domingo, 25 de fevereiro de 2007

Toma este rebuçado.
Eu sei que gostas.
Não queres? Porquê?
Foste tu que mo deste.

Pois, estás a ver como estou:
Fraca, triste, sedenta de vingança.
Então, meu Amor, vem buscá-lo!
Pertence-te!

Não queres assemelhar-te a mim!
Como é amargo o desejo!
Que triste é a tua alma.

Dizes que tens pena de mim,
Mas és insano! Eu é que sinto compaixão.
Tu não. Nenhum bem é digno de ti!
Volta para as trevas.

(E enquanto dormias provaste o rebuçado
Que te dei! Ah! Como é doce a vingança!
Também estás destruído!
Agora posso descansar!)
Saio de casa. São oito da manhã.
Encontro a moça loira e rio.
Vou ver o mar, esperança vã;
Fico presa em meu desvario.

A areia molhada provoca-me arrepios.
Vejo o pescador pachorrento e paciente.
Olho-o nos olhos: encontro rubis frios
E uma pequena esperança latente.

Apetece-me um gelado. Enquanto passeio
Encontro-te. Estás diferente, duro.
Lembro-me do triste Inverno feio
Que cegou o meu olhar escuro.

Estás com ela. Já nada me dói.
Mas vejo que ainda me queres
E continuo igual: a dor destrói.
Vai-te embora se preferes.

Eu vou virar-te as costas agora.
Adeus! Até nunca mais!
Sei que chegou a terrível hora
E que não te verei jamais.

Quinta-feira

Nunca gostei das quintas-feiras.
Sempre me trouxeram desilusão.
Sempre me deram a provar o travo
Amargo da vida.

Mas a quinta-feira também pode ser símbolo
De prazer. Sei que posso sorrir à quinta-feira.
Sei que te posso olhar nos olhos doces,
Repousar nos teus braços
Ou simplesmente adormecer num sonho encantado.

A quinta-feira marca a minha vida.
Nesse dia não tenho palavras; não escrevo.
Apenas fico perdida em mim (e em ti...)
A pensar na mão que esculpiu na pedra o meu Destino.
Tenho tanto para dizer, mas as palavras não me ajudam.
Correm lentamente nas minhas veias, deslumbram-se
No meu coração e morrem em meus dedos.
Sorrio-lhes. Eu percebo-as. Também elas querem falar
E não podem; também elas querem sentir e a minha mão
Não permite.

Também eu quero sentir, mas ele não me deixa.
Quero falar, mas a minha voz perde-se no silêncio.
Sorriso vago, o lápis já não quer escrever.

E o Céu apresenta-se como dádiva.
Subirei pelo cordão de ouro que o meu anjo
Me oferece e repousarei junto dele.
Quando passo pela cidade
Que se apresenta todos os dias a meus olhos
Tenho vontade de parar no tempo
E ser uma das estátuas que lá estão.

Expressão parada. Estaria presa dentro de mim.
Seria bronze. A cotovia repousa no meu ombro.
Encosta-se a mim e conta-me novas das pessoas
Que nunca me sorriram.

Não consigo falar. Apenas escuto.
Começa a chover. Ela parte.
E eu fico sozinha.

E nesse momento ganho vida
E volto a contemplar a cidade
Que se apresenta a meus olhos.
E desejo parar no tempo outra vez.
Quem te disse que sei usar as palavras
A meu bel-prazer e com elas manipular-te?
Ninguém. Eu sei. Tu quiseste enganar-me
Com as palavras que me pertencem e não consegues!
Elas são minhas! Não tens o direito de as profanar!
A tua boca é suja.

As minhas palavras são cristalinas.
Desenho-as a lápis de carvão.
Sujam-me os dedos, cravam-se na minha pele.
Pertencem-me totalmente.
Beijo o silêncio em que me envolveste.
Nada digo. Apenas te olho nos olhos.
Nos meus vês mágoa e raiva.
Apenas dor e sofrimento.

Tentas agarrar-me e prender-me
Outra vez a ti, mas já não consegues.
Nos teus olhos vejo culpa e desilusão.
Apenas desejo de vingança.

Consigo afinal soltar-me. Não preciso mais
De ti, meu Amor nefando.
Não quero o teu toque .
Não quero sentir o teu cheiro.

Sou livre, completamente livre
Para beijar outro silêncio,
Abraçar outro corpo e olhar outros olhos
E mais uma vez sofrer e voltar a desprender-me
Das algemas cruéis que querem ferir os meus pulsos frágeis.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Sou jovem e...

Sou jovem e amo profundamente.
Amo a vida, as flores que recebo
Daqueles que me desejam, os aromas
Exóticos, o proibido.

Sou jovem e sorrio.
Sei fingir sorrisos e sei mostrar
A natureza bruta emanada por eles.
Gosto do proibido.

Sou jovem e erro.
Dou com a cabeça nas paredes das nuvens,
Caio e volto a levantar-me, acreditando sempre
Num novo amanhã.

Sou jovem e não sei o que fazer.
Gosto de seguir o coração, mas sofro sempre.
Sou jovem e gosto de seguir o instinto
E ainda não me arrependi.

Fotografia de um jovem

Olho para o retrato de um jovem.
Esperança espalhada pelo rosto,
Olhos brilhantes.
O corpo mostra a leveza da sua idade.

Mas também vejo a sua alma!
Imensa, quase a perco de vista!
Tantos sonhos inacabados, tantos ideais!
E tantas dúvidas e agonias.
É a sombra de um passado bem presente.

Este jovem é forte. O seu retrato modificar-se-ã
Devido ao seu Destino sagaz.
Um dia será velho e poderá dizer
Que aproveitou os anos de energia e glória.

Era jovem e sofria

Sofria por um amor impossível.
Era jovem e amava.
Era jovem e sonhava com caminhos
Trilhados pelo sorriso da lua,
Sonhava com príncipes e princesas
Que vivem em castelos de sonhos.
Partiu em busca deles.

Mas apenas viu ruínas.
E escutou gritos de dor
Provenientes das pedras brutas
Que a magoavam terrivelmente.
Era jovem e sofria por não encontrar
Um mundo perfeito.

Jovem

A bailarina ainda dança
Na caixinha de música que me ofereceste, jovem.
Quando a tua música parar, também ela parará
E eu verei a minha alma aprisionada em ti
E na tua existência mágica.
Jovem, leva-me contigo
Quando todas as estrelas se apagarem
E a lua governar o céu completamente só.

Era jovem e não sorria

Rosto apagado.
Expressão incólume.
Um corpo jovem,
Uma alma podre.

Era jovem e não sorria.
Era triste e nada fazia
Para sair do buraco negro
Em que se encontrava.

E eu nada podia fazer.
Apenas o vi.
Jazia a meus pés, morto.
Aconcheguei-me e como ele morri.

Era jovem e não vivia

Ouvia música,
Pintava as paredes
Com riscos e cores
De diferentes tonalidades.

Saía à noite e dançava;
Era cobiçada por aqueles homens
Maus que a tratavam como objecto
E nada mais.

Cantava melodias que ninguém conhecia
E ria.E ria de si própria.
Era jovem e fingia ser alguém que não era.

Era jovem e não vivia
A sua vida, mas a de uma outra que não existia.

Era jovem e tinha um sonho

Era frágil e dócil.
Sempre me interessei pelas palavras
E por tudo o que era diferente.
Não tinha muitos amigos,
Só a moça loira e branca.

Era jovem e tinha um sonho!
Colorir o mundo com vocábulos enfeitiçados
Pelas minhas mãos.

Era jovem e esse sonho concretizou-se.
E hoje em minhas trovas estão presentes amores
Puros, paixões ardentes, desilusões e frustrações
E a esperança de passar para o papel os vestígios
De uma existência talhada pelo Destino.

Uma miragem de mulher

Apareço sempre no teu sonho, meu Amor.
Agora que estou longe de ti entendo
Que tenho de te proteger.
Sou o teu sonho.

Passeámos por entre veredas de loucura,
Dançámos e beijámo-nos à chuva,
Tendo o vento como testemunha.

Mas deixaste-me ir embora.
De repente largaste a minha mão,
Devolveste-me o coração e nada me disseste.

Agora queres-me de volta na tua vida,
Mas não passo de uma miragem de mulher.
Uma mulher que um dia amaste, esqueceste
E lembraste-te de voltar a querer e amar.

Tua mulher

O futuro não me preocupa.
As tuas outras mulheres não são razão
Para me tirar o sono e para me fazer chorar.
Não te amo, mas quero-te agora.

Fui tua mulher, tua amante durante aquelas horas
De prazer. Tua mulher e só tua.
Os sussurros, os beijos, os carinhos foram meus.
Os nossos olhos foram envolvidos por uma luz

E disseram a verdade sobre nós,
Elevando a nossa graciosidade de Poetas.
O nosso desejo foi cumprido.

E quando me recordo de ti, sorrio.
E o meu corpo estremece ao recordar o teu
E a falta que lhe faz.

Apenas mulher

A minha condição é ser mulher,
Apenas mulher.
Acordo e espreguiço-me na cama vazia.
Levanto-me e olho-me ao espelho.
A minha expressão morre a cada dia que passa.

Já não tenho luz no olhar
Nem me apetece ir trabalhar,
Mas vou. Eu tenho obrigações.
O dia é aborrecido.
As pessoas são aborrecidas.

A tarde chega e regresso a casa.
Encontro a dor e a ausência da ternura.
Estou cansada. Vou dormir.

E é nos meus sonhos que me realizo.
Porque sou como o Poeta que busca
O infinito no mundo oposto.
E sei que vou acordar amanhã
Com os olhos inchados de chorar.

Mulher anjo

Adeus, anjo em forma de mulher.
Nem sequer te conheço.
Penso que apenas te vi uma ou duas vezes.

Mas hoje acordei e vi que já não habitavas aqui.
Sobe aos Céus e ocupa o teu lugar.
Adeus. Olha por todos nós e pelos teus amigos
Que sofrem com a dor de te ter perdido.

Sei que costumavas sorrir. E isso é suficiente
Para gostar de ti. Nunca convivemos.
Nem deves saber que existo.
Mas olha por mim também
E dá-me uma estrela do teu olhar.

Mulher demónio

Poderosa.
Ela domina todos.
Enfeitiça os corações.
Atiça o veneno do ciúme.
Ela enlouquece-os.

Poderosa. Ela prendeu-me
E cortou a minha carne.
Vejo sangue e dor sair do
Mais puro de mim.
Ela aprisionou-me dentro dela.
Já não sei qem sou.
Ela matou-me com os seus demónios.

Menina Mulher

Na tua cama repousa meu corpo.
A tua poesia confusa é o teu desejo.
A tua boca invade a minha
Sem pedir permissão.

Mas na minha mente passeiam príncipes
E fadas. Vivo coisas que desconheço.
Mais uma vez o Destino baralhou
As escrituras.

As tuas mãos voltam a pegar nas minhas.
O teu sorriso volta a encontrar o meu.
O teu olhar arrebata o meu.

Mas no meu espírito viajam conceitos
De Amor que desconheço.
E assim me entrego ao desejo,
Tendo a certeza daquilo que quero.

Mulher

Em meu seio inviolável descansa
A fonte da vida: o Amor.
Não sou mais que uma mulher,
Não sou mais que uma chama que arde
Lentamente ao sabor da vida.

A minha alma ardente é o meu segredo.
E ninguém o pode decifrar
Porque sei fingir e mostrar aquilo
Que pretendo que os terríveis outros pensem.

Amo com o corpo e com a alma.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Choro escondido

Olá cotovia.
Por quem choras?
Os teus tristes lamentos
Reflectem-se na hora amarga
Em que choro escondida
Do todos e do mundo.

Vem aqui, cotovia.
Encosta-te a mim
E diz-me um segredo.
Partilha comigo esta dor secreta
Para que amanhã possamos sorrir
E fingir que tudo está bem.

Choro Silencioso

É na escuridão desta noite
Que os meus sentimentos
Se revelam nas lágrimas
Silenciosas que percorrem
O meu rosto.

É na escuridão desta noite
Que foi nossa que relembro
As palavras meigas que eram
Tuas e a dedicadas a mim.

Mas tenho de contrariar
Esta vontade do coração
Para não voltar a falar contigo
E cair na tentação de te querer
Outra vez.

Porque não me és indiferente
Apesar de o meu olhar te dizer
O contrário. E só eu sei o quanto
Desejo não te amar, meu Amor.

Choro desalmado

Já não sei se o choro
Que me suga a alma
É reflexo do que não tenho.
Não sei se o que me preenche
São notas soltas, perdidas
Enquanto o Poeta tocava flauta
Na imensidão agreste do campo.
Já não sei se choro
Porque nada mais tenho a dizer,
Porque já não sinto
E já não desejo.
Não tenho alma, não tenho sonho.
Quis o nada para nada ter;
Estou no nada e o sofrimento daí provém.

O meu triste choro

É este o meu triste choro.
Não o quero definir
Ou identificar.
Apenas é este.
Não tem motivos para existir,
Mas existe.

Preciso dele para me levantar da cama
Todas as manhãs. abrir a janela
E receber a energia do sol fraco
Que me dá os bons-dias!
É triste, é um facto.
E dentro dessa tristeza
Escondem-se as mais belas
Palavras do Poeta.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Noite de choro

Dura a noite me acolheu.
De mil desejos apenas um me concedeu.
Uma flor me foi oferecida
Pelas mãos que um dia me tiraram a vida.

Mãos brancas, cruéis e imortais
Que apertam o meu pulso triste
Sem escutar os meus tristes ais
Quando o murmúrio da noite resiste

Ao longínquo vento fustigante.
E ao longe vejo a lua fulgurante
Pintando estrelas num céu de seda.

Mas a lua não sabe que a dor
Rasga os véus que cobrem a vereda
Onde o sorriso dá lugar ao rancor.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Eu choro - II

Está a doer, a doer tanto que perdi a voz
De gritar por socorro.
Está a doer e eu nada posso fazer.
Não consigo esquecer o perfume,
As cores, a parede branca e pura
Que gelou o meu corpo.

E quero mais! Quero o teu corpo, não a tua alma.
Não preciso dela porque não faz parte de mim!
Tu não fazes parte de mim.
Mas choro porque cravaste em mim o teu toque,
Puseste sangue nas minhas veias
E apertaste a minha mão para que fosse só tua
E de mais ninguém.

Eu choro

Não quero escrever que choro.
Não tenho vergonha, não me admiro.
Simplesmente as lágrimas cruéis
Inundam os meus olhos

E eu nada posso fazer.
Resta-me esta sala vazia
Onde a dor ecoa
E o desespero passeia uma lâmina

No meu frágil pescoço.
Resta-me um pedaço de chão
Coberto de pó e pedaços de sonhos

Destruídos por aquele que desejo.
E nesse sítio escuro espero ansiosamente
Pela aurora que levará o meu corpo.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Céu azul

Corre! O teu céu é tão azul!
Tão agradável que quero voar nele
E chegar ao infinito!

Quero ser livre!
Quero voar e escrever palavras
Belas com pedaços de nuvens.

E quero descansar e sentir a magia
Dos raios de sol! E quero vê-lo a transformar-se
Para acolher a lua e as maldosas estrelas!

E quero abraçá-lo para o proteger
E não acabar com a imensidão de azul
Que os meus olhos um dia pintaram!

Céu perdido

Os anjos cantam a tristeza.
O céu perdeu-se.
Foi ela e só ela.
Má, cruel, vil.

Ela e a sua face luminosa.
Ela e os seus ardis de amor.
Ela e as suas lágrimas fingidas!
Ela,ela e só ela!

Quero chorar por ele e não posso!
As lágrimas fugiram!
Ele levou-as no coração!
E agora estou vazia!

Mas a culpa é dela!
Se ela náo existisse, o Céu estaria comigo
E o riso acalmaria o meu pesado sentimento.

Céu estrelado

Esta noite foi sublime!
Um céu repleto de estrelas me ofereceste, meu Anjo!
Um céu cintilante, uma alma pura para mim!
Nunca me esquecerei.

Meu Anjo, já anoiteceu novamente.
É outro céu estrelado o que me trazes?
(Anjo? Anjo? Onde estás?)

Anjo, esse céu é feio!
Não o quero! Leva-o daqui!
Ai...como fere!

"Não confies nas estrelas.
Roubaram a luz dos olhos teus,
Entristeceram a tua melodia
E violentaram as tuas palavras
Quando mataram o poeta!"

Céu na Terra

Paredes brancas. Corpos.
Num dia de frio eu fui tua. Só tua.
Mas apenas num dia de frio
E vento e cheiro de terra molhada.

Os meus cabelos repousaram no azul.
O meu corpo acolheu a dádiva,
A minha alma o toque.
E nada mais foi dito!

Será terra? Será Céu?
Olhar sedutor.
Ofereci-te o Céu na Terra
E o momento único numa nuvem angelical.

Céu, salva-me!

Escuta o apelo desta serva.
Aqui jaz meu coração pecador.
Quero palavras para construir metáforas.
Quero sílabas para construir sonhos.

As lágrimas não acariciam a minha face.
Não sei onde se esconderam.
Procuro dentro de mim e encontro o vazio.
Procuro em todo o lado e encontro o vazio.

Já não me reconheço! Ai...não!
Onde está a alma sonhadora e dócil?
Quem é esta que me faz pecar?

Olhar ardente, coração frágil.
Céu, salva-me de mim
E das minhas lágrimas silenciosas.

Meu Céu

És meu. Não te tenho amor.
Apenas te desejo.
Gosto da maneira como me acolhes em teus braços.
Natureza selvagem, estado puro.

Meu Céu de tardes de prazer,
Faz com que o sol brilhe de novo.
Quero sentir a seda nos nossos corpos
E deixar que o instinto nos domine
Mais uma vez...

Céu negro

Aqui estou, meu Céu Negro!
Depois de dias de delicioso ócio,
Aqui me tens novamente.
Volto a ser tua escrava.
Volto a calar as minhas lágrimas
E sorrio.

Sem brilho e sem sonho.
Apenas o meu cabelo esvoaça na tua escuridão
E os meus lamentos perdem-se
Quando os lábios beijam a palavra
Que me aperta a garganta.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Sem cor

Onde estou?
Não vejo nada!
O teu pecado cegou os meus olhos.

Para onde me levas?
A tua mão está fria.
É o espelho do teu coração.

Que dia é hoje?
Tiraste a cor da minha vida.
Agora resume-se a pequenas palavras
Traduzidas numa melodia
Tocada na flauta do Poeta.

Verde

Não gosto de verde.
Não gosto de folhas
Nem de espaços amplos
E bucólicos.

Não gosto de ter esperança
Nem de sentir frio
Quando Ela me tenta percorrer.

Azul

Voa nesse teu céu azul, cotovia!
Liberta-te das mãos que te prendem aqui.
Repousa as tuas belas asas no telhado daquele castelo
Onde tudo é luz e quimera!

Beberica a água que dá vida à tua vida
E volta a voar!
Abraça galhos de árvores frondosas,
Beija ninhos de irmãos teus.

Quando anoitecer, volta à cidade!
Percorre bairros e pracetas,
Encontra um recanto para descansar.

Quando a cotovia adormece,
O céu já não é azul
E a cidade volta a despertar...

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Amarelo

O meu sorriso é amarelo.
O teu sorriso é...é...
Tu não tens sorriso, mas sorris.

Não consegui defini-lo! Porquê?
Apenas sei que o meu é de tal forma
Porque alguém de quem não gosto mo disse.
Apenas sei que o meu é amarelo
Porque prefiro acreditar nas palavras de quem me mata
Do que nas daqueles que querem que viva!

O teu sorriso é...é...
Tu não tens sorriso, mas sorris.
Uma parte de ti ainda brilha, ainda sonha!

Rogo-te que me escutes e que leves esta cor da minha vida
Para que nunca mais volte e se transforme em verde
Quando o mar arrastar o meu corpo e o devolver ao Céu.

Laranja

Hoje não é um bom dia para escrever.
Hoje não quero sequer pegar na caneta preta
Nem no papel para ordenar palavras
E dizer que formam um belo conjunto.

Quero desenhar formas que desconheço
Em tons de laranja. Não quero depois tentar identificá-las.
Só preciso de ficar a observá-las. Só preciso de as sentir.

Não quero falar sobre elas e nem te quero oferecer um sorriso.
Apenas te ofereço aquilo que não conheço
Para que também não o possas descobrir.

Preto

Não sabes que esta música sombria que escuto
É minha e tua.
Já não faz sentido chamar-te meu Amor,
Já não faz sentido lembrar os teus abraços.
Apenas posso carpir as mágoas e rasgar fotografias
Até sufocar de dor, até deixar que o coração não mais viva!

Estou ainda de luto pela alma que é minha
E que tu levaste contigo apenas para ferir.
Não preciso de vestir algo preto,
Eu sou essa cor.
Não preciso de me refugiar na noite,
Eu sou a noite escura que me abraça.

Onde estás? Onde estás?
Peço-te um último favor: não me respondas.
Não quero ressuscitar o coração.

Vermelho

Nos teus lençóis de seda vermelha me envolveste.
Aquele dia desvairado, aquela tarde que nos acolheu.
Não havia tempo nem espaço.
Tudo era silêncio.

Usava um lenço vermelho
Que te deixei e com ele deixei o perfume da minha pele
Cravado na tua.
O meu desejo é o teu.
A minha boca é a tua.

Guardo ainda naquele livro as rosas que me deste.
Gosto de as contemplar quando o pensamento voa
E o olhar se acende.

Gosto deste nosso contraste.
E não tirei o anel de brilhantes.