Hoje chorei, mas não senti. Sinto que choro de maneira diferente. Não sou eu. Tão poucas lágrimas inundaram os meus olhos. Não pareço eu. Os ventos de outrora levantaram a poeira do chão e toda ela foi atirada para os meus olhos. Feriu-os, entranhou-se, permaneceu. Não sei onde a procurar. Talvez a tenha limpo num dia qualquer em que me lembrei de não gostar de ventos.
Apetece-me estar sozinha. Em casa ou por aí. Rumar para destino incerto. Por dez minutos, uma hora, um dia inteiro. Perdi a noção do tempo. Não controlo o choro. E só o sei porque é agora que as palavras correm e se atropelam querendo ocupar o seu lugar. Uma pausa, o choro abrandou. Mas voltará a qualquer instante, apesar de eu saber que não vou chorar tudo e que já não sou eu nem me reconheço.
Finalmente cessou. Mas culminou numa dor de cabeça que se vai deitar comigo e não me vai deixar dormir. Vou passar a noite toda em claro e acordar com os olhos opados. Posso disfarçar as olheiras,mas ainda não aprendi a disfarçar tristeza dentro do meu olhar.