domingo, 31 de dezembro de 2006

Ponto final

Cheguei ao fim.
Quando acabar de escrever vou-me deitar.
Esta é a última noite em que penso em ti,
Este não é o último poema que te dedico!
Ainda vou mostrar a minha dor e a minha raiva
Numa altura em que estiver fraca,
Mas não é disto que quero falar agora!

Não ousarei revelar o teu nome.
Não ousarei sequer revelar o meu.
Vou sair daqui de alma purificada.
Tu mudaste. Eu tive de mudar.
A nossa história tem aqui um ponto final.
A página destas duas vidas que um dia se cruzaram
Parece ter um fim aqui.
De ti guardo as memórias, os olhares repletos de desejo e sinceridade.
Nunca duvidei de ti, é importante que o saibas.
De ti guardo o vermelho e o azul, o charme e o sorriso meigo que me prendeu.
Guardo-te dentro de mim como a paixão mais bela que algum dia será cantada.
Adeus.

Amanhã serei outra. Verás isso, se assim o desejares, no meu olhar.

Parágrafo

O meu texto só tem mais um parágrafo para além deste.
Já confessei que te quis, que sonhei contigo da inocente Primavera
Até ao ventoso Inverno, já chorei por te ter e por te não ter,
Já te acariciei, já te sorri, já partilhei gargalhadas contigo, noites contigo,
Sonhos contigo.

O meu texto vai ser pequeno, prometo!
Palavras de poeta...
Quem lhes dá valor?
Tu?
Tu não sabes a ânsia de escrever que tenho dentro de mim
Nem o prazer que me dá!

Acabou. Foi um texto intenso e pequeno.

Ponto de interrogação

Naquela noite em que me sentei no mesmo sítio,
Senti os mesmos odores, olhei as mesmas coisas
E proferi "acabou", perguntei-me tantas vezes
Se não poderíamos ter sido felizes juntos...

Não encontrei respostas nas parede frias que me rodeavam
Nem no inocente ser que me confortou.
Lamentei que a nossa relação tivesse terminado assim.
Mas não lamento nem nunca lamentarei ter-me dado a ti.

Meu Amor... Estas palavras não se aplicam mais a ti.
Talvez tenha sido pretensão minha ou talvez ilusão,
Mas nem tu podes negar a nossa "história".

Estou confusa! Não sei o que escrever e nem sei se é isto que quero transmitir!
Estou nervosa e feliz por ter colocado o meu amor num baú e o ter fechado a sete chaves
Para depois o guardar no fundo do coração.
Ainda é estranho! Estava tão habituada a ti, meu Amor!

(Perdoa-me. Não resisti em tratar-te assim pela última vez)

A pergunta está nas tuas mãos. A resposta também.
Eu perdi a memória. Não sei nada e não conheço ninguém.
Agora vou recomeçar.

Vou reconstruir o meu ninho com pauzinhos e folhas.
Vou elevar os meus sonhos para os deixar tombar
Mais uma, duas, três vezes!
Vou pintar o meu céu com novas cores e voltar a colocar
Os meus afáveis pedaços de algodão branco.
Vou voltar a ter um céu estrelado acalentado pelo brilho de uns olhos belos e desconhecidos!

Ponto de exclamação!

Hoje sorrio, Sara!
Sento-me contigo no café do costume.
Frente a frente na mesa ao lado da janela!
O dia está feio.
Sempre lá fomos em dias feios.
Tomamos chá e conversamos.
Vamos lá nos dias apáticos e deprimentes,
Falamos sobre ele e sobre ele,
Fazemos planos sem eles.

Mas hoje encerrámos um capítulo, Sara!
Hoje eu e tu sorrimos!
Ouvimos todas as melodias, cantámos,
Recordámos aqueles momentos que partilhámos.
E sorrimos.
A rádio passou todas aquelas músicas.
Não faltou uma!
Tu querias ir embora.

"Só saímos daqui quando ouvirmos a última música
E enterrarmos de vez essas histórias".
Nós conseguimos, Sara!
Vamos dar ênfase ao nosso discurso
E vamos terminar estes pequenos contos de fadas
Com um (pequeno) ponto de exclamação!

Reticências...

Sempre deixei a minha vida caracterizar-se pelas reticências!
Nunca quis escolher definitivamente.
Sempre perdi demasiado.
Sempre sofri demasiado.

Sempre deixei que alguém tomasse conta da minha decisão
E magoei e feri e matei o meu coração destruído.
Sempre deixei que tu fosses uma narrativa aberta na minha vida.

Mas agora pergunto-te calma e inocentemente:
Sabes o que é uma narrativa fechada?
Se não souberes também não te explico.
Já gastei palavras belas contigo e tu já deitaste os meus rascunhos no lixo.

Agora termino esta história com a ironia que caracteriza a minha mágoa,
Revelo que te quis, que lamento não teres sabido optar,
Mas que te quero bem.

Não preciso de ti

Olhei para a janela e tu já lá não estavas.
Subitamente várias imagens se passearam pela minha mente.
Eu e tu naquela rua, eu e tu em frente ao mar,
Eu e tu sentados lado a lado, eu e tu.

Uma lágrima caiu dos meus olhos negros.
A minha boca proferiu a palavra mais difícil.
O meu coração partiu-se em mil pedaços.
O meu corpo caiu no chão duro e frio das minhas memórias.

Eu e tu sós. Eu a olhar nos teus olhos e os teus olhos a fugir.
Eu a segurar a tua mão e a tua mão a desprender-se da minha.
Eu a cuidar do teu coração e ele a maltratar o meu.

Era de noite. Estava sentada no mesmo sítio.
A olhar as mesmas coisas, a sentir os mesmos cheiros.
Mas a palavra que a minha infeliz boca proferiu foi "Acabou".

Preciso de ti

Salvei-te do teu Destino fatal
E nos teus olhos vejo raiva!
Tu não me vês porque não precisas de mim!
Nos teus olhos vejo ódio.

Eu precisei de ti e não me salvaste.
Fizeste-o propositadamente.
Magoaste-me tanto durante tanto tempo.
Não cuidaste de mim como um dia os teus olhos
Olhando os meus me prometeram.

Mas eu preciso de ti! Como preciso...
Preciso de adormecer a pensar na vivacidade que emanas,
Na destreza do teu corpo, no brilho e na fugacidade do teu olhar.
Sabes, meu Amor, eu preciso de ti.

Preciso de Silêncio

Não sei por que choro.
As lágrimas descontrolaram-se.
Caem silenciosamente desta face morena.
Caem no chão desenhando formas que desconheço.

Xiu! Xiu! Quero silêncio! Preciso de as perceber!
Preciso de as amar para as ter de novo em mim.
Xiu! Cala-te! Sai de junto de mim para que as possa sentir!
Eu não estou louca! Só quero ficar aqui. Em silêncio.
Preciso da raiz, preciso de paredes brancas e de um chão frio
Para descobrir o sofrimento delas.

"Amor! Amor!" - escuto!
Não é o amor que me faz chorar.
O amor é trágico! Nunca me fará chorar.
Apenas me matará.

"Desejo! Desejo!"- escuto!
É a mesma voz! Agora tudo faz sentido!
Vejo um corpo cãndido, as lágrimas caem no peito.
O corpo dele ressuscitou. O meu deu a vida por ele.

Preciso de mim

Hoje preciso de mim.
Escrevi-te aquela maldita carta.
Nunca a irás entender.
Quero-te! Porquê?

Hoje deixaste-me cair na poeira dos meus baús,
Pintaste de um negro assombroso as paredes das minhas nuvens,
Destruíste os sonhos meus e teus
Através da tua arma preferida: o silêncio.

Mas eu não chorei. Mas eu nem sequer gritei.
Eu não reagi.
Voltei a cair na poça de sangue cristalino a teus pés.

Hoje preciso de sorver essas gotas amargas
Que cruelmente me dás a beber.
Ofereces-me uma taça de prata,
Um líquido que é tido como precioso.
E é só.

Preciso

Preciso de te escrever uma carta, meu Amor.
Infelizmente não leste os meus olhos,
Precisas de ler as minhas palavras doces.

Meu Amor, não quero falar de flores nem de dias solarengos de Primavera.
Não quero sequer saber em que mês estamos ou que dia é hoje;
Não preciso que me digas se acordaste com um sorriso.

Preciso de te confessar através destas meras palavras
Aquilo que já tantas vezes te disse em silêncio.
Conheci-te, encantaste-me, conquistaste-me.
Sempre gostei do teu gesto delicado e da firmeza do teu olhar,
Da maneira como me olhas naquelas tardes povoadas de um céu cinzento,
Do azul ou do vermelho que tanto gostas.
Preciso de te confessar que me enlouqueceste, que te quis, que te procurei.
Sempre gostei dos teus jogos de silêncio, dos amuos fingidos, da recente inquietude em ti,
Das tuas paixões, das tuas mudanças, das tuas palavras meigas.
Preciso de te confessar que te amei, mas que nunca o quis dizer.

Preciso agora de te dizer adeus.
Preciso de te deixar um beijo e um sorriso.

Eu não preciso

Eu não precisei de passar para o papel
Aquilo que senti durante estes dias.
Tal vazio me preenchia,
Tal esperança me preenchia
Que fiquei sem palavras,
Sem sangue a correr nas veias da imaginação.

Apenas sonhava com palavras que um dia me irias dizer.
Acreditava que tudo iria mudar.
Acreditava que tu irias mudar outra vez.

Olha o que nos fizeste!
Destruíste o encanto, o sonho,
A vida, tiraste-nos o ar puro que um dia respirámos.

Eu não preciso da tua indiferença nem do teu passado.
Nunca precisei. Sabe-lo bem!
Eu não preciso que geles o meu sangue
De cada vez que proferes palavras insensíveis.

Eu não preciso das tuas mãos más
Que me apertam o inocente pescoço.
Eu não preciso dessas tuas mãos repugnantes
Que me queimam quando me tocam.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Eu sou louca

Eu sou louca! Louca! Louca!
Quero-te e não devia!
Penso em ti e não devia!
Sofro e não devia!

Passo por aquela avenida
E vejo as luzes de Natal a piscar.
Suspiro... Onde estás tu?
Com quem andas?O que fazes?
Qual é o teu nome?
Ainda és o mesmo?

Eu sou louca porque te dedico palavras belas
Que não entendes ou que finges não entender.
Pensava eu que se dissesse que te vou esquecer
Ajudaria a esquecer-te!

Mas ainda mais loucamente te lembro!
Será que tu também te lembras das nossas noites de loucura
Mantidas em segredo para toda a eternidade?
Será que te lembras daquilo que sempre te disse
Quando contigo não falei!?

Eu sou louca! Eu gosto de sofrer e de alimentar as minhas quimeras
Quando me deito e finjo dormir.
Sabes, meu querido, é por ti.
E eu, numa manhã indiferente disse-lhe:
"Há algo dentro de mim que me diz que esta história não acaba aqui"!

Silêncio louco

Peço-te um favor: fala comigo!
Não deixes que este silêncio lance o seu poder maléfico
Em mim e em ti- em nós!

Destrói-o sem dó nem piedade!
Ele fere-nos e tortura-nos e mata-nos!
Ele é sagaz, ele odeia-nos!
Ele quer o nosso sangue!

Este silêncio louco deixa-me louca!
Deixa-me irónica e subtil, deixa-me no reino dos Infernos!
Deixa-me pensar em ti e esquecer-me de mim!

Quebra o silêncio. Só tu tens esse poder.
Tu trouxeste-o, tu criaste-o!
Prova o teu próprio veneno, meu querido!

Alma louca

Alma insana! Pecadora.
Invejas-me, amas-me.
Não me queres. Desejas-me!
Sorris! Gritas-me ao ouvido aquilo que nunca sentiste.
Confundes-me!

Não gosto de ti, mas gosto demasiado de ti.
Entende, meu Amor, não te exijo castelos de quimeras
Nem flores belas!
Não te exijo nada porque não sei se te quero!
Não, eu quero-te!

Oh! Alma louca! Quem te entende?
A minha alma misturada na inconstância e sobriedade da tua!
A minha alma desvairada para te ter abraçada ao teu corpo viril.
É sonho, é utopia!
Tu nem sequer existes!

Grito louco

Ai! Quero gritar palavras mudas!
Quero sentir a voz até que desapareça!
Quero bradar aos céus que me tens na loucura dos olhos teus!

Quero enlouquecer-te de vida, de olhos brilhantes
E estrelas cadentes em noites de Inverno - as nossas noites!
Quero atravessar a fronteira da tua pele morena, do teu corpo ardente
E dar-te o veneno que há muito me suplicaste!

Mas é apenas o meu grito! O grito de uma pessoa que todos julgam louca!
Um grito louco! Uma esperança moribunda de dia e viva durante a noite!
Mas é apenas um grito de alguém que sonha com princípes encantados e chuvas de estrelas!

Inverno louco

Já não reconheço este Inverno!
É tão frio.
Triste. Repugnante.
Mórbido.

Já não reconheço este Inverno.
Não é o mesmo que nos apresentou
E acolheu nos seus deliciosos flocos de neve pura.

Dezembro não tem o mesmo sorriso.
Eu também não o tenho.
Tu roubaste-o. É justo: sempre te pertenceu.

Não mo devolvas! Devolve-me apenas os nossos dias de Inverno!
Deixa-me endoidecer-te outra vez!

Louca tensão

É segredo! Ninguém se apercebe deste clima de tensão no ar.
Só eu! Tu não percebes ou finges não perceber.
Quero fugir desta loucura que alimenta os meus dias e as minhas noites.
Deixa-me!Liberta-me!

Não quero ouvir a música!
Eu sangro ainda mais quando escuto aqueles suaves acordes
Que nos embalaram naquelas noite de loucura.
Não quero ouvir a música que me dedicaste
E da qual já não te recordas.

Não sei o que te dizer, não quero saber como estás.
Mas as pessoas falam comigo sobre ti.
As pessoas dizem-me que te viram.
E eu não te pude ver.

Amanhã vou acordar com um sorriso no rosto.
Um sorriso falso, é verdade.
Mas mesmo assim um sorriso!
Vou sonhar contigo durante todo o dia
Para depois destruir os meus castelos de sonhos
E perceber que nunca mais me falarás.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Momento de loucura

Foi no meu momento de loucura que assumi que te quero.
Nunca quis dizer à minha insolente alma aquilo que ela me havia dito
Anos antes, naquele mês que marca a minha vida.
Novembro, doce Novembro!(Mas era tudo tão diferente...!)

Eu sabia que a tua palavra me sorriria mal chegasse,
Que o som da tua voz quente e macia seria a minha canção de embalar,
Que as promessas que escondias nas respirações incontidas eram só para mim,
Que os teus olhos meigos queriam apenas olhar os meus e...

Ela perguntou-me várias vezes. E eu sempre neguei.
Ela já sabia que eu escondia. E eu nada disse.
Ela voltou a questionar-me. Apenas uma vez.
E eu não neguei.
Foi nesse dia louco que começou a minha trágica e feliz Sorte!

Nesse dia voltei a escutar a tua voz, a observar os teus olhos, a sentir as tuas palavras.
Nesse dia conheci a inconstância daquilo que és, o hino de paixão e ódio que um dia me prometeste cantar!
Nesse dia ri e chorei. Adormeci no palácio utópico que é a minha casa
E acordei na imensidão da dura noite.

Nesse momento de loucura, o meu momento, percebi que eu e tu apenas tínhamos- temos, tivemos.... - uma única hipótese de viver: ou em reinos de luz e harmonia ou então não vivemos!

Loucura

Eu tenho de escrever agora!
É necessidade! É vício!
É retrato de dia cinzento,
Manhã escura de cetim que fere
A pele morena e os olhos êxtasiados
No momento da paixão!

Eu tenho de escrever agora
Para imortalizar as lágrimas presas
Em meu olhar triste e profundo!
Eu quero gritar as palavras que bradam dentro de mim!
Que sede de carvão, de papel, de tinta, de pena!
Eu quero! Eu quero!

E nesta confusão deste meu grito que poucos ouvem,
Esconde-se aquilo que tanto procuro!
Aquilo que desejo e que jamais desejei!

Nada apaga este ritmo que eterniza a magia do corpo
Que ama e fere e queima o teu!
Nada apaga a chama da palavra que jamais te disse
E que ainda está dentro de mim! Que sempre estará dentro de mim
Pronta para ti, meu Amor...

A escrita dos homens

Aquilo que aqueles homens escrevem não me preocupa.
Das suas mãos as palavras tornam-se frias, feias.
Não gosto daqueles homens.
Fazem-me querer procurar uma nuvem de sonho que não existe.

Vi os seus papiros perdidos no tempo
E o meu pequeno mundinho deslumbrou-se.
Tanto cor-de-rosa! Tanto vermelho! Tanto laranja!
Que bela conjugação de cores-
Aquelas palavras daqueles homens enfeitiçaram-me.

Mas existe no mundo um homem que com suas palavras me tem matado
A cada segundo que passa. Existe um homem pior do que aqueles que me iludem.
Existe um homem que roubou a minha essência e a destruíu!
Transformou a minha melodia num mero conjunto de sons.
Escureceu o meu dia. E pior do que tudo: roubou a luz dos olhos meus
Que se alegravam de olhar e ler as suas palavras doces.

São esses mesmos olhos que agora choram a dor da perda.
E não sabem o motivo. Não querem esse fim. Nunca o procuraram.
Sempre fugiram dele.
Sempre o evitaram.
São esses mesmos olhos que agora choram a certeza de um amor que não quer partir.
São esses mesmos olhos que, habituados à escuridão, dela não querem sair.

Os homens são maus. A sua escrita é vulgar - a minha não.
Não gosto deles nem dele.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Alma de escritor

Hoje choro porque a minha alma se define a cada dia que passa!
As lágrimas acariciam a minha face e eu apenas sorrio.
Apenas o olhar brilha!
Apenas todo o ser canta, pula de contentamento!

Ai...não sei explicar!
Tenho algo dentro de mim que me grita querer planar!
Tenho algo dentro de mim que domina o meu reino de fantasias
E me faz bruxa e princesa, e mãe e madrasta, e flor murcha e fruto!

Sei quem fui. Sei quem serei.
Fui aquela que todos feriram,
Fui aquela que curou as feridas.
Serei aquela que cuidará e chorará ao ver as cicatrizes.
Serei aquela que nunca saberá em quem confiar!

Doeu! Mil olhares invejosos cruzaram o meu - tão inocente!
Ai, doeu! De todos vinha a difícil mágoa,
Não tinham palavras, não tinham sangue!
Não tinham fome de infinito nem vontade de desejar!

Se não escrevo...

Se não escrevo o meu sangue pede palavras,
As minhas veias perpetuam aquilo que passeia pela minha imaginação.
Os meus versos desconhecidos apertam o coração que os sente.

Se não escrevo, a minha alma de poetisa neste frio se perde,
Neste frio se gela, neste frio abandona meu corpo ainda quente.
As minhas mãos tremem se o veneno das palavras que te dedico
Não ferem o papel.

Se não escrevo não vivo.
Se não escrevo toda eu sou um poço de nada!
Uma miragem sem contornos,
Alguém deixado ao acaso.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Amanhã tentarei escrever

Amanhã tentarei escrever sobre este momento
Em que me deixas caída na confusão da minha própria Sorte.
Amanhã tentarei escrever acerca das pétalas que me ofereceste
E que, depois, envenenaste.

Amanhã enterrarei a minha obra
E esquecerei para depois me recordar.
Amanhã farás parte de um passado presente
Que não me quer abandonar!
Amanhã tentarei escrever sobre o cruzamento
Do nosso destino.

Mas eu já sei que as palavras me vão faltar...!
Oh!Se sei... Quando pensar em ti para te dedicar os meus versos
Esquecer-me-ei de dizer que não te odeio, que gosto do brilho dos teus olhos
Que fogem, assuustados, dos meu!

Talvez escrevesse

Talvez escrevesse para dizer que te adoro
Ou que simplesmente não te adoro.
É tal o estado de contradição dentro de mim
Que talvez devesse escrever o grito que me percorre!

Talvez escrevesse para exorcizar a minha raiva
Por não ter coragem de te dizer que me magoas
Com esse gesto vulgar
E que, nesse momento, me odeio por saber que ainda te adoro mais.

Talvez escrevesse para contar uma história bela
De um príncipe e de uma princesa que viveram felizes para sempre,
Mas não gosto dessa expressão.
Não gosto do tempo a que se refere: a vida!

Talvez escrevesse sobre ela e aqui deixasse o meu mais profundo lamento!
Talvez escrevesse sobre as flores murchas que uma vez me ofereceste
E referisse o teu sorriso sarcástico.

Talvez te odeie por preencheres todos os versos da minha vida,
Talvez te adore por me fazeres ser cem pessoas ao mesmo tempo,
Talvez te deseje por essa chama viva que tens dentro de ti.

Talvez me odeie porque não te consigo odiar.

Ontem não escrevi

Ontem não escrevi com medo que as minhas palavras
Fossem meros conjuntos de letras.
Ontem não escrevi porque a minha mão pesava
E porque o meu coração estava oco.

Ontem não escrevi por dó do meu estado de inquietude.
Os meus olhos não quiseram ler palavras belas
Nem descodificar enigmas escondidos nelas.

Ontem não escrevi porque não resisti à dor de não o ter.
Ontem não escrevi porque chorei desalmadamente.
E ontem perdi-me e voltei a encontrar-me
No simples acorde de uma viola.

Hoje escrevo

Hoje escrevo sobre um nada que nem sequer existe.
Não sei porque escrevo. Será dom? Será talento?
Será necessidade?
Hoje escrevo sobre algo indefinido, tal como eu!

Hoje ele fez com que eu perdesse o meu rumo
E agora estou perdida.
Ouço a chuva a bater na vidraça, o seu toque intenso
E bruto. Ele fez-me o mesmo.

Hoje escrevo porque o quero, mas não o amo.
O amor constrói-se. Ele só me deixa ruínas
De um sentimento que não o nosso!
Hoje escrevo porque entre nós o silêncio é mais forte.

Hoje escrevo porque choro sem derramar uma lágrima.
E porque meu coração já não existe.
Tenho veneno dentro de mim.
Já não vivo, agonizo esperando a misericórdia dele.

Mas ele é cruel. Ele nunca sentirá compaixão nem dó
Nem piedade. Ele vive o momento.
Ele não me pertence porque eu tenho medo do hoje e ele receia o amanhã.

Refúgio na solidão

Tenho um nó na garganta. Quero falar e não consigo!
Dói-me o peito! Como dói! Quero sentir e não posso!
Dói-me a alma! Quero ser e não sou!

Mas dói-me mais ainda esta noite em que me abandonas.
Passas por mim e rejeitas aquilo que o meu olhar inocente
Tenta, em vão, dizer-te!

Estou tão só! Tão só!
Queria encontrar um país pequenino,
Onde os sonhos são flores e as ruínas deles
Pedacinhos de nuvens que desaparecem quando o sol brilha!

Estou tão só! Preciso de água, de luz, de vento, de cuidado!
Não consigo crescer com todas estas ervas daninhas à minha volta!
Quero-me refugiar na minha semente!

Refugiando-me do medo

Não imaginas o medo que dentro de mim sinto.
Pensas que sou forte e capaz de vencer.
Pensas que sou ousada e que avanço sem pensar que posso escorregar.
Tu não me conheces, meu Amor!

Tenho medo daquilo que não sinto,
Do que não digo e do que digo, do que ouso querer!
Até de sonhar tenho medo!
E esse medo é um gigante que esmaga o meu triste coração.
Em mil pedaços o transforma; com apenas uma mão o apanha
E atira ao ar!

Não sei onde estou! Estou apenas com esse meu medo.
Estou desesperada! Não tenho um sítio que me acolha!

Medo, deixa-me! Não voltes hoje! Hoje não!

Refugiando-me de ti

O tempo passa e tu não chegas;
O tempo pára e tu não chegas;
Olho para aquela porta e tu não chegas.
Volto a olhar e tu não chegas.

Naquela noite deixaste-me voar para depois me roubares as frágeis asas.
Naquela noite deixaste-me a desejar a ternura dos olhos teus.
Olhei para a porta e tu não chegaste.

Não sei o que aconteceu e hoje não o quero saber.
Não sei se lamentaste não me ter visto
Ou se sorriste.
Será que esboçaste aquele teu sorriso de satisfação fingida?

O que nos aconteceu? Seremos, de facto, nós?
Eu quero fugir de ti prendendo-me a ti.
Eu não quero sofrer desta paixão que me amarra brutalmente a ti.
Preciso de encontrar um recanto secreto.
Preciso de um espaço meu.
Assim vivo: refugiando-me de ti e querendo-te junto a mim...

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Refúgio da alma

Aqui jaz meu corpo frágil,
Vagabundo de mim,
Amante daquilo que sou.

Aqui jaz meu corpo inerte,
Fraco. É um no meio de muitos.
Não tem um abrigo, a chuva intensa fere-o,
Mesmo estando morto.

Mas a minha alma junto dele repousa.
Brilha, eleva-se nos céus negros
Rodeados de corvos sagazes.
Mas minha alma junto dele habita!
Desce agora ao refúgio que a acolheu
Quando a madrugada a ofuscou com os seus raios de sol pálidos.

Aqui jazem meu corpo e minha alma.
São dois elementos, são um só elemento,
Uma só matéria, uma só esperança.

E é aqui, neste local frio e pouco iluminado,
Que tudo o que sou morre e se completa.

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

O meu pequeno refúgio

Tenho um refúgio repleto de flores secas.
Há tanta vida! Há tanta esperança!
Tenho um pequeno refúgio que me faz sentir grande.

Tenho um refúgio que me acolhe quando o coração sangra e alma não vive.
Há tanta dor partilhada! Há tantos sorrisos desinteressados!
Tenho um pequeno refúgio que me faz sentir pequenina!

Tenho um refúgio pequenino e sem chave.
Ninguém o encontra! É mágico! É invisível!
Tenho um refúgio pequenino que se revela ao som da minha voz!

O meu pequeno refúgio é tão simples e belo!
Tem um baloiço de sonhos, uma meia-lua de brilho,
Um escorrega de preocupações!
O meu refúgio é só meu!

Refúgio dos sentidos

Vem,meu querido, vem depressa!
Agarra a minha mão na tua!
Prende os meus lábios aos teus!
Prende teus olhos nos meus!

Vem, meu querido, depressa!
Segue a minha voz suplicante!
Acompanha a minha respiração ofegante
De te ter!

Rasga a seda que nos envolve,
Rasga o papel que ainda não te escrevi
E não me digas que sim!
Rejeita o carinho que te quero dar!
Rejeita, se conseguires!
Rejeita a paixão sagaz que por mim tentas esconder!

Vem para o nosso refúgio!
Deixa que eu me refugie na loucura dos teus braços,
Refugia-te na ternura dos meus...

Refúgio

Este é o meu refúgio pequeno e escuro.
É aqui que respiro sem sentir o ar.
É aqui que grito sem ouvir o tom agressivo da minha voz.
É aqui que me habituo à claríssima luz do dia.
É aqui que não calo o sentimento.
É aqui que uma luz ténue não abraça a minha pele.

Este é o meu secreto e misterioso refúgio.
É aqui que a minha dor é esculpida.
É aqui que a minha raiva é transformada em sussurros de medo.
É aqui que o meu instinto é devorado pela minha racionalidade.
É aqui que a minha pele pelo fogo é torturada.
É aqui que o meu ser é manipulado.

domingo, 26 de novembro de 2006

Sem falar

Esse teu silêncio atira lanças ferozes
Contra meu corpo amante do teu.
Esse teu silêncio mata a minha fome de viver,
Cala o meu grito de piedade e compaixão.
Estamos sem falar. É a nossa realidade!

Mas eu não preciso de falar para dizer baixinho que te quero!
Eu não preciso de falar para me convencer que ainda te vou ter!

Nunca te disse que te queria e que te quero.
Nunca a minha boca proferiu tal infâmia!
Nunca as minhas palavras foram escutadas por ti.
Mas sempre os meus olhos te disseram aquilo que pensas saber.

Sem tocar

Não tocaste, meu querido, o cetim vermelho que acariciava a minha pele.
Ontem não quiseste sentir o calor da paixão que por ti sinto
E que me mata e me faz viver a cada dia que passa.
Não, tocaste meu querido, a minha pele que gritava pela tua mão.

Ontem lembrei-me daquele beijo suave, das carícias trocadas
No dia cinzento que acolheu o nosso derradeiro encontro.
Ontem sentei-me no lugar que um dia ocupaste, esperando criar uma noite nossa.
A nossa noite.
Não me tocaste! Como o poderias fazer? Nem sequer me viste,
Nem sequer me quiseste ver! Não me encontraste e nem me quiseste encontrar!

Hoje, guardo na memória as lembranças de um passado presente
Que o meu coração grita não querer esquecer!
Hoje quero falar contigo, mas a minha mente não o permite.
Estou aprisionada a esta ilusão do passado que é o meu amor teimoso do presente.

Sem luz

A nossa chama apagou-se, meu querido.
Apenas nos resta a cera dessa vela que ardeu lentamente
Durante as horas de deleite a que nos entregámos.
Estamos às escuras neste sentimento que morreu
Porque não o protegemos.
Perdão, estou às escuras.

Tu terás a tua chama ainda acesa. Ainda me consegues queimar, torturar com o calor
Por ela emanado. Tu não estás às escuras. Conseguiste roubar a única fonte de luz
Que nos poderia unir.
Não a quiseste partilhar.
Não alimentaste a nossa flor e ela... morreu.

Sem ti

Oh que tonta que sou!
Tudo isto aconteceu por minha culpa, só por minha culpa.
Oh que tonta que fui!
Deixei-me iludir pelo desejo, pelo prazer de te ter!
E de tanta ilusão, acabei por te amar.

Amar, sim. E quando o escrevo, sinto e choro e sofro
E condeno-me por te querer.
E penso em esquecer-te, mas não posso, não quero.
E a cada hora que passa te quero mais e não to posso confessar.
E a cada noite que me abraça te abraço em pensamento e não to posso confessar.

Hoje estou sem ti. Ontem já te não tive. Amanhã não sei,
Não sei se estarei aqui para escrever o fim ou o início desta nossa história.
A minha mão sangra a cada palavra que o meu magoado coração profere.

Sem nada

Esperei pelo hoje e aguardei o amanhã.
O hoje trouxe-me um presente envenenado.
Olho para a porta e tu não chegas.
Olho para o Céu em busca de uma réstia mínima de esperança.

Já sabia que não chegarias. Eu sei quando respondes ao meu chamado - ou quando queres responder -; eu sei quando me queres falar; eu sei quando me queres ver.
Já sabia que seria inútil olhar para a porta diante dos meus olhos amargos.
Tu nunca chegarias.

Minha inquietação nota-se nos meus olhos.
Bailam, cintilam, tentam esconder aquilo que eu nunca te disse, mas que sentes e sabes.
Olho mais uma vez para a porta - a última - e tu não chegas.

O meu amanhã revelou-se ainda mais angustiante. O meu amanhã ecoa na minha mente,
Mantém-me presa, ainda.
O meu amanhã chegou sem eu querer.

Hoje, neste meu amanhã, choro.
Choro no chão duro da tristeza,
Mas acalentada pelo sangue quente
de uma ferida que teima em não fechar.

Hoje, neste amanhã, estou sem nada.

sábado, 25 de novembro de 2006

Sem sentidos

Onde estou? Não vejo nada, não escuto nada a não ser a voz da minha mente.
Não toco nada, não sinto o frio nem o quente. Não saboreio, não sinto o aroma!
Onde estou? Não distingo o amargo chocolate do doce fel da minha existência!
Onde estou? Não tenho sentidos!

A minha incauta pele não sente a seda que a tua mão revela.
Meus olhos ardentes fecham-se quando oiço a tua voz quente.
Já não tenho sentidos.
Nem aquele frio que me persegue quer ficar em mim!

Onde estou? Não vejo, não sinto, não escuto.
As palavras que a tua boca saboreia não deliciam a minha alma nem o meu coração.
São apenas palavras.
Eu preciso de sentir outra vez!

Sem palavras

Hoje não tenho palavras.
Fogem-me por entre os dedos
Tal gotas de chuva em dia invernoso.
Hoje não tenho palavras.
A minha boca está muda.
A minha voz está cansada.
A minha mão na escreve.
O meu sentimento não cresce.

Amanhã não sei se terei palavras!
Oh! Quem me dera conhecer o amanhã!
Amanhã não sei se terei luz, não sei se terei lágrimas
ou se continuarei assim:sem palavras!
Amanhã não sei se terei voz para dizer o que o coração grita.

Esperemos pelo hoje e aguardemos o amanhã.

domingo, 19 de novembro de 2006

Flor artificial

Vi-te de relance!
Tão bela!
Conheci-te!
Senhor, perdoai-me!
Esta flor é nefanda!

Esta flor tem um aroma único!
Esta flor enfeitiça! É demasiado poderosa!
Esta flor é irreal!
Esta flor é bela, mas é venenosa!

Esta flor prendeu-me! Já faço parte dela e não quero!
Esta flor é artificial!
Senhor, ajudai-me!
Não posso ficar com ela!
A minha vida será ainda mais amarga!

Rogo-vos, Senhor!
Salvai-me desta loucura!
Senhor, dai-me vida!
Dai-me vida enquanto é tempo!
Esta flor mata-me a cada instante!

Eu sofro!Eu sofro! Eu, Senhor!
Eu e mais ninguém!
Eu sofro por causa desta flor que crava os seus espinhos
Na minha alma, no meu coração, no meu corpo!

Esta flor emana uma luz que me tem cegado!
Senhor, suplico-vos!
Salvai-me...
Salvai-me...


Senhor, estou cansada...
Senhor, eu estou...
Cansada...
Adeus...

Flor morta

A flor morreu. A flor não resistiu aos dias de chuva forte.
A flor não desistiu. A flor tentou perdoar.
A flor morreu por culpa da palavra cruel
Escrita por essa mão gelada e insensível.

Hoje, celebras a vitória, a tua vitória!
Brindas à morte da flor que era tua - e que sou eu!
Ris cruelmente dos versos que te fiz,
Das palavras doces que do meu ser brotaram.

Hoje é o dia da minha derrota. Um dia feio, chuvoso.
Um dia amargo, pesaroso. Este dia nunca mais acaba.
A lágrima que agora acaricia a minha face compadece-se
Da dor que o meu coração carpe.

Mas amanhã estarei no chão. E lá, esperarei serenamente
Por uma mão dócil e preocupada que me protegerá
E voltará a plantar a minha semente.

Hoje estou morta, não o nego. Hoje estou presa no cárcere
Do meu ousado e utópico sentimento.
Amanhã estarei no renovado chão.
Amanhã esperarei por alguém.

E durante muitos amanhãs crescerei.
Experiente, ferida (ainda..!), indiferente a ti.
Eu sei que me vais querer colher de novo.
E tentarás aprisionar-me.
Pedir-me-ás uma resposta.
E eu, magoada, dir-te-ei: "Talvez te responda".

sábado, 18 de novembro de 2006

Flor murcha

Desconheço o porquê da escolha deste título.
Nem sequer me apetece escrever sobre flores.
Estou invulgarmente amarga.
Hoje não consigo apreciar a beleza.
Flor murcha? Uma entre muitas, talvez.
Não sei e não quero fazer exortações.
Não preciso de divagar no mundo da poesia
Nem de cair no meu próprio mundo de contradições.

Talvez eu esteja revoltada com essa flor.
E talvez eu esteja revoltada porque essa flor é demasiado importante para mim.
Essa flor que me faz ter vontade de viver ou de apenas contemplar a chuva que bate
Na vidraça da janela do meu quarto, prendendo-me no tempo.
Sim, eu admito que estou magoada com essa flor delicada e intempestiva que tem dado um sentido à minha vida. Eu admito que essa flor murcha se tem apoderado daquele amor meu
E o tem transformado em ressentimento.

Essa flor és tu! Tu, a quem eu não chamo "meu amor".
Tu, a quem eu não revelo a importância desse aroma nem do brilho desses olhos de mel
Tão esquivos e sinceros.
Tu!

Mundo florido

O teu mundo é florido!
Sorri!
O teu mundo não é névoa na manhã fria!
Sorri!
Tens um mundo repleto de nadas!
Tens um mundo repleto de castelos de ternura,
Aventuras em barcos misteriosos, tens um pôr-do-sol
Em cada entardecer!
Sorri!

Não te compadeças da minha dor!
O meu mundo é um reino de fantasmas,
Os meus sonhos estão repletos de sombras,
Ruínas de sentimentos.
Não te entristeças com a minha Fortuna!
Vai! Segue o teu caminho!

O teu mundo é azul como a água, fonte de vida!
É vermelho como as rosas da paixão!
É verde como as folhas da esperança!
É amarelo como o sol que ilumina o teu rosto a cada manhã!

O meu mundo é castanho como a terra ignota que ampara o meu choro!
É negro como a noite insaciável que me prende.
É cinzenta como as manhãs de nevoeiro que sorriem para a minha vida.
É lilás como as flores que repousam serenamente nas minhas mãos pálidas, sem vida.

Flor da Vida

Quantas e quantas vezes nos interrogamos acerca da nossa vida? Quantas e quantas vezes derramamos lágrimas de sangue naquele dia estranho em que as horas apenas seguiram a sua ordem natural e nada aconteceu? Quantas e quantas vezes abraçámos a cruel e longa noite que nos diz "Estás só!"? Quantas e quantas vezes pensámos em arrancar a nossa raiz da terra a que pertencemos? Sim, todos pensámos nessa possibilidade. Ninguém o pode negar.
Quantas e quantas vezes quisemos ser novamente uma pequena e frágil semente? Quantas e quantas vezes as nossas lágrimas se uniram num mar de angústia e frustração? Quantas e quantas vezes quisemos mostrar a bela flor que possuimos no recanto mais belo e simples do nosso ser? Quantas vezes quisemos sentir aquele perfume suave e que alegrava o mais cinzento dia de forte Outono? Todos o admitem.
Quantas e quantas vezes te quis dizer que és a flor que aromatiza o meu dia, seja qual for a estação? Quantas e quantas vezes chorei por ver que tinhas arrancado as pétalas da minha flor sem dó nem piedade para depois as tentares juntar? Quantas e quantas vezes recordei aquele dia em que estivemos juntos?
Quantas e quantas vezes quiseste ser meigo e não o conseguiste por culpa dessa lembrança que ainda te atormenta? Quantas vezes quiseste mudar? Quantas vezes choraste ao entender, por fim, que também tu tinhas errado por culpa desse nosso confuso sentimento?
Quantas vezes quisemos arrancar as folhas da nossa flor? Quantas vezes a mão enfraqueceu nesse momento?
Eu sei, não há vida sem essa flor. Eu sei e tu sabes. Ambos sabemos, mas não o admitimos. E quanto mais o imperdoável tempo passa, mais distanciados estamos.
O Outono passou. O Inverno fez a sua entrada triunfal... Agora já a flor está nua.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Flor na madrugada

Pequena e cheia de frio.
Pobre flor! Acolhe a madrugada,
Vive-a.
Essa flor sou eu.
Eu, que ando perdida neste bosque.
Eu, que procuro frutos silvestres
E aromas desconhecidos.

A madrugada, minha conselheira, abraça-me para que não sinta frio.
Protege-me com a sua capa negra banhada pela lua lá no vasto céu.
A terra onde estão as minhas raízes não me pertence.
Eu sou da madrugada.

domingo, 12 de novembro de 2006

Flor

Lembras-te de quando preenchias o meu dia com flores coloridas?
De quando sugavas o néctar divino e mo davas?
Eu lembro-me de todos os nossos momentos mágicos no bosque dos sonhos.
Eu lembro-me, eu conservo o aroma da flor que me deste quando pegaste na minha mão
E deixaste que os teus olhos de mel dissessem tudo o que a tua tímida boca queria esconder.

Aquela flor que hoje guardo no meio do livro das nossas memórias.
Nunca mais o abri. Nunca mais o folheei. Nunca mais li uma só palavra
Que me fizesse lembrar da nossa história.
A nossa essência é sagrada.

Aquela flor escondida no livro que relata a nossa história.
Meu amor, ela terminou.
Choramos a perda, o final do caminho.

Não temos o fruto sumarento na nossa vida,
Tê-lo-emos na nossa morte.
Aí já não existirão lembranças.
Apenas existirá a flor.

Pelos tormentos da intuição

Quero chorar e não consigo.
Tu és mais forte do que as minhas tristes, amargas lágrimas.
Por culpa desta intuição maldita sofro e deixo a minha alma esvair-se em sangue.
Sangue quente, fervoroso.

Por culpa deste tormento vagueio pelos teus tormentos.
Estou fechada numa gruta escura e confusa.
A minha intuição diz-me que és implacável.
És cruel e magoas o meu ser com tais palavras que a tua boca profere.
Feres e fazes com que eu queira chorar. Mas sem conseguir.

É por isso que hoje não te quero. Não me deixas aliviar este sofrimento.
És vil, regozijas. Emanas alegria quando me vez padecer.
E é por isso que hoje te odeio e amanhã te amo.
E assim percorro, sozinha ou contigo, os tormentos desta minha perspicaz intuição.

Intuição camuflada

Eu e tu.Tu e eu.
Não há um nós, apesar de viveres comigo e dentro de mim.
Apenas passeias a meu lado. Já não te deixo invadir o meu
Pequeno e ordinário mundo.
A tua existência resume-se a uma sombra daquilo em que acreditava;
Já não preciso de ti e tu já não precisas de mim.

De tuas mãos brancas me foi dado a beber aquele veneno
Cujo antídoto ainda não descobri. Invadiste o meu corpo.
Morro a cada dia que passa. E por tua culpa!
E por minha culpa! Eu confiei em ti!

Qual será a minha sorte? Apenas esperarei pacientemente
A morte no frio leito que me acolhe?
Apenas continuarei a viver contigo sem te escutar?
Não sei.

Agora já não sei se ainda em mim existes ou se estás apenas camuflada.
Não sei se dissimulas ou se realmente desapareceste.
Só sei que eu não recuperei e que tu destruíste aquilo que de belo em mim existia.

Intuição

Eu, vã alma solitária, tenho um grande poder!
Eu, inocente alma, desejo não o possuir em mim.
Não me agrada possui-lo.
Estou presa a ele; aterroriza-me todos os dias;
Aterroriza-me todas as noites.

Eu, alma intuitiva, não o queria ser.
Só eu sei aquilo que sofro por ser guardiã de tal segredo.
Só o meu fraco e displicente coração conhece o peso de tal fardo.
Eu, alma intuitiva, não o queria ser.

É por escutar aquela voz todos os dias e todas noites
Que choro calada e sem lacrimejar.
É por saber decifrar o enigma que preenche cada dia e cada noite
Que hoje te perdi.

Vai-te embora, Intuição!
Deixa-me, por fim, poder carpir as minhas mágoas
E sentir o peso da lágrima que teima em não cair.

Perdi a minha intuição...

Lágrimas de sangue dão cor ao meu rosto.
Lágrimas encarnadas, ferozes.
A minha pele queima!
Aquele fogo que tem a minha intuição presa
Fez com que eu a perdesse.

Agora já não a reconheço. Já não está em mim.
Já não a sei.
Não.Não a sei.
Ai! Como dói saber que a perdi e que nunca mais a vou recuperar.

O meu frágil e inseguro coração bate descompassado.
Sinto-o dentro do peito. Quer fugir.
Está só sem a minha doce intuição.

Perdi-a.Jamais a reencontrarei.
Perdi-a. Jamais conseguirei acertar o compasso
Deste coração em brados de dor.
Jamais.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

À espera da intuição

As horas do meu relógio passam. Desiguais.
Já não aguento.
Estou há espera há bastante tempo e estou irritada.
Por que veredas passeia a minha intuição?

Ainda não chegou!
Anseio a sua chegada!
Eu preciso de uma pista!
Eu preciso de um sinal divino que me dê forças
Para continuar esta luta sem glória!

Eu quero escrever aquilo que irei pressentir quando ela chegar!
Eu quero que "aquela força" se aposse do meu vulgar corpo!
Eu não quero ser eu! E nem quero pensar nem ser racional!
Eu só quero ser um corpo intuitivo.

Estou à tua espera. Não me deixes aqui sozinha.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Intuição a média luz...

Meus sentidos apuram-se no local a que chamo casa.
Eu sou a minha casa.
Conheço todos os meus recantos.
E todos os dias me surpreendo
Com os objectos que lá encontro.

Eu gosto de me perder em mim durante o crepúsculo.
A combinação das luzes do dia e da noite é perfeita.
Distingo a minha sombra e o meu corpo.
Consigo ver o brilho do meu olhar reflectido no espelho
Que me cobre.

A minha intuição diz-me que esta luz me revitaliza.
Mostra-me aromas ignotos, sabores exóticos.
Um novo mundo de sentimentos sem nome.
Apenas com uma existência!
Estou perto, muito perto de os reinventar!

Intuição feminina...

Não tenho certeza, mas sinto.
Sinto e não queria sentir.
Não gosto destes presságios.
Preferia não estar certa de que
O que receio irá acontecer brevemente.

Tenho medo, tanto medo.
Medo de te perder, de nunca te ter
Por completo para mim.
Estou assustada.

Aquilo que sei e aquilo em que acredito
Misturam-se na fusão das almas e dos corpos
Que se tocaram na tarde fria e escura
Daquele dia em que eu fui eu e tu foste tu.

A minha intuição de mulher, de fêmea
Diz-me que és meu sem o seres!
A minha intuição não engana o pobre coração
Que bate lentamente, ao som da valsa de Strauss.

Não escondi o teu retrato

Juro que não fui eu.
Mas perdoa-me.
Imploro-te!
Não fui eu que escondi o teu retrato.

Eu não te quero esquecer nem apagar aquilo que és.
Não tenho razão para esconder o teu retrato.
Um retrato a carvão, indefinido.
Eu não me quero esconder de ti.

Não quero perder esse aroma extasiante,
Quero viver nesse nosso delírio que é nosso.
Não quero perder o porto seguro que me abraça
Todas as madrugadas.

Juro, não fui eu que escondi o teu retrato.
Não te esqueço. Ñão matei aquilo que temos vivido.
Ontem e hoje, mesmo longe.

Nao, meu querido, não escondi o teu retrato.
Também eu faço parte dele, de ti.
Não me quero esconder daquilo que sinto.
Hoje tenho a certeza disso. Amanhã não sei.

Retrato-te em mim

Não és a minha fonte de inspiração.
E nem eu sei qual é ela.
Não és perfeito,
Não és ideal para mim.

Mas por alguma razão que desconhecemos,
Eu retrato-me em ti!
Não queria! Não queria!
Singularidade de tons outonais,
Contraste de encarnados.
Sangue, carne.

Olhar fugidio - o meu e o teu.
Olha para mim. Olha para dentro do meu olhar e vê o reflexo do teu.
Naquela tarde de Outono - sempre o Outono... - eu fui tua
E tu foste meu.
Naquele abraço suave que me prendeu nos teus braços
E me fez acreditar no delírio que os nossos corpos - o nosso corpo - sofreu.

Retrato as tonalidades azuis que brilharam na nossa tarde.
Recordo o metal, o toque, o contacto.
A minha mão na tua.
A minha boca desejosa, impaciente por beijar a tua.

Retrato

Olho para o teu retrato e uma vontade
De chorar e sorrir invade o meu rosto triste.
Não estás, é verdade.
Tu não estás e eu choro.

Choro todos os dias ao olhar para o teu retrato.
Expressão subtil, não sei qual a cor dos olhos,
Não sei qual a cor do cabelo.
Parece cinza. Um cinza raro.

Não sei qual é a cor do fato que usas - azul, penso que é azul-,
Não sei em que pensavas - seria em mim? -,
Não sei.

Só sei que a dor me dilacera naquelas noites em que, sozinha,
Em frente ao teu retrato - e contigo - a minha mágoa tira o véu
Casto e singular que a cobre.

E ali estou. Só. À tua frente. Completamente nua de sentimentos outros.
Só a magoa, a dor e eu.
Sim, e tu!

O teu retrato

O teu retrato está vazio.
Não tem cores.
É apenas a tela branca e rude.
O teu retrato está vazio.
Mas não é vazio
Porque é teu.

E tu nunca serás vazio.
E tu nunca foste vazio.
Nenhum momento contigo foi vazio.
Nenhum.

O teu retrato pertence-me.
E sempre me pertenceu
Porque eu tenho as aguarelas que me deixaste.
Porque eu tenho a tua alma em mim.

Retrato de João

Eu queria escrever sobre João.
Mas as palavras custam a sair do coração.
A mão pesa quando agarra a caneta.
A tinta é rastro de sangue, dor.

Na mente a imagem desfocada.
Eu era pequena.
Mas grande também.
Tenho o aroma guardado,
O sorriso.

Tenho os longos passeios na praia guardados em todo o ser.
Memória ou talvez ainda realidade.
Dá-me a mão. Não, não é legítimo proferir tais palavras.

Nunca a largaste.
E esse retrato, preso no tempo eu que parámos, mas que continuamos a viver,
Não se desgasta.

terça-feira, 31 de outubro de 2006

Presa no meu retrato

Quantas vezes vou olhar para o meu retrato?
Quantas vezes vou ver o passado através dele?
Serei eu capaz de exorcizar os fantasmas que pairam naquela tela?

Expressão impenetrável.
Olhos atentos, discretos,
De uma cor de terra negra.
Mão delicada pousada na perna.
Unhas vermelho sangue.
Dor e prazer.

Postura correcta, perfeita.
Quase celestial.
Apenas um retrato.
Pequeno fragmento de realidade.
Dissimulado com a preciosa ajuda das tonalidades que o preenchem.

Presa nele, só nele.
Apenas nele.
Será nele?

Último olhar

Diz-me se esse derradeiro olhar é verdadeiro.
Se é para mim.
Diz-me, meu querido, rogo-te.
Acaba com este nosso sofrimento.
Olha-me nos olhos e pede-me perdão.
Faz com que eu irradie felicidade.
Sê sincero agora.
Depois será tarde.

É a última vez que te olho.
É a última oportunidade.
Está nas nossas mãos.
Mas, como sempre, vamos fugir de nós mesmos.

Último odor...

Eu estou aqui e sempre estive.
Tu foste embora.
E partiste sem mágoa nem arrependimento.
Seguiste o teu caminho.

Na nossa casa, meu amor, deixaste o teu perfume.
Já mudei móveis, pintei paredes, colori os meus próprios sonhos,
Dei vida, renasci.
Mas o teu odor persiste. Não só na casa, na nossa casa, como em mim!

Ai! Como dói! Doce e amargo. Suave e agressivo.
Terno, agreste.
Tu e o teu odor.
E eu, castelã dessas horas amargas em que vagueio pelos nossos recantos
E desfaleço. Porque sinto o teu perfume silvestre.
Porque te sinto.

Último silêncio

Recuso-me a proferir qualquer palavra sobre esse silêncio.
Não quero.
É só meu e de teu. De mais ninguém.
Recuso-me a manchar esse momento tão fugaz das nossas vidas.

Mas a tua boca ardente pede que cale aquilo que o coração diz
E que aja. E que te diga que te quero. E que te não quero.
E que te desejo. E que não é só isso que sinto.

Dentro de mim há silêncio. Um silêncio imperial
Que exige que decifres este enigma.
Um silêncio preso a mim e que me tem presa.
Um silêncio que queres quebrar.

Recuso-me a deixar-te quebrá-lo.
Tu vais-me magoar.
Vais bater no meu corpo frágil,
Apertar-me os pulsos finos e doloridos
Até que eu não sinta a dor.

E vais magoar os meus olhos.
Porque eles vão ver a tua crueldade
E a tua doçura.
A tua loucura e o teu pranto.

Último anjo

Trago no meu peito o teu anel.
Está preso a mim.
Não pode uma vida acabar aqui.
Um anjo subiu aos céus.

As lágrimas que os meus olhos ferem
Não ferem mais que o coração.
Mas ele pesa. A dor é tão grande.
Insuportável, divina.

Sou eu, meu Anjo, merecedora deste Bem e deste Mal?
Terrena sou e a mais não aspiro ser.
Trago no meu peito o teu anel.
Bem perto da minha pele.

Anjo meu, que velas o meu descanso,
Suplico-te! Volta para mim!
Não me deixes entregue ao ferro ferrugento
Que aqui habita.

Volta.

Última noite

Não haverá outra igual!
Nunca mais!
Não haverá chuva de estrelas como aquela que nos acolheu
Em seus braços protectores.

Os violinos não dançarão no mesmo compasso,
A brisa não soprará com tanta leveza.
Os passos não se enquadrarão naquele nosso espaço.
Não, meu amor.
Não.

E na inconstância dos afectos, aquela noite foi celebrada.
Na imprevisibilidade do momento,
Na loucura do pensamento
E na certeza do sentimento, querido.

Foi a nossa última noite.
Agora eu estou sentada no frio chão
A carpir as mágoas e desejar a noite que não volta.

Agora tu estás dentro de ti a encontrar um rumo,
Misterioso, subtil...como sempre.
Não te conheço de outra forma.

Última vez...

Foi a última vez que falámos.
A última vez.
Nada mais do que somente a última,
A derradeira. A cruel.

Eu estava feliz. E pensava que tu também estavas.
Até já.

Foi a última vez que falámos.
Depois disso, tu já não eras tu.
Eu era a mesma.
Sempre misteriosa e receosa.

Maldito até já! Maldita mão que o escreveu!
Maldito coração que o sentiu.
Maldita carne sedenta de gozo...

A derradeira. Agora tu estás feliz e pensas que eu também estou.
Mas não. Ai não!
Agora não sei se a minha mão voltará a escrever.

E se ela não escrever até já, escreverá adeus.

Última paragem...

Sabes, este é o meu último poiso.
Já não tenho idade para continuar o meu rumo.
Estou cansada. Muito cansada.
Não tenho forças.

Antes, era vivaz! Percorria os trilhos do desconhecido
Com uma sagaz vontade de viver.
Era a sonhadora do Mundo.
Abraçava a noite como quem brilha no seu próprio êxtase!

Hoje sou um farrapo humano.
Mas tenho memórias.
Curiosas memórias. Tristes memórias.
Mas mesmo a memória me falha.
E caio no vazio do esquecimento.

Este assento etéreo é a minha última paragem.
Aqui tentarei recuperar a alma...
O corpo já não tem solução...

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Não alcançaste o êxtase...

Não, não alcançaste o êxtase.
Não, eu sei que não.
Porque não o quiseste.
Tu eras capaz.

Só tu.Tu, tu e tu.
Mais ninguém.
Eu sou apenas o teu anjo da guarda.
Eu deixo-te escolher e deixo-te errar.

Não alcançaste o êxtase porque és covarde.
Tens medo de ti. Tens medo de tudo.
Não lamentes.
Age.

No fim do êxtase

Assim chega o fim.
Assim, do nada.
Momentos de extremo prazer
Perdidos no silêncio daquela noite.

As horas passaram, demarcando o cruel Tempo.
Impiedosas. Vis.
Eu e tu já não nos conhecemos.
O nosso trilho acabou.

Tu, meu amante, deixaste que a frieza do teu gesto
Entristecesse o meu olhar.
Já não há brilho.
A felicidade acabou.

Tu és o culpado.
Mas mudemos de assunto.
Este já não nos pertence.

domingo, 22 de outubro de 2006

Êxtase do Nada...

O que é? Não é nada.
O que sente? Nada.
Quem é? Nada.
Nada.


Mas sente-se ao rubro.
Leve e solto. Seus passos não se percebem
Na confusão da cidade.
Não é nada.

Sua alma de vis gestos se desprendeu.
Já não possui nada.
Assim, sorri sem ser nada.
Vive sem ser nada.
Sente sem sentir nada.

É um Nada, um sem-abrigo da saudade.
Um corpo feito de nada no meio
Do nada que é a urbe.

Está em êxtase e não sente nada!
Quem continua a ser?
Nada!

Êxtase no mundo

O que aconteceu a estes humanos?
Estão loucos.
Agora pensam com o coração!
Estou estupefacta!

Onde estão as atitudes nefandas?
Onde estão os olhares reprovadores?
Onde estão os sorrisos amarelos?
Onde estão os gestos fingidos?

Estão em êxtase!
Descobriram um mundo mágico,
Um mundo de sonho e de alegria.
Um mundo de brilho.

E eu, pequena aspirante a escritora, observo-os
E sorrio para o grande mundo.

Êxtase Sagrado

És tu meu deus perfeito.
Não és belo, mas atraente.
Teus olhos cor de terra trazem o aroma
Silvestre dos dias de outono.

Estás nesse altar sagrado
Que te dá o trono
Do meu ser.
Estou dominada por ti.

Cheguei ao meu limite!
Que sensação de nada que me invade!
E estou feliz!
E sinto todo esse desejo

És o meu deus, mas estás ao meu alcance.
Podes cair no meu leito gentil.
Podes adormecer em meus braços
E sonhar...

Êxtase momentâneo

Não é mais que felicidade!
Não é mais que dor!
Não é mais que prazer!
Não é mais que um momento!

Ai...o que me aconteceu?
Estarei no Céu?
Estarei na Terra?
Ou estarei no doce Purgatório?

Mas agora reparo...
Onde está aquele meu momento?
Não o vejo, não o sinto!
Apenas o relembro.

Passou. Passou tal como o sorriso
Que encantava o meu rosto.
E agora, estou prisioneira do meu Passado...

sábado, 21 de outubro de 2006

Saraivada de Descontentamento

Sim, descontentamento. É isso que povoa o coração de todos e de cada um. É um misto de tristeza e amargura que dilacera cada ser. É a chuva de horrores do quotidiano, é o drama que assola o ser humano.
E porquê? Por várias razões: por vários dias sem sol e sem brilho, por várias noites passadas em claro no silêncio da casa escura e vazia; por olhares maléficos, beijos pérfidos e venenosos.
Pessoas que choram em silêncio, que gritam em silêncio. E, lá fora, a saraivada continua, seguindo as ordens do Senhor. Lá fora, imperiosa e serena. Arrasa, destrói, purifica, emana protecção.
Mas o descontentamento persiste. Maldito! Filho de Satanás, obra vil da Mãe Natureza, verme. O ser humano não resiste. Está atado ao Presente, não tem Futuro. Apenas a luz forte dos amargos relâmpagos...

Saraivada de Emoções

Agora! Que momento vivi!
Vivemos! Agora mesmo!
Não descodifico os sinais no meu corpo,
No meu coração!
Ai...estou confusa!

Sei que te quero, mas não sei se te amo!
Se te amo!! Como ousei proferir tal coisa?
Não posso! O amor constrói-se e nós apenas
Temos grãos de sonho e de desejo!

Tantas emoções ao mesmo tempo!
Tantas! Não as distingo!
Perco a noção do real!
Perco os sentidos!
Ai! Saraivada de emoções!
Trovoada, relâmpagos,
Luzes em mim!
Luzes em nós, mas continua tudo escuro...

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Presa na saraivada de sentimentos

Ai! São tantos! São tantos e tão diferentes!
Não sei...! Estou aqui presa, presa em mim
E presa ao que sinto.

Tenho medo! Tanto medo de dizer aquilo que sinto.
Tenho medo de construir castelos de sonhos
E de depois apenas poder observar as ruínas.

Mas, se eu construísse esse meu castelo,
Iria ficar prisioneira na torre.
Seria uma prisioneira dos meus malvados sentimentos.

Será que já o não sou?
Fui condenada a uma pena demasiado pesada!
Quero justiça! Quero voz! Quero tirar estas algemas
Que ferem os meus pulsos fracos.

Não quero sofrer...
Ai..não quero.

Saraivada de carícias

Eu quero que aquela noite volte.
Eu quero sentir outra vez o teu abraço,
O teu cheiro.
A tua respiração.

Não sei o porquê, mas aquela noite estava escrita
Nos cadernos divinos. Não houve rascunho.
Apenas a obra completa, em bruto.

Quero as tuas mãos suaves.
Quero o teu gesto meigo.
Os beijos lânguidos,
Quero aquela noite.

Quero aquela noite sem chuva,
A noite perfeita.
Quero aquela noite sem chuva,
A noite imperfeita.

A carícia, a ternura, o sorriso.
O toque nos cabelos,
Confusão de sentidos.

Acabou.

Saraivada ao som da poesia

São versos! São versos que me preenchem, meu Senhor!
São rimas, são palavras que me invadem!
É a chuva fria que me inspira!
É esta loucura!

São vogais e consoantes que percorrem as minhas veias!
Sou em a sentir sem sentir!
É a minha mão que escreve aquilo que me complementa!
São versos! São versos que me preenchem, meu Senhor!

É este céu negro, esta flor murcha!
Este rosto pálido e amargurado!
É esta floresta sombria, luminosidade irreal!

Sou eu em mim!Hoje e Ontem!
Eu no Tempo sem ter Tempo!
É imaginação e é realidade!
É poesia!

Noite de Saraivada

Vejo a chuva forte que cai.
Estou na minha casa.
Na minha casa envidraçada.
E adormeço com as estrelas.

Adormeço com um sorriso.
Sinto-me estranhamente calma.
Os acordes melodiosos velam o meu descanso.
É a noite mais serena de sempre.

Sonho com o impossível.
Quero lá chegar, mas não consigo!
Ai! Quando estou prestes a alcançá-lo...
Acordo do meu mundo.

E mergulho na noite do dia que nasce.
E agora já não vejo a chuva.
Sou fustigada por ela...

domingo, 15 de outubro de 2006

Saraivada de Sonhos...

Criança, tantos sonhos!
Tantas horas perdida no teu mundo de fantasia.
Apenas tu e a quimera.
Um só.

Há já muito tempo ouvi, por aí,
Quando estava perdida, que
"O sonho comanda a vida".
Não. Eu não ouvi. Eu escutei.
E segui o conselho.

Mas a vida não me trouxe ventura.
Acreditei em vão.
Hoje sou um pedaço de nada.

Criança, tu és diferente!
És vida-não horror!
És felicidade!
Tu podes sonhar!
Só tu!
Deixa que uma saraivada de fantasia
Percorra a magia do teu grandioso ser.


E sorri para o teu sonho...

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Memórias esquecidas

Eu arranquei sem dó nem piedade
Essas memórias de dentro de mim.
Eu fui cruel.

Eu magoei-me.
Eu e apenas eu.
Não foi mais ninguém sem ser eu.
Eu fui vil.

Eu decidi ser coerente.
Eu quis e tentei ser.
Não sei se consegui.
Não sei...

Quero transformar estas memórias.
Quero que nunca mais façam parte de mim.
Quero esquecer.
Esquecer.

Mas eu não sei esquecer.
Eu não me sei perdoar.
Eu não me vejo coerente.
Eu não me vejo racional.

Mas eu sei que o sou.

O silêncio das memórias

Não proferem uma palavra.
É demasiado doloroso.
Não gritam.
É sufocante.

Memórias caladas ao longo dos tempos.
Feridas em sangue, não saram.
Permanecem, ferem.

Memórias tristes e displicentes.
Volúveis, vulneráveis.
Sorridentes e dissimuladas.

Um grito em silêncio, finalmente!
Não ouvi. Não quis ouvir.
Já não me lembro...

As velhas memórias...

As velhas memórias misturam-se com as folhas acastanhadas
Do Outono. Fazem parte do vento agreste que fustiga o meu coração.
As velhas memórias, cobertas de pó e teias de aranha, estão no sótão.
Estão sós e apertadas naquela caixinha de madeira.

As velhas memórias são minhas, que vivo.
São minhas, que choro.
São minhas, que não amo.

As velhas memórias daquele olhar tão meigo
São minhas. São minhas as memórias do segundo toque na pele
Na hora do adeus.

A vida das memórias

Disseram-me que as memórias têm vida.
Será?
Disseram-me que as memórias sofrem?
Será?

Disseram-me que os momentos deixam marcas indeléveis.
Porquê?
Disseram-me que também eu faço parte de uma memória.
Porquê?

Quem serão elas? Terão nome próprio?
Terão sentimento? Terão vontade?

Elas existem.Eu não sei.
Talvez nunca tenha sabido.
Porque também eu não sei o meu nome nem o meu sentimento.
Nem eu sei quem sou...

Memórias da noite

Não chegues, Noite.
Não me faças recordar aquelas horas de felicidade.
Não me envolvas na ternura dos momentos
De magia.

Noite, não me abraces hoje.
Não me faças voltar atrás no tempo
E situar-me na noite outonal
Em que a história começou.
Não me faças reviver aquele sinal
Que, sem eu querer, me tem dominado.


Noite, não te aproximes de mim.
Não me faças querer tocar os dourados, castanhos e vermelhos.
Não me faças sentir aquele frio.
Hoje não...

Memórias perdidas

Na floresta de horrores se refugiam.
Sós, isoladas, desprovidas de bem e de mal.
Apenas instinto de sobrevivência.
Perdidas, ainda vivas.

Árvores de copa frondosa acompanham o ritmo lento.
Olhos reluzentes, atentos.
O que acontecerá a seguir?

Não sabem as memórias.
Não têm rumo dentro de mim,
Floresta. O tudo e o nada transformam-se no elixir da vida.


Sei que estou perdida, mas sei onde estou e quem sou.

O Sorriso das Memórias

Eu lembrava-me daquele tempo
Em que sorria
E imaginava
E atropelava os pensamentos.

Eu lembrava-me daquele tempo
Em que acreditava
E concretizava
E tinha a alma nas mãos.

As minhas memórias sorriem
E choram.
As minhas memórias guardam
Aqueles sonhos e vidas
No cantinho mais recôndito.

Mas as minhas memórias
Não se querem lembrar...

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Apenas mutação

Não é nada.
Apenas um conjunto de nadas
Que não passam de uma simples mutação.

Eu fora, eu era, eu fui.
Eu sou, eu serei.
Eu seria.
O quê?

Não sei!

Não reconheço a minha luz
Nem as minhas feições.
Não reconheço as pétalas
Que cobriam um corpo ardente.

Ser em Mutação

Eu não quero mudar - mas mudo.
Eu quero ser assim - mas não me deixam.
Eu desejo ficar presa no tempo - o meu relógio insiste em avançar.
Eu desejo não me mover - mas o meu corpo não me acompanha.

Vivia indiferente, não sentia.
Apenas era eu.
Quem não sei.
Mas eu.

Era ser, era fogo brando, era uma no meio de muitas.
Sou essência, fogo aceso.
Sou instinto.
Tenho fome de sobrevivência.

Sou eu sem ser eu.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Mundo de mutações

Mundo gigante!
Mundo aterrador!


Deixa-me abraçar-te!
Deixa-me entrar no teu hemisfério de mutações!
Hoje não quero ser diferente!

Hoje, és tudo o que quero.
Amanhã não sei.
Não me preocupo.
Apenas quero sorver a tua energia de hoje
Com urgência.

Quero-te porque és azul e amarelo,
És branco e lilás!
Quero-te porque te modificas.
És verde e és vermelho,
És preto e és salmão.

E porque hoje és o meu mundo...

Mutação do Mundo

Ontem o mundo era triste.
Ontem era um local soturno.
Ontem eu era uma pessoa no mundo.
Ontem eu era o mundo numa só pessoa.

Hoje não sou nada!
Hoje não sou o mundo!
Hoje não sou pessoa!
E feliz assim me sinto!

Não tenho limites, não tenho pecados.
Apenas vivo sem ser alguém!
E assim o Mundou sofreu uma mutação.

Eu fui o instrumento!
Não escolhi, fui escolhida!
Não deliberei, alguém o fez por mim.

Alguém trocou as setas dos destinos do Mundo
Usando o meu ser.
Eu não o sabia,
Mas é assim que me sinto feliz!

domingo, 24 de setembro de 2006

Mutação dos sentimentos

Esta noite será longa.
Esta noite será amarga.
Esta noite é necessária.
Esta noite é minha.

Esta noite sofrerei uma mutação.
Esta noite chorarei.
Esta noite sofrerei.
Apenas esta noite.

Esta noite serei um céu sem luar,
Serei uma manhã povoada de nevoeiro,
Serei um galeão afundado,
Serei as decrépitas cinzas de uma fogueira.

Esta noite marca uma nova etapa.
Esta noite sei que te perdi.
Esta noite sei que nunca mais pensarei em ti.
Apenas esta noite.

Esta noite não vou adormecer.
Esta noite vou deixar o meu pensamento ser livre.
Esta noite vou recordar.
Esta noite vou esquecer.

Amanhã acordarei e já não serei eu.
Amanhã mudarei.
Amanhã.

Mutação dos sentidos

Vejo cores, muitas cores!
Várias tonalidades!
Várias gamas.

Distingo sons!
Agudos, graves.
Distingo o profundo e agradável som do silêncio.

Degusto a vida que passa por mim,
Magoando-me e fazendo-me sorrir!
O sal das lágrimas que escorrem pelo meu
Pálido rosto.

Distingo cheiros!
Uns adocicados, outros silvestres.
Uns repletos de primavera, outros de inverno.

Toco no proibido, no infinito!
Que sensação.

Todos se misturam, todos me alegram.
Mas todos me confundem!
Passo a ver o infinito,
Degusto as primaveras e os invernos,
Cheiro o silêncio,
Toco nas cores,
Escuto a melodia melancólica da vida.

Mutação errónea

Deambulando pelos caminhos da vida,
Possuindo coragem, um olhar curioso.
Transformando o amargo em doce,
Sofrendo, acalmando a saudade.

Observando a vida, simplesmente fazes uma pausa.
Sentes a tua respiração.
Eu sei, precisas de te encontrar,
Mas não sabes qual o teu caminho.

Atiças a raiva que afinal também possuías,
Espalhas o dissabor e a mentira.
Atiras flechas de dor.
Não és tu.

Tu sonhavas! Tu bailavas ao som da tua música!
E agora?
Onde estão os teus desejos?
Não sabes! Eu também não sei.

Sei que mudaste...
Sei que não te reconheço.
Sei que o veneno humano circula nas tuas veias...

Prisioneira do Desejo

Não me posso mover.
Os teus olhos ardentes petrificam-me.
O movimento do teu corpo
Acompanha o meu.

Sei que não posso, que não devo
Ser tua refém.
Contudo, gosto do meu cativeiro!
Gosto dos momentos passados
A ouvir a chuva
Ou simplesmente em silêncio.

O teu cheiro persegue-me,
A minha boca procura a tua.
Amo-te sem te amar.

Desejo.

domingo, 17 de setembro de 2006

Solitária

Um local sombrio, escuro, agradável.
Uma punição, o equilíbrio.
A paz há muito desejada penetra
Na imensidão do ser.
Solitária, voraz - a noite que permanece
Durante vinte e quatro horas.
Apenas um feixe de luz ultrapassa o obstáculo.
Apenas um raio de Sol tem permissão
Para acariciar a face áspera
Que se esconde ali.

Sozinho, mas não só.

Grades da Razão

E se eu removesse essas grades
Que impedem a Razão de planar?
E se eu, num simples gesto, destruísse
Essas barras de ferro que confundem os sentidos?

Grades da Razão, mantêm-na prisioneira
De um querer que não o seu.
Guardas atentos, perspicazes.
Celas escuras, frias.

E se eu renegasse esta ideologia?
E se eu quebrasse esta minha Razão
E deixasse fluir a Vida?
E se eu mentisse a mim mesma?

Tudo seria peculiar.
Ficaria cega pelo sol que, de vez em quando,
Me visita; ficaria queda, sem reacção.
Existiriam duas prisioneiras: eu e a Razão...

Presa no Tempo

Algemada aos minutos lentos
Que atravessam este meu relógio.

Terríveis ponteiros.
Cada movimento marca o início
De uma dor.

Presa no tempo que insiste em não passar.
Presa no tempo que não passa sem deixar
Marcas profundas de mágoa e desespero.

Mas contra mim não tenho forças para lutar.
Não sei distinguir o certo do errado,
O bem do mal, a noite do dia.

Para mim tudo é igual, tudo me é indiferente.
Tudo menos o tempo.
Esse gigante que insiste em arrancar pequenos
Pedaços de sorrisos que ainda existem em mim...

Reclusa Inocente

Tu, criança dos olhos de água,
Almejas sonhar tranquilamente
Com mundos encantados e sem dor.

Tu, criança matura, queres dar asas
Ao teu hemisfério de cores.
Mas ainda não podes.
O teu mundo é apenas preto e branco.

Estás presa dentro de uma frágil bolha de inveja.
Ninguém te ajuda.
O teu gesto meigo há muito se perdeu na linha
Doirada do horizonte.

Presa dentro da tua pátria.
Condenada a uma vida que não é tua.
Mas estás inocente.

Prisão de Sentimentos

Raiva. Posse.
Não me consigo libertar
Destas algemas de amor.
Estou presa a ti.

Ciúme, muito ciúme circula nas minhas veias,
Possuindo.me, arrastando-me para um mundo irreal.
O meu pensamento voa,
O meu sentimento fere-se em cada ideia que surge.

Tu e talvez mais alguém.
E eu sei que sofro, mas não me consigo libertar.
O meu olhar não consegue deixar de te procurar
Em todos os locais, mas não encontra ninguém.

São sentimentos de impotência, incerteza
Aos quais estou presa.
As chaves desta minha amarga cela
Estão perdidas no meio do baú da minha Vida...

Prisão

Olhos semicerrados.
Sem brilho, sem entusiasmo.
Quatro paredes me cercam.
Grades impedem-me de planar.

É este o meu passado, presente e futuro.
Um conjunto de dias ocos em que aproveito
Para reflectir.

Sinto frio, muito frio.
Não faz sentido continuar aqui.
O tempo não passa, torturando-me.

É nesta prisão escura e aterradora
Que existo.
É aqui que pereço diariamente...

Fabrico de Vidro

Vidro. Milhões de grãos de areia.
Mas apenas vidro.
Não brilha.

Fabricado apenas porque é preciso.
O acto já está cravejado na essência.
Não é possível descodificar o reflexo
Do ser que se aproxima.

Não é possível ler os olhos marejados
De lágrimas, a testa enrugada,
a tremura das mãos delicadas.

Nada é possível.
Nada é seguro.
Nada é nada.

Areia fina

Véu de areia fina
Que não me deixa ver a verdade
Que se apresenta diante dos meus olhos...

Eu não quero afastar esse véu.
Prefiro continuar a ter visões,
A ver sombras do deserto
Que simplesmente não existem.

Mas têm corpo, têm alma.
Mas têm essência.
Projecto-me,
Sou quem não sou.

E essa areia está de tal maneira
Impregnada em mim que é capaz
De me transformar numa escultura rude.

E assim permaneço.
Eu, o deserto, o sol abrasador,
As noites frias, o resistente camelo...

Jactos de Areia

São balas que dilaceram tudo aquilo que sou,
Que me transfiguram, que me fazem cair
Violentamente no chão áspero que se denomina
Vida. A minha vida.

Todos os fragmentos de maldade
Me perseguem, vorazes.
Desejoso de encontrar um alvo fraco
A abater.

Jactos de areia quente, fria, tépida.
Jactos de areia que não se compadecem da
Minha mágoa.

Já não sinto nem quero sentir.
Apenas respiro calmamente.
Espero o momento em que o relógio parará
E me chamará para dizer as horas...

Areias do Deserto...

Quentes, abrasadoras.
Poderosas.
Carregam o peso da História,
o peso da Vida.

Areias do deserto que acariciam
O horizonte longínquo e inalcançável.
Areias do deserto que ferem o Presente,
O Futuro.

Areias calmas, plenas de equilíbrio
Dentro da imensidão.
Areias agitadas, enfurecidas,
Loucas.

Apenas areias, apenas deserto.
Apenas matéria.

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Areias movediças...

Não posso ser eu!
Não quero ser este "eu"!
Esta não é aquela que caiu na tentação
De explorar o desconhecido.

Não posso ter sido engolida por estas areias impuras.
Mas permiti-me cair na armadilha.
E talvez, na altura, o tenha feito conscientemente.

Sim, eu fi-lo. Apenas queria ser diferente,
Mudar o rumo da vida.

Não calculei o risco.
Não soube parar de desafiar o que está acima de mim.
E acabei por atrair o azar.
Acabei por ficar presa nas areias movediças da minha própria Sorte.

Apenas isso...

Simplesmente areia...

Eu não quero chorar.
Eu não quero rir.
Eu não quero sorrir.
Eu simplesmente não quero.

Eu quero ficar assim-adormecida.
Eu quero sentir o frio que me invade.
Eu quero ficar sentada no meio das almofadas
A olhar para o nada,
A sentir o vazio,
A respirar o ar que não existe.

Eu quero ficar assim.
Olhar o teu retrato.
Voltar a observá-lo.
Cuidadosamente. Sem pressas.

Esta noite quero ficar dentro de mim.
Não quero ver o luar que me estende a mão.
Não quero procurar o céu negro e cativante
Que me desespera.

Esta noite quero ser prisioneira do meu corpo.
Quero bailar.
Quero ouvir os melodiosos acordes do vento.

Quero ser areia. Quero reunir todos os pedacinhos de mim.
Purificar-me nas águas geladas.
Construir castelos.
Subir as dunas da fantasia.

Amanhã, eu quero simplesmente acordar.
Não quero ter sonhos.
Amanhã não quero voltar a ser areia, simplesmente areia.
Não quero precisar de saciar esta fome de mim,
Não quero precisar de me encontrar...

Ampulheta do tempo...

As palavras que me percorrem
Transformam-se em grãos de areia
Presos dentro do gigantesco primitivo relógio.

A severa ampulheta do tempo transforma-as,
Confere-lhes vivacidade para depois as deixar
No extremo da escuridão.

A implacável ampulheta do tempo...
A que altera o significado que quero dar
Aos vocábulos que conjugo.

A que denigre a poesia que me encanta.
A que erradica o brilho, o sorriso,
A quimera.

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Via Láctea

Em Ciências Físico-Químicas aprendemos que a Via Láctea é o nome da nossa galáxia. Tem os seus planetas, estrelas, corpos celestes... Mas ninguém nos ensina que esta nossa galáxia está inundada pelo horror, pela miséria, pela desgraça. Ninguém nos ensina que as estrelas que vemos são apenas ilusões, que não repousam em nós nem no brilho do nosso olhar. Ninguém nos disse que nas nossas simples vidas podiam cair meteoritos e causar grandes danos. Todos nos mostram uma existência luminosa, fértil.
Mas, com o passar do tempo, aprendemos que estamos susceptíveis às quedas nos buracos negros do nosso já complicado trilho... Aprendemos que temos de nos resignar àquilo para que fomos feitos. Afinal, somos todos da mesma massa.
Esta nossa galáxia é deveras curiosa. É enorme, intensa, misteriosa. Cravejada de dor, dilacerada pelo egoísmo.
Pobre Via Láctea...

Constelações

Pegasus abençoa a noite escura.
Um olhar penetrante pertencente a Aquila.
Pequenos pontos luminosos no vasto céu.

Durante séculos guiaram gentes,
Decidiram destinos,
Ajudaram a escrever páginas e páginas
Do livro do mundo.

Pequenos indícios de um mundo
Pouco conhecido e explorado.
Apenas se definiram nomes,
Fizeram-se listas e pequenas grandes investigações.

E o resto? O que existirá?
O que é que ainda não conhecemos?

Corpos celestes

Suscitam a curiosidade.
Atiçam o bichinho da investigação.
Descoberta, pesquisa.

Algo superior.
Acima de pessoas vulgares.
Corpos celestes.
Corpos divinos.

Cometas, estrelas.
Rasgos de mistérios.
Combinação de segredos.

Buraco Negro

No fundo. Aqui no fundo deste buraco negro.
Mesmo aqui, mas fora do alcance da tua mão.

Aqui onde estou há amargura e escuridão.
Há medo, insegurança.
Estado de degradação avançado.

O buraco negro em que se transformou a minha vida
Não pode desaparecer como por magia!
É demasiado denso,
Suga todas as minhas energias e esperanças.

A luz redentora da alegria apaga-se mal entra em contacto
Com esta dura realidade...

E agora?

Os mistérios ocultos dos eclipses

Sombra, fusão.
Um encontro.

Lua.Terra.
Metamorfose.
Junção de seres.

Mistério, enigma.
Apenas uma palavra é a chave
Que desvenda tudo.

Outro mundo.
Um mundo que não está ao alcance de ninguém.
Uma palavra, um segredo.

Plutão Despromovido

Por que infernos vagueiam teus amores?
Por que recantos de solidão passeiam teus poderes?
Plutão, deus da morte.
Pleno de vida.

Plutão foi despromovido.
Último em tudo.
Temido, difamado.

Soturno, afrontado.
Cruel, facínora.

Plutão sofre e luta.
Plutão esconde-se de si próprio.

Estrelas cadentes

Os olhos teus são duas estrelas cadentes.
Apenas os vi uma vez
E nunca mais me saíram do pensamento.
Nunca mais.

Apressadas, bailando no manto negro
Que, entretanto, ocupara o seu lugar.
Felizes, passeando pelo Céu.

Os olhos teus têm o brilho peculiar,
A Natureza indefinida.
Os olhos teus têm a tua luz.

A luz que só eu vejo.

A escuridão do dia...

É dia. O sol brilha.
O céu, pintalgado de nuvens, completa o quadro.
Vida, harmonia.
É dia.

É dia, mas o dia está afundado na escuridão.
É dia, mas a nefanda tristeza resplandece
Em todos os lugares.

Flores murchas.
Pétalas de sentimentos.
O fruto pereceu.
Não há dia.

Noite.Noite.Noite em pleno dia.
Loucura. Loucura em plena lucidez.

Para mim, tudo é escuro.
Não sei para onde vou,
Mas contrario o meu desejo de solidão.

Eu não sei. Eu não aceito nem entendo.
Eu e apenas eu.
Eu e a escuridão do meu dia.

Quero-te, Escuridão!

Vem, aconchega-me nesta noite de Verão
Em que sinto frio e dor.
Consola a minha mágoa, faz com que a arte nasça em mim.
Apenas na tua escura luz.

Quero-te, Escuridão!

Preciso de ti.
Já não respiro sem o teu conselho taciturno
E duvidoso.

Quero-te, Escuridão.

Acaricia a minha pele morena,
Retira o brilho que teima em aparecer no meu olhar.
Habitua-me a ti!

Quero-te, Escuridão!

Eu acredito na escuridão

Vou sorver cada gota de solidão.
Ingerir a droga que me deixa louca.
Viciar-me na escuridão dos dias e das noites.

Vou calcorrear as Trevas,
Conversar com demónios.
Vou enlouquecer na escuridão.

Contudo, é na sua paz que me sinto bem.
Eu acredito na escuridão.
Eu creio.

A escuridão sou eu!
Apenas nos encontramos dissimuladas.
Somos uma só.

E eu acredito em mim. Eu creio.

Na escuridão da tua alma

Na escuridão da tua alma,
Os meus versos transformam-se em poeira.
As minhas palavras não apagam nem transformam aquilo que és.

Não posso utilizar eufemismos para disfarçar
As tuas lágrimas.E as minhas.
Na escuridão da tua alma apenas eu vejo.
Povoada de sombras, de luzes sem vida.

Na escuridão da tua alma.

E questiono-me vezes sem conta.
E grito.
E choro.
E desisto sem querer desistir.

Solidão

Solidão, vai-te embora!
Não percorras a minha pele
Deixando a tua profunda marca de tristeza.
Vai!

Não sejas delicada,
Rasga os tecidos que me protegem.
E afasta-te de mim para sempre!
Vai!

Doce solidão, não me mantenhas prisioneira
De mim mesma dentro das tuas grades de ilusão.
Solidão, abandona-me.

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

Fantasmas...

Os meus olhos choram, displicentes;
O meu corpo não responde aos estímulos exteriores.
Tudo se quebra a meu redor.
Já não sou quem era anteriormente.

Sou apenas o fantasma que habita castelos em ruínas,
em ruínas de quimeras, de tempestades de emoções.

Vagueio pela noite escura.
Deambulo pelos locais mais nefandos,
Alimento-me da podridão.

Eu e os outros fantasmas.
Aqui não estamos sós.
Aqui encontramos a réstia de esperança que vilmente
Nos arrancaram.

Para além da esperança, furtaram a luz dos nossos olhos.
E agora estamos aqui, em plena noite, esperando que o Destino
Nos encontre...

Sombras na escuridão...

De uma negritude maravilhosa,
De um espaço tão denso e sedutor.
Movem-se aquelas minhas sombras na escuridão.
Movem-se. Acompanham o ritmo da Natureza.

Pérfidas, cruéis. Minuciosas, perspicazes.
Bailam na brisa forte, mudam o rumo das marés.
Arrancam o fruto ainda verde das delicadas flores.

Sombras que me confundem.
Não sei de quem são...
(Se é que pertencem alguém...)
Arrancam pedaços de mim com lâminas afiadas.

Já não sinto dor.
Também eu sou uma sombra na escuridão...

És luz

És luz, dia, claridade, aurora.
O sol acaricia a tua pele macia,
Cria novas cores com os fios do teu cabelo castanho.
Os teus olhos doces brilham.

Tu vibras na energia do Universo.
És luz.
Luz divina, redentora da quimera.
Por ti passeiam as melodias que encantam a manhã.

Mas não és a minha luz...
Não serás apenas porque, instintivamente,
Apagas a minha.
Não me deixas brilhar a teu lado.

Luz negra

Avassaladora, mas decrépita.
Intensa, mas frágil.
Negra, mas uma luz.

Fraca, impura.
Passeia-se pela loucura.
Destila veneno,
Destrói os acordes suaves do dia.

Alcança os abismos, apaga a vida.
Morte, sangue, horror.

É perfeita.

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Luz ténue

Não, não está tudo bem.
Obrigada pela preocupação.
Obrigada pelas ilusão, pelas palavras
Aparentemente doces.

Obrigada por me teres encandeado,
Quase cegado.
Obrigada por virares as costas.
Eu acreditava.

Há algumas míseras horas eu acreditava.
Agora?
Não sei qual é este agora que me magoa,
Que me mostra quem és.

Apenas descobri que não és o astro rei.
Apenas reflectes a luz ténue da lua.
Não és tu. É outro.

Uma luz no fundo do túnel

Ainda acredito que te vou ver brilhar,Luz.
Observar-te-ei no fundo do buraco negro
Em que, irracionalmente, me meti.
Estarás lá para me ajudar a habituar
Os meus chorosos olhos à claridade
Que há muito não vejo.

Não sei como é o dia.
Só conheço a noite que me algema,
Tortura e, simultaneamente, regozija
Por me ver assim.
Assim- um farrapo.

Neste túnel chamado vida
Já me tentei esconder,
Deturpar o sentido desta existência madrasta.

Mas tudo em vão.
Tudo.
Só tu me podes resgatar de mim mesma.

Luz misteriosa...

Sinto-me fria.
Sinto-me vulnerável.

Esta luz confunde-me.
Não sei de onde vem,
Não a sinto como minha.
É uma luz misteriosa que alimenta aquilo que sou agora.

Agora. Aquilo em que me transformei neste momento,
Não o que realmente sou.
Estou fria, vulnerável.
Frágil.

Esta luz não me ampara,
Não me ajuda a procurar as chaves de que necessito
Para abrir o baú dos sonhos.

Talvez o sonho que me foi destinado
Seja um mistério que se destruirá
Quando a chave rodar na fechadura...

terça-feira, 22 de agosto de 2006

A luz da vida

Tu, luz da vida.
Nos olhos teus bailam estrelas cadentes.
No teu sorriso amistoso habita a esperança.
Criança, és tu a luz da vida.

Gesto genuíno.
Pura inocência.

Tu, luz da vida, fazes com que o dia negro
Que se avizinha se torne belo.
Tu plantas um sorriso no meu rosto,
Consegues colorir a minha vida com a tua imaginação.

Tu és a minha fada.
Levas-me para o teu mundo encantado
E é aí que sou feliz...

Luz do luar

A luz do luar banha a noite silenciosa.
Desnuda medos e tentações.
Engenhosa, ela desvenda todos os mistérios.
Sedutora, fonte de prazer.

É diferente em cada fase.
Emite uma energia peculiar.

Lua cheia, rainha da noite.
Do seu trono observa as suas aias estrelas.
Vistosa, encantadora.
Enfeitiça com a sua beleza e simplicidade.

Lua nova, transformação!
Ali está, no meio do vasto céu.
Tímida, fiel.
Sorridente e franca.

Quarto crescente, o despontar da vida.
Conjunto de experiências, vitórias.
Quarto minguante, a morte.
As derrotas, fracassos.

Ou será apenas renascer?

Ultrasónico

Ruído ensurdecedor.
Confusão de palavras e de ideais.
Velocidade, mistura de ondas sonoras.
Ninguém se entende.

Barulho, apenas barulho.
Um nada.
Demasiadas opiniões.
Ninguém se entende.

As vogais e consoantes passam velozmente,
Não se deixam apanhar.
Misturam-se, multiplicam-se.
Assim ninguém se entende.

Ultrasónico.
Rápido.
Assim é que ninguém entende!

O caminho mais rápido para sair do vício

Vício, prisão.
Vício, sagacidade.

Vício de ti,
De nós.
Vício de te ter,
De te aprisionar em mim.

Este vício conduz-me ao abismo,
A sua luz ofusca-me.
Já não sou eu,
Já não me sinto eu.

A dependência que criámos é poderosa.
Não sei se consigo sair dela,
Mas tenho a certeza de que me faz transforma,
De que me faz mal.

O caminho mais rápido para sair deste vício é perecer.
Perecer sem ti e contigo,
É levar comigo esta loucura em que me transformei.

O caminho mais acertado é esquecer e
Recomeçar.
Mas sem me viciar outra vez...

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Não consigo ser mais rápido

Não posso.
Não quero.
Não consigo.
Não consigo ser mais rápido
A esquecer o que me magoa.

Apenas não consigo ser indiferente
Ao meu passado, ao meu futuro.
Nas minhas veias esconde-se o fantasma da destruição.

Quero saciar esta fome de vingança de tudo e de todos,
Apagar o que de cruel me fizeram e apenas
Recomeçar.

Quero vaguear nas estrelas
E sentir a luz da lua a iluminar o meu caminho.
Quero beber cada gota de chuva,
Sorrir para cada raio de sol.

Não consigo mais rápido a desfazer-me das minhas memórias.
Apenas não encontrei a chave para fechar de vez o meu pesado baú.

Almejo murmurar nomes conhecidos pela última vez
E arrancá-los definitivamente do caderno amarelecido da minha existência.

domingo, 13 de agosto de 2006

Um rápido olhar...

Tentei ser sonhadora,
Colorir os dias com cores alegres.
Tentei fantasiar,
Pintar os entardeceres Outonais
Com tons de dourado.

Com frágeis pincéis rasguei a tela branca
E macia à minha frente.
Mundo concreto dentro do abstracto.

Percebi tudo isto através de um rápido olhar.
Um olhar fugaz e tímido que me abriu as portas
Do conhecimento e da quimera.

Apenas um olhar...

Jogo rápido...

Dar as cartas.
Estratégia.
Ambição e poder.
Vício.

Primeira jogada.
Primeira derrota.
Ambição desmedida.
Cegueira de valores.

Mais e mais jogadas.
Derrotas sucessivas.
Loucura e poder juntos.
Abismo.

Fim do jogo.
Um jogo rápido.
Morte.

Rápido e potente

Um dos piores males soltados por Pandora
Quando, motivada pela curiosidade,abriu a caixa.
Maldito sentimento que espalha a discórdia,
Destrói laços.

É uma praga que adoece os seres humanos,
Tornando-os execráveis, nefandos.
Maldito Egoísmo!

É rápido e potente.
Eficaz. Calculista.

Tantos que sofrem,
Tantos que estão presos a uma certeza absurda.
Tanta ambição, tanto querer desmedido.

Vejo tanta gente adormecida na sua vida...
Vejo tanta gente cega pela posse.
Vejo tanta gente dominada pelo Egoísmo...

Rápida e eficientemente

Rápida e eficientemente.
É assim que o teu veneno actua em mim.
É assim que o teu veneno mortal de escorpião
Actua em mim.

Tantos efeitos secundários...
Alucinações! Vejo-te em todo o lado,
Sonho contigo...
Dores! Quando vejo que não estás
É isso que sinto...

Pouco a pouco entraste na minha vida...
Nem me apercebi das porporções que tudo isto alcançou...
É segredo aquilo que construímos.
Dois mistérios num só mistério.

Estou à beira da loucura ou da morte.
Estou à beira do precipício ou da liberdade.

Mas o teu veneno continua em mim,
Espalhando-se por cada centímetro do meu corpo.
Arrepios, risos, sorrisos...

Uma picada mortal...
Há dias em que agonizo
E dias em que me sinto leve, solta...

Mas tudo isto é segredo...
Xiu.

Falsa Felicidade

Bailas naquilo a que chamas felicidade.
A exuberância tenta colmatar as falhas
Que encontras em ti.

E é por isso que o teu sorriso é artificial,
como as flores!
Tens a beleza, mas falta-te a vida, o aroma da vida!

As melodias que entoas são plagiadas.
Não tens alma para criar as tuas.
Os perfumes que usas foram manipulados;
Não consegues inventar a tua fórmula!

E é a isto a que chamas felicidade?

Onde encontrar a felicidade?

Felicidade! Felicidade!
Onde estás?
Onde te posso encontrar?

Tenho tantas perguntas para te fazer!
Quero-te perto de mim!
Mas sei que tens de visitar tantas pessoas
E dar-lhes um bocadinho de ti...

Felicidade, não te quero só para mim,
Mas preciso que fiques junto de mim,
Que me dês força,
Que me faças acreditar no teu segredo.

Procurar-te-ei na verdura dos campos,
Na serenidade da manhã,
No calor do sol...

Procurar-te-ei na ferocidade do vento,
Na dor da chuva,
Na escuridão da noite.

Quando te encontrar, terei perdido a minha felicidade...

Aqui vou ser feliz!

Aqui vou ser feliz.
Vou procurar o teu olhar,
Deixar que a luz dos teus olhos inunde os meus...

Aqui, onde há fantasias e desejos,
Vou ser feliz contigo
E comigo.

Vou percorrer os recantos mais selvagens
Desta floresta que nos cerca,
Levar-te a beber a água cristalina da fonte
Mais bela e misteriosa.

Aqui, vais deixar que eu me enfeitice
Pelo teu gesto meigo,
Pela suavidade e segurança das tuas mãos
Que procuram a minha pele...

Aqui. Eu e tu.
E mais ninguém.

Felicidade amarga...

Não. Não.
O que sinto não é felicidade.
Não pode ser felicidade.
Jamais será felicidade.

Ou talvez seja o travo amargo
Que percorre a felicidade.
Ou talvez seja um sorriso falso,
Uma lágrima forçada.

Não. Não.
Já não sei o que sinto.
Mas não pode ser felicidade.
Apenas uma felicidade amarga,
Quase dispersa nas ondas mágicas
Que me inundaram...

Um "eu" feliz...

Alegria, êxtase.
O inesperado trouxe um sorriso
Ao meu rosto,
Fez com que os meus olhos voltassem a brilhar.
O inesperado devolveu-me aquele sonho.

De um momento para o outro,
Eu senti-me feliz, verdadeiramente feliz.

Gritei, ri, sorri, brilhei.
Momentos tão genuínos, mágicos.
Ali descobri um "eu" feliz,
Um "eu" que se escondera de mim
Há muito, muito tempo...

Uma lembrança,
Um sinal.
Um arrepio,
Um desejo...

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

A importância de ser feliz...

Ser feliz - uma expressão composta por duas palavras, mas que esconde um mundo de escolhas, veredas de tristeza, momentos de inquietude e dúvida.
Ser feliz consiste em realização pessoal e realização do outro; não podemos ser felizes sozinhos. Temos necessidade de fazer alguém feliz (nem que seja durante alguns momentos...).
A felicidade não está à venda; é produto único do percurso de cada ser, das escolhas que fez, daquilo que deixou para trás para seguir o que o seu coração disse, das lágrimas derramadas quando obstáculos mais poderosos o tentaram derrubar e aniquilar.
Porém, é de realçar que as pessoas têm pequenos sinais de felicidade e não se dão conta disso: o prazer de sentir a água salgada do mar, a textura de uma folha jamais vista, o aroma da terra molhada depois de uma noite de chuva intensa, um sorriso espontâneo, um gesto de compreensão de parte de alguém desconhecido, um carinho inesperado, um olhar generoso...
Tantos pequenos vestígios da grandiosa felicidade e ninguém se dá conta deles... Não há curiosos a querer seguir o seu rasto... Apenas as crianças! Elas estão atentas, percebem o que de mais belo há e é por isso que são tão espontâneas, tão sinceras...
Infelizmente isso não acontece com " as pessoas grandes" (como diria o pequeno Principezinho)! As pessoas grandes estão demasiado ocupadas com as suas vidas preenchidas de valores materiais e símbolos que transmitem negatividade. As pessoas grandes não têm tempo para elas nem para conquistar a sua própria felicidade.
Conheço uma pessoa grande que não é feliz porque, infelizmente, não aproveitou a oportunidade que teve. Hoje, é uma pessoa magoada com a vida, frustrada e que frustrou os seus próprios sonhos e objectivos. Hoje é uma alma que vagueia e que se tenta erguer... Mas o seu futuro não se avizinha bom... Já está fraca, demasiado fraca para voltar a lutar...
É por isso que ser feliz é importante: é importante lutarmos por nós mesmos! Se não formos nós, quem o fará?

Eu vou conseguir voltar a ser feliz...

Eu vou conseguir voltar a ser feliz!
Nem que seja preciso pintar os céus de um negro atemorizador,
Nem que os raios do sol escaldante congelem no tempo.
Eu vou conseguir voltar a ser feliz.

Eu vou pintar sorrisos maravilhosos no meu rosto,
Vou enterrar os fantasmas,
Vou abraçar a água gelada que me purifica,
Vou beber da fonte que me dá a vida.

Transformarei a tristeza em alegria,
Trarei a cor ao mundo que me cerca,
Ao meu mundo de fantasia.

Eu sei que vou conseguir mover as montanhas,
Contar cada grão de areia que existe,
Desenhar com as nuvens no limpo céu.

E tudo isto para conseguir ser feliz,
Porque ser feliz é o caminho que todos querem alcançar.

Será que eu quero?
Ou será que estou a seguir o que me dizem os outros?

domingo, 6 de agosto de 2006

Mundo Antigo

O que há a dizer sobre ti?
Quais são os teus âmagos mais bem guardados?

Mundo Antigo, mundo de várias histórias,
Melodias, sentimentos...
Mundo Antigo repleto de sonhos não concretizados
E de arrependimentos vis.

Mundo Antigo repleto de amores e dissabores;
Preenchido por torturas e horrores...
Belas obras, grandes vitupérios...
Destruição de grandes impérios...

Grande mundo...

Grande mundo que abraças teus filhos
Com desigualdade!
Grande mundo que prometes castelos fortes
E apenas ofereces grãos de areia e conchas partidas...

Grande mundo subtil,
De pequenez escondida,
De receios vários,
De tempestuosas relações...

Grande mundo que abarca mistérios,
Resolve enigmas,
Espalha o seu veneno
E não fornece o antídoto...

Grande mundo que me tem,
Que te tem,
Que nos isola.

Grande mundo que nos escolhe a dedo.
Grande mundo que possui pequenos habitantes...

A magia do mundo...

Mundo mágico, mundo exterior com as suas Naturezas diferentes e fascinantes. O mundo é magico em determinados locais, não em todos.O mundo é mágico em locais jamais descobertos.
O mundo tem magia quando esta provém do coração modesto que a possui. Contudo, esse coração é único no mundo. Ninguém sabe onde ele está e a quem pertence. Absolutamente ninguém.
A magia do mundo encontra-se camuflada. Está muito bem escondida, muito bem preservada, porque nem todos têm o direito de usufruir dela. Talvez seja por isso que as pessoas são infelizes. Talvez aqueles pózinhos tenham acabado de vez e já não existam mais feiticeiras para os conjugar. Talvez seja por isso que os olhares só brilham devido às lágrimas derramadas...
Afinal, todos renegam a magia que existe no mundo e nas suas várias espécies de animais, plantas e pessoas, mas todos precisam desses outros elementos para viver...
Oh...Gente indecisa, confusa e sem um ombro amigo para descarregar as mágoas... Há tanta gente sem magia...

Mundo Imperfeito...

Mundo- esfera compacta de dissabores,
Vidas.
Mundo- essência da imperfeição.

Mundo de angústias construído
Por uma só dor comum a todos.
Mundo cujas bases são o rancor
E o ódio.

Mundo pequeno, interligado.
Mundo vasto, sem alma.
Mundo imperfeito.
Mundo inefável.

Talvez um mundo sem utopias,
Sem sóis nem chuvas.
Talvez um mundo só
No meio das suas gentes...

"Admirável mundo novo"

Admirável mundo novo que se afunda em desgraças,
Que desgraça as vidas frágeis que encontra
Lançando os males escondidos na caixa de Pandora.
Admirável mundo novo que se aniquila ao longo dos tempos,
Que prova o próprio veneno espalhado pelo seu podre corpo.

Admirável mundo novo que semeia a injustiça,
Acredita nos fins e justifica todos os meios,
Destrói os mais inocentes sonhos,
Tortura os fracos.

Admirável mundo novo que apaga olhares
E colhe tempestades!
Admirável mundo louco que navega no que acha ser o correcto,
Mas que se dirige a passos largos para o abismo...

Mundo cruel

Mundo cruel, revela-nos os teus segredos
De agora.
Diz-nos por que é que nos fazes sofrer
E escolher os caminhos errados.

A tua maldade faz eco nas nossas mentes pecadoras;
Os teus sentidos apurados confundem-nos!
Não sabemos o que fazer.

Apenas esperamos lentamente pela morte.
Observamos o relógio parado.
Horas, minutos, segundos vividos intensamente,
Plenos de angústia.

E tu, Mundo, regozijas!
Um sorriso sarcástico denuncia a tua presença maléfica...

Perdoa-nos... Foi apenas um desabafo...

Se eu fosse a dona do mundo...

Se eu fosse a dona do mundo, não seria ninguém. Estaria demasiado ocupada a tentar agradar a todos, a resolver os problemas criados pelos meus inquilinos...
Se eu fosse a dona do mundo, teria muito trabalho: teria de cuidar pessoalmente de todas as minhas aromáticas flores, arrancar as ervas que cruzassem o seu caminho; teria de falar com o sol e com a lua para que se entendessem; teria de criar mais estrelas para poder colocar sorrisos nos pequenos e nos grandes. Se eu fosse a dona do mundo, o meu dia não teria vinte e quatro horas, as minhas noites seriam passadas em claro, os meus dias seriam incríveis e diferentes.
Se eu fosse a dona do mundo, acabaria com o sofrimento que existe nele; erradicaria o Mal e colocaria anjos da guarda junto de todos os meus inquilinos...
Se, se, se. Afinal, o mundo é feito de certezas e "ses". É feito de nadas, de manhãs bonitas e manhãs tristes; noites estreladas e noites em que os gritos aterrorizam os espaços. Afinal, o mundo é feito de escolhas e sacrifícios, dúvidas e lamentos. Em todos os locais e com todas as pessoas: diferentes actores e, consequentemente, personagens; diferentes cenas e actos. Todavia, um mesmo argumentista e realizador. É famoso, reconhecido por todos; não tem descanso- o Mundo...