terça-feira, 4 de agosto de 2009

Por que voltou ele impiedoso e feroz?
Depois de uma batalha desigual
Em que o vencedor saiu vencido,
Pude finalmente encontrar um tempo de tréguas.
Como se a euforia das manhãs e a esperança de uma nova vida
Me trouxessem alento e rasgassem os cortinados
Para deixar entrar o sol no quarto
E acariciar a minha pele.

Por que voltou a rondar os meus sonhos
Que acordam em pranto,
A pregar-se ao tecto do meu quarto durante o dia
E a passear-se por ele durante a noite
Não me deixando dormir?
Só a fraqueza do corpo me sossega.
O resto continua em carne viva
E a sangrar mais do que queria,
A viver no lugar errado,
A existir porque sim.
desaprendi as palavras
por as ter trancado dentro de mim
não sei se no coração ou no cérebro
se nas mãos ou nos dedos
mas não as descubro
e perdi-me num labirinto cheio de luz
que descobri ser eu
num instante em que por acaso
me perguntei o que buscava
e quantas sebes havia arrancado
por que me tinha arranhado toda
por que tinha o cabelo desgranhado
e lágrimas insensíveis a saltar-me dos olhos
como se fosse uma menina perdida
no meio da floresta

só ouvi murmúrios surdos
ecos inaudíveis
vi palavras cegas
com os olhos vendados
e a alma incapaz de escrever
ou apenas de juntar sílabas
as mãos presas gesticulando
e na boca um sabor a agonia
Sabe bem voltar a casa
E ver as labaredas consumir a madeira.
Enroscar-me numa manta e dormir no sofá
Com a casa escura e as luzes acesas.

A minha mãe vai reclamar da conta da luz
E eu vou dizer que não carreguei em interruptor nenhum
E muito menos que saí do sofá para acender a casa
E apagar a luz.