domingo, 4 de outubro de 2015

Poema do fim

Precisamos de chorar os nossos mortos
mesmo que eles estejam vivos.
Os olhos já se esvaziaram
E quando se olha
ao
fundo

se encontra uma tristeza imensa
que os
inunda.

Precisamos de chorar os nossos mortos
dentro das linhas invisíveis que nos cosem
a alma
o coração
e os mantêm unos
mesmo que semi-desfeitos
ou aos pedaços
ou esburacados

Uma coisa mesmo não sendo
inteira não deixa de ser uma coisa
com sentidos
e sem sentido
no decorrer dos dias e das lágrimas
que atravessam calendários

(nunca gostei muito de calendários
e devo ter três ou quatro na carteira
e um ou dois espalhados pela casa
para que mesmo que esbarre com o
tempo
ao transpor a porta da cozinha
ou ao remexer na carteira
me lembre
-sempre um cliché-
que o pior e o o melhor do
tempo
é que ele




passa.