sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Não sei.
Não me perguntem o quê
Porque não sei.
Já não sei não saber,
Não sei não querer saber
E não sei como divagar em mim.
Planeei viagens ao mínimo detalhe,
Criei uma desconcertante aventureira
De botas enlameadas e determinação encerrada no olhar.

Quando senti, o sol queimou-me de tão abrasador,
De tão macio, de tão próximo da realidade,
De tão diferente de mim.
Tiraram-me a venda invisível e eu simplesmente não sei.

E agora sou eu que me interrogo horas a fio
Enquanto o relógio avança, lânguido, pelo tempo,
Quem deixei pelo caminho enquanto trepava às arvores
E olhava a terra cá em baixo tão genuína desejando poder atirar-me e
Sentir.

Não, não sei.
E toda esta minha ignorância me leva a mim,
Numa incerteza de passos e passadas,
De atropelos e quedas em escadarias de sonhos.
Não saber divagar e perder-me em mim é pura e ingenuamente
Saber-me.
É estranho rabiscar cadernos
Se o que quero é riscar palavras.
Estão todas concentradas algures no meu corpo,
Escorregaram-me dos dedos inseguros para parte incerta.
Se calhar tenho as palavras nos pés
E estou de cabeça pra baixo

Ou então estou cansada para me mexer
E estou deitada em cima de folhas de cadernos
Rabiscados e escritos,
Palavras que correm e atropelam linhas ou quadrículas.

Ah! É isso! Vou passar a escrever em cadernos quadriculados.
Finjo-me de amiga da Matemática e ponho ordem no ser
E aprendo a resolver problemas.

(Será por pouco tempo porque, afinal,
Sou ordenadamente desordenada
E vivo na minha bagunça arrumadinha
Como livros gastos nas estantes
Ou na caixa de cartão no chão do quarto
Porque me cansei de prender prateleiras à parede,
Vê-las desabar, desvirginar tinta branca
E rachar madeira quando a noite cai.)