />
de memórias<br />
que se esvaem<br />
como grãos de areia<br />
misturados<br />
noutros grãos<br />
de areia<br />
e lixo<br />
e lodo<br />
e lama<br />
e coração revolvido<br />
esquartejado<br />
<br />
não se sente a pele nem os lábios<br />
nem as feridas<br />
nem as palavras<br />
restaria um último suspiro<br />
que fica suspenso<br />
na letargia dos músculos<br />
na embarguez amarga<br />
de uma voz que se ouviu<br />
outrora<br />
numa página<br />
perdida no sussurro sepulcral<br />
de um livro fechado na estanteVoluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-37394412395186861792013-06-02T01:43:00.000+01:002013-06-02T01:45:00.272+01:00O meu telemóvel morreu.<br />
Eu sei que o tema não é<br />
poético<br />
mas o meu telemóvel<br />
que morreu<br />
tinha o meu último poema<br />
(o único de há meses)<br />
escrito na escuridão e na luzinha pálida<br />
de um ecrã moderno<br />
em que as letras<br />
não se desenham,<br />
dizia eu<br />
que o meu último<br />
poema<br />
se perdeu<br />
morreu<br />
o telemóvel não liga<br />
não me lembro<br />
das palavras exatas<br />
<br />
era sobre um coração a bater na<br />
mão<br />
e uma metáfora e um provérbio<br />
de ter<br />
o coração<br />
nas mãos<br />
(quem o tem)<br />
<br />
<br />
(talvez não só tenha morrido<br />
o telemóvel,<br />
o poema,<br />
a facilidade da tecnologia,<br />
talvez o coração<br />
talvez)Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-72373617298351138702012-06-19T04:48:00.002+01:002012-06-19T04:48:51.159+01:00O corpo quer-se<br />
quente<br />
no abraço<br />
no afago<br />
o corpo<br />
escreve<br />
e desenha<br />
linhas<br />
devaneios<br />
o corpo quer-se<br />
corpo<br />
sem ausência<br />
lânguido<br />
voraz<br />
exausto<br />
corpoVoluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-72333900904535030322012-03-26T02:05:00.001+01:002012-03-26T02:05:10.752+01:00Os olhos são de vidro<br />
e bate-lhes o sol<br />
anda uma sombra na<br />
parede, irrequieta com o movimento<br />
do corpo.<br />
É a minha dor atirada à<br />
parede em bolas de tinta tensas<br />
que se espalham no<br />
branco-vazio da pedra.<br />
Recorta-a, esfarrapa-a e cola-a numa<br />
tela.<br />
Expõe-me numa galeria<br />
para que fora de mim,<br />
histérica,<br />
loucamente me veja ao espelho.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-55244315342500903542012-01-29T07:07:00.000+00:002012-01-29T07:07:36.641+00:00Então o amor foi embora.<br />
Nada fica para sempre. Não se transformou em coisa nenhuma.<br />
Só foi embora.<br />
E fiquei ali à porta a acenar para o vazio, num sofrimento brutal<br />
a senti-lo apertar-me as veias como que gritando<br />
não me deixes ir.<br />
<br />
No dia seguinte uma embalagem de <i>kleenex</i><br />
e um café forte<br />
que com despedidas<br />
fico sem dormir<br />
ah e mais um corretor de olheiras<br />
e pó - que fica sempre bem.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-85954208312524015972012-01-29T05:53:00.000+00:002012-01-29T05:53:02.372+00:00O amor para mim é<br />
indecente.<br />
praticado em esquinas de ruas<br />
desvairadas,<br />
camas viradas ao contrário,<br />
olhado e profanado<br />
pelo dedos.<br />
sem razão<br />
sem medo<br />
de dizer<br />
palavrões ao ouvido<br />
ou alto<br />
gosto mais ao ouvido<br />
baixinho<br />
quando foder<br />
não é suficienteVoluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-1092655083175019902012-01-28T04:29:00.000+00:002012-01-28T04:29:47.947+00:00E então eu via o amor morrer<br />
mais um bocadinho<br />
às vezes em queda livre<br />
no vazio<br />
ou num tempo enrolado<br />
em que nem um desfibrilhador<br />
no máximo traria de volta um coração<br />
desistente.<br />
Segunda-terça-quinta...<br />
sei lá<br />
todos os dias eram bons para morrer.<br />
num qualquer pararia.<br />
os números caindo no ecrã<br />
o som contínuo do aparelho<br />
do pensamento culpado<br />
sem hipótese de voltar atrás.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-8847026685275084352012-01-18T03:41:00.000+00:002012-01-18T03:41:25.411+00:00<div>São cacos por limar, irregulares.</div>Toma, parte mais, disse eu. <div>Não era para me levares à letra.<br />
Já sei que também corto, mas não é com facas.<br />
Podias ter deixado menos cicatrizes.<br />
Agora tenho de ir à farmácia comprar cremes</div><div>e se não sabes, devias saber: os dermatologistas </div><div>só mandam comprar aqueles produtos caríssimos</div><div>que não servem para nada.<br />
Eu só corto com palavras. Das que têm a lâmina </div><div>mais afiadinha. Sabes quais são?<br />
Sim, essas, as palavras-bisturi. </div>Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-89580114221262978112012-01-18T03:33:00.000+00:002012-01-18T03:33:13.055+00:00Qual é a solução? Diz lá.<br />
Estás há 3 horas<br />
mais coisa menos coisa<br />
encostado a esse muro<br />
a ver os carros passar<br />
em silêncio<br />
chamaste-me aqui<br />
se era para estarmos<br />
em silêncio<br />
podias ter dito antes.<br />
Andar com sapatos de bailarina<br />
nesta corda suspensa no ar<br />
não é fácil.<br />
tu sempre tens um muro.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-70843881465206637512012-01-18T03:28:00.000+00:002012-01-18T03:28:35.780+00:00Incisão profunda na palma da mão.<br />
Não brinques com facas, cachopa.<br />
Olha que te cortas e te magoas.<br />
Corte atrapalhado. Não são mãos de cirurgião.<br />
Respira pausadamente. Não gosta de ver sangue.<br />
Já te disse para não brincares com facas, miúda!<br />
Mais profundo, até o encontrar. Nunca teve muita destreza.<br />
Ainda para mais com a esquerda. Mão desastrosamente<br />
amorosa, apaixonada.<br />
Deixa lá isso quieto! Já te disse que te vais cortar<br />
e depois choras!<br />
Procura-o, o bico da lâmina persegue-o.<br />
Toca-lhe<br />
suavemente.<br />
Cerca-o.<br />
Mais um corte aqui, outro ali.<br />
Extrai-o.<br />
Eu bem te disse que te ias magoar! Agora choras, pois!<br />
Olha o coração arrancado do corpo, o buraco profundo da mão<br />
que continuamente jorra sangue.<br />
Sem expressão relembra<br />
"Estou a sentir o teu coração a bater na tua mão".Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-49674216939011054242012-01-04T05:10:00.000+00:002012-01-04T05:10:22.362+00:00Relembrando Eça de QueirósUlisses disse a Calipso:<br />
És demasiado perfeita.<br />
Quero a sujidade<br />
das coisas humanas.<br />
A Penélope é<br />
velha<br />
e<br />
feia<br />
coitada!<br />
20 anos à<br />
espera<br />
a suspirar<br />
pelo tempo<br />
e pelo homem<br />
já tem ponteiros<br />
em vez de veias.<br />
Ulisses, o homem mais astuto<br />
da Grécia rejeitou uma deusa<br />
divina, perfeita, incólume<br />
e bela, sem rugas nem pele de galinha.<br />
Não vai precisar de creme de<br />
dia e de noite<br />
noite e dia<br />
esperava Penélope<br />
a desfazer a tapeçaria.<br />
Calipso dizia eu<br />
de beleza perene<br />
foi abandonada<br />
por Ulisses<br />
esse sacana<br />
que quer coisas efémeras<br />
como o beijo roubado<br />
à pressa à porta do elevador<br />
dum apartamento que não existe.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-88893338412431508182011-12-15T06:07:00.000+00:002011-12-15T06:07:32.818+00:00-Vou dormir.<br />
-É melhor, é.<br />
Vira-se para o outro lado. De costas.<br />
um<br />
para o outro.<br />
Puxa os cobertores até cima.O quente da lã sorve a pele.<br />
tic<br />
tac<br />
tic<br />
tac<br />
Insónia dolorosa.<br />
Uma flanela <i>patética</i><br />
rejeita-lhe as lágrimas.<br />
tic<br />
tac.<br />
Estica o braço. Atira o despertador para o chão violentamente.<br />
-O que foi?<br />
-Detesto o som dos ponteiros.<br />
-Ok.<br />
tic<br />
tac<br />
tic<br />
tac<br />
tempo amorfo.<br />
continua o fio de luz do candeeiro<br />
desmaiado<br />
da rua a atravessar o quarto.<br />
-Que horas são?<br />
-Não sei. Deixaste cair o relógio.<br />
tic<br />
tac<br />
Levanta-se.<br />
-Onde vais?<br />
Veste-se na escuridão, a camisola ao contrário.<br />
-Ai.<br />
O fecho feriu-lhe a pele.<br />
-Onde vais?, repete<br />
-Embora.<br />
Silêncio. Pupilas (in)diferentes<br />
reagem.<br />
-Não.<br />
-Há tempo a mais neste quarto.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-68363254357815038932011-06-03T20:47:00.001+01:002011-06-03T20:48:09.936+01:00<div style="text-align: right;"><em>O sabor a barco que tem a boca</em><br />
<span style="font-size: x-small;">Eugénio de Andrade</span></div><br />
Das mãos<br />
à boca<br />
o calor que flui<br />
na pele<br />
um olhar em<br />
concha<br />
pintalgado de <br />
mar<br />
e um céu<br />
raiado<br />
nos contornos<br />
das palavras<br />
quebradas<br />
(des)cristalizadas<br />
Os frutos<br />
amargos<br />
nas pontas<br />
dos dedos.<br />
O sabor<br />
no <br />
caroço<br />
Adão<br />
o verde do espaço<br />
e o éden<br />
do ventre<br />
cálido<br />
E(r)va<br />
braviaVoluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-66552886380776175342011-05-20T02:01:00.000+01:002011-05-20T02:01:13.181+01:00Já não sei chamar-te amor.<br />
há paredes e pedras e muros<br />
que me tapam os olhos<br />
cimento bruto, inconsistente<br />
que me prende o músculo,<br />
um silêncio visceral<br />
e calmante<br />
que se apoderou da minha boca.<br />
Amor, já não sei chamar-te amor.<br />
Desaprendi o teu beijo<br />
quando a tua boca <br />
mentiu à minha<br />
em segredo.<br />
<br />
Xiu. Não digas mais nada, amor.<br />
tens os olhos presos na expressão da face,<br />
as tuas mãos tactearam o meu corpo inviolável<br />
como se se saciassem na minha pele cálida, morena,<br />
tua.<br />
<br />
Adeus amor a quem não chamo amor<br />
porque amor o mataste,<br />
sugando-lhe a vida <br />
e o sorriso das cordas vibrantes,<br />
estupraste-me a alma<br />
com ferocidade<br />
voluptuosamente<br />
perdendo-te em mim<br />
amor<br />
na cama virada <br />
ao contrário<br />
lentamente<br />
mais rápido<br />
um riso<br />
cúmplice<br />
veneno viandante <br />
entre corpos<br />
amantes<br />
exaustos<br />
adormecidos.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-22489252906453511342011-03-24T02:06:00.000+00:002011-03-24T02:06:52.610+00:00é um vazio um monstro com asas de veludo um café frio<br />
que caiu mal no estômago<br />
tenho um travo a papel na língua um lápis aguçado encostado<br />
à <br />
garganta<br />
pronto a rasgar a jugular e a jorrar sangue por todo o lado<br />
sangue vermelho morto em fios em gotas em poças<br />
sangue quente de ontemVoluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-87305739945652586462011-03-10T03:12:00.000+00:002011-03-10T03:12:45.538+00:00Do tempoQuanto mais tempo irá passar<br />
nas minhas mãos, na minha boca,<br />
pelos meus olhos,<br />
na minha pele,<br />
no meu gesto inquieto, vulgarmente<br />
frágil como se fosse um cliché<br />
para que te lembres que a língua perde o sabor<br />
e o perfume dos corpos comungando<br />
da fome do corpo<br />
dura apenas um segundo na eternidade finita<br />
da memória?Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-2236333910665852862011-02-23T01:08:00.000+00:002011-02-23T01:08:26.837+00:00Nota breve em três estrofesAgora que as mãos cálidas <br />
arrefeceram<br />
e um sopro de noite<br />
estupra<br />
a janela, que resta perguntar?<br />
<br />
Não há voz dorida e<br />
des-pe-da-ça-da-men-te<br />
enjaulada<br />
que se atreva a dar <br />
uma entoação<br />
de ponto de interrogação.<br />
Não resta perguntar <br />
nada<br />
só silêncio<br />
ao fundo do quarto<br />
pergunta e responde,<br />
nurmurando,<br />
gemendo,<br />
bramindo impropérios<br />
em voz-off.<br />
<br />
Agora que o frio invadiu a janela do teu<br />
quarto,<br />
meu<br />
amor,<br />
resta-te o vidro escrupulosamente<br />
cortado<br />
e uma cama <br />
desfeita.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-8148537480684340102011-02-22T01:45:00.001+00:002011-02-22T01:45:56.791+00:00Do GostoA pele na pele.<br />
O mel<br />
que escorre<br />
pelas pernas<br />
lânguidas<br />
longas<br />
frementes.<br />
<br />
A pele na boca<br />
da pele.<br />
Nua e fria.<br />
Sem aroma.<br />
Língua sem sabor<br />
que passar pela<br />
perna<br />
longa<br />
lânguida<br />
desenhada<br />
sem<br />
mel.<br />
<br />
(queimada)<br />
Pele sem pele.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-37410074930760951192011-02-22T01:39:00.001+00:002011-02-22T01:40:19.923+00:00Tenho-te na memória dos dedos, nos risquinhos quase imperceptíveis dos lábios.<br />
A minha boca palpitante, com o coração entalado no esófago.<br />
Como esquecer a minha própria impressão digital?<br />
Um amor de sofá emprestado e murmúrios na pele.<br />
Tenho-te na memória dos meus-teus-olhos perpassados pela<br />
sombra.<br />
Sempre gostei da sombra dos teus olhos,<br />
aquela que vi passar quando me deste o beijo mais<br />
seco<br />
áspero<br />
recusado<br />
que uma boca pode dar a outra. <br />
<br />
Foi nesse momento que mastiguei o coração,<br />
que o sorvi de um trago<br />
e o coloquei de volta lá<br />
naquele sítio a que chamam peito.<br />
Continua a ter duas aurículas<br />
e dos ventr(e)ículos.<br />
Ou talvez pedaços mastigados<br />
de prazer<br />
e de um cinzento corroído.<br />
<br />
Nunca quis que me visses por dentro.<br />
Não. <br />
Ou talvez um sadismo fremente<br />
quisesse que a tua digital<br />
me timbrasse a carne<br />
como uma tatuagem<br />
que não cicatriza.<br />
Desenhada e aberta.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-30813040668475538692011-02-09T02:27:00.000+00:002011-02-09T02:27:01.980+00:00GataTinha olhos de gata no cio. Profundos, densos, sorridentes. A boca sedenta, os dedos esguios. Tinha olhos de gata. No cio. Brilhantes, esquizofrénicos, inquietos. Passeava pela rua de fato decente, gabardine composta. O cabelo meticulosamente alinhado e um conjunto de pulseiras que tilintava quando o salto pisava o chão inebriado. Gostava de passear pelas ruas de óculos de sol e esconder os olhos. De gata. No cio. De carregar a carteira na mão e balançar as ancas. Observar os olhos de quem a via passar. Olhos no cio. De gata escondida. Escondidos. Poucas palavras saíam da sua boca voraz. Pouquíssimas. Saíam-lhe sim como faíscas. Dos olhos. Observava os gestos das pessoas que não conhecia, que se cruzavam com ela nas lojas, no supermercado, na rua, no café, nos jardins. O dente a morder o lábio, os lábios contraídos. A mão inquieta no cabelo, um sorriso disfarçado. Lolita. Fingia enterrar os olhos e a alma nas palavras de Nabokov. Para olhar sem pudor. Para sentir prazer num voyeurismo inconsciente. Espiar os casais do parque. O beijo de olhos abertos, a mão travada a caminho da blusa. E ficava ali horas a fio no banco de jardim a imaginar-se nos braços daqueles homens, todos eles diferentes, renovando-se à passagem das horas. Os seus olhos de gata a faiscar, as mãos numas quaisquer calças. Puta. No cio.Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-23248152.post-52368196663014587682011-01-30T09:05:00.002+00:002011-01-30T09:05:02.063+00:00<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: "Georgia", "serif"; font-size: 12pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Eu nunca levei um tiro. Pelo menos um que me rasgasse a carne, que fizesse sangue sair do meu corpo para o chão. Mas estou inerte na cama, a respiração (des)compassada, o peito que sobe e desce e pára e volta a ter movimento, o anel preferido no dedo, os lábios molhados. Eu nunca levei um tiro, mas estou a sangrar por todos os lados, está a doer em cada pedaço de corpo como se a carne estivesse rasgada, como se as forças me faltassem, como se a voz se desarticulasse.</span></div>Voluptiahttp://www.blogger.com/profile/17837337685601751645noreply@blogger.com0