sexta-feira, 12 de março de 2010

Apeteces-me sem razão.
Apeteces-me agora
na confusão da vida e da cidade,
na confusão do meu coração indeciso
que não sabe se se desprende para ti
ou se se esconde em mim.

Vais-me apetecer logo
quando olhar em volta
e não te sentir
no quarto,
na cama,
na pele;
quando não me disseres
boa noite
e não sentir a tua
voz
a falhar.
Apeteces-me mais do que me lembro querer-te ontem.

Dorme comigo esta noite

Não me atires palavras amargas
quando os meus lábios se cerrarem e palavras de mel
não se cravarem na tua
pele.

Envenena-me...
pediste-me há muito tempo atrás
quando eras apenas mais um dia mesclado de cinzento.
Envenena-me...
peço-te eu secretamente todas as manhãs
quando o sol entra pela fresta da janela que eu me esqueci de fechar
e reparo que a cama está vazia,
que o meu corpo não descansou entrelaçado no teu;
que a tua boca ávida não me vai dar um beijo rápido e rotineiro
e o teu riso fazer-me rir.

Envenena-me, deixa-me pulsante de ti;
envenena-me quando a noite cair
e na madrugada soar a tua voz no meu ouvido.
Envenena-me quando eu estiver enlaçada em ti
mesmo que esteja tudo em silêncio
e que só se oiça a nossa respiração
compassada.

Dorme comigo esta noite.

segunda-feira, 1 de março de 2010

A mulher do gesto inquieto

A respiração controlada,
O peito que sobe e desce
À medida que o ar entra e sai
Corroendo-lhe os pulmões.
A mão pousada em cima do joelho
sereno e impassível.
Os olhos que abrem e fecham
sempre ao mesmo ritmo.

O olhar raivoso de mulher enciumada,
os músculos tensos que a roupa esconde,
a tez pálida,
o estômago que arde.
A mão que se une à outra,
os dedos contorcidos
e os pensamentos cindidos
a rebolar pelas veias
e a pulsar o sangue.

Dentro do mar há um tornado.