domingo, 31 de dezembro de 2006

Ponto final

Cheguei ao fim.
Quando acabar de escrever vou-me deitar.
Esta é a última noite em que penso em ti,
Este não é o último poema que te dedico!
Ainda vou mostrar a minha dor e a minha raiva
Numa altura em que estiver fraca,
Mas não é disto que quero falar agora!

Não ousarei revelar o teu nome.
Não ousarei sequer revelar o meu.
Vou sair daqui de alma purificada.
Tu mudaste. Eu tive de mudar.
A nossa história tem aqui um ponto final.
A página destas duas vidas que um dia se cruzaram
Parece ter um fim aqui.
De ti guardo as memórias, os olhares repletos de desejo e sinceridade.
Nunca duvidei de ti, é importante que o saibas.
De ti guardo o vermelho e o azul, o charme e o sorriso meigo que me prendeu.
Guardo-te dentro de mim como a paixão mais bela que algum dia será cantada.
Adeus.

Amanhã serei outra. Verás isso, se assim o desejares, no meu olhar.

Parágrafo

O meu texto só tem mais um parágrafo para além deste.
Já confessei que te quis, que sonhei contigo da inocente Primavera
Até ao ventoso Inverno, já chorei por te ter e por te não ter,
Já te acariciei, já te sorri, já partilhei gargalhadas contigo, noites contigo,
Sonhos contigo.

O meu texto vai ser pequeno, prometo!
Palavras de poeta...
Quem lhes dá valor?
Tu?
Tu não sabes a ânsia de escrever que tenho dentro de mim
Nem o prazer que me dá!

Acabou. Foi um texto intenso e pequeno.

Ponto de interrogação

Naquela noite em que me sentei no mesmo sítio,
Senti os mesmos odores, olhei as mesmas coisas
E proferi "acabou", perguntei-me tantas vezes
Se não poderíamos ter sido felizes juntos...

Não encontrei respostas nas parede frias que me rodeavam
Nem no inocente ser que me confortou.
Lamentei que a nossa relação tivesse terminado assim.
Mas não lamento nem nunca lamentarei ter-me dado a ti.

Meu Amor... Estas palavras não se aplicam mais a ti.
Talvez tenha sido pretensão minha ou talvez ilusão,
Mas nem tu podes negar a nossa "história".

Estou confusa! Não sei o que escrever e nem sei se é isto que quero transmitir!
Estou nervosa e feliz por ter colocado o meu amor num baú e o ter fechado a sete chaves
Para depois o guardar no fundo do coração.
Ainda é estranho! Estava tão habituada a ti, meu Amor!

(Perdoa-me. Não resisti em tratar-te assim pela última vez)

A pergunta está nas tuas mãos. A resposta também.
Eu perdi a memória. Não sei nada e não conheço ninguém.
Agora vou recomeçar.

Vou reconstruir o meu ninho com pauzinhos e folhas.
Vou elevar os meus sonhos para os deixar tombar
Mais uma, duas, três vezes!
Vou pintar o meu céu com novas cores e voltar a colocar
Os meus afáveis pedaços de algodão branco.
Vou voltar a ter um céu estrelado acalentado pelo brilho de uns olhos belos e desconhecidos!

Ponto de exclamação!

Hoje sorrio, Sara!
Sento-me contigo no café do costume.
Frente a frente na mesa ao lado da janela!
O dia está feio.
Sempre lá fomos em dias feios.
Tomamos chá e conversamos.
Vamos lá nos dias apáticos e deprimentes,
Falamos sobre ele e sobre ele,
Fazemos planos sem eles.

Mas hoje encerrámos um capítulo, Sara!
Hoje eu e tu sorrimos!
Ouvimos todas as melodias, cantámos,
Recordámos aqueles momentos que partilhámos.
E sorrimos.
A rádio passou todas aquelas músicas.
Não faltou uma!
Tu querias ir embora.

"Só saímos daqui quando ouvirmos a última música
E enterrarmos de vez essas histórias".
Nós conseguimos, Sara!
Vamos dar ênfase ao nosso discurso
E vamos terminar estes pequenos contos de fadas
Com um (pequeno) ponto de exclamação!

Reticências...

Sempre deixei a minha vida caracterizar-se pelas reticências!
Nunca quis escolher definitivamente.
Sempre perdi demasiado.
Sempre sofri demasiado.

Sempre deixei que alguém tomasse conta da minha decisão
E magoei e feri e matei o meu coração destruído.
Sempre deixei que tu fosses uma narrativa aberta na minha vida.

Mas agora pergunto-te calma e inocentemente:
Sabes o que é uma narrativa fechada?
Se não souberes também não te explico.
Já gastei palavras belas contigo e tu já deitaste os meus rascunhos no lixo.

Agora termino esta história com a ironia que caracteriza a minha mágoa,
Revelo que te quis, que lamento não teres sabido optar,
Mas que te quero bem.

Não preciso de ti

Olhei para a janela e tu já lá não estavas.
Subitamente várias imagens se passearam pela minha mente.
Eu e tu naquela rua, eu e tu em frente ao mar,
Eu e tu sentados lado a lado, eu e tu.

Uma lágrima caiu dos meus olhos negros.
A minha boca proferiu a palavra mais difícil.
O meu coração partiu-se em mil pedaços.
O meu corpo caiu no chão duro e frio das minhas memórias.

Eu e tu sós. Eu a olhar nos teus olhos e os teus olhos a fugir.
Eu a segurar a tua mão e a tua mão a desprender-se da minha.
Eu a cuidar do teu coração e ele a maltratar o meu.

Era de noite. Estava sentada no mesmo sítio.
A olhar as mesmas coisas, a sentir os mesmos cheiros.
Mas a palavra que a minha infeliz boca proferiu foi "Acabou".

Preciso de ti

Salvei-te do teu Destino fatal
E nos teus olhos vejo raiva!
Tu não me vês porque não precisas de mim!
Nos teus olhos vejo ódio.

Eu precisei de ti e não me salvaste.
Fizeste-o propositadamente.
Magoaste-me tanto durante tanto tempo.
Não cuidaste de mim como um dia os teus olhos
Olhando os meus me prometeram.

Mas eu preciso de ti! Como preciso...
Preciso de adormecer a pensar na vivacidade que emanas,
Na destreza do teu corpo, no brilho e na fugacidade do teu olhar.
Sabes, meu Amor, eu preciso de ti.

Preciso de Silêncio

Não sei por que choro.
As lágrimas descontrolaram-se.
Caem silenciosamente desta face morena.
Caem no chão desenhando formas que desconheço.

Xiu! Xiu! Quero silêncio! Preciso de as perceber!
Preciso de as amar para as ter de novo em mim.
Xiu! Cala-te! Sai de junto de mim para que as possa sentir!
Eu não estou louca! Só quero ficar aqui. Em silêncio.
Preciso da raiz, preciso de paredes brancas e de um chão frio
Para descobrir o sofrimento delas.

"Amor! Amor!" - escuto!
Não é o amor que me faz chorar.
O amor é trágico! Nunca me fará chorar.
Apenas me matará.

"Desejo! Desejo!"- escuto!
É a mesma voz! Agora tudo faz sentido!
Vejo um corpo cãndido, as lágrimas caem no peito.
O corpo dele ressuscitou. O meu deu a vida por ele.

Preciso de mim

Hoje preciso de mim.
Escrevi-te aquela maldita carta.
Nunca a irás entender.
Quero-te! Porquê?

Hoje deixaste-me cair na poeira dos meus baús,
Pintaste de um negro assombroso as paredes das minhas nuvens,
Destruíste os sonhos meus e teus
Através da tua arma preferida: o silêncio.

Mas eu não chorei. Mas eu nem sequer gritei.
Eu não reagi.
Voltei a cair na poça de sangue cristalino a teus pés.

Hoje preciso de sorver essas gotas amargas
Que cruelmente me dás a beber.
Ofereces-me uma taça de prata,
Um líquido que é tido como precioso.
E é só.

Preciso

Preciso de te escrever uma carta, meu Amor.
Infelizmente não leste os meus olhos,
Precisas de ler as minhas palavras doces.

Meu Amor, não quero falar de flores nem de dias solarengos de Primavera.
Não quero sequer saber em que mês estamos ou que dia é hoje;
Não preciso que me digas se acordaste com um sorriso.

Preciso de te confessar através destas meras palavras
Aquilo que já tantas vezes te disse em silêncio.
Conheci-te, encantaste-me, conquistaste-me.
Sempre gostei do teu gesto delicado e da firmeza do teu olhar,
Da maneira como me olhas naquelas tardes povoadas de um céu cinzento,
Do azul ou do vermelho que tanto gostas.
Preciso de te confessar que me enlouqueceste, que te quis, que te procurei.
Sempre gostei dos teus jogos de silêncio, dos amuos fingidos, da recente inquietude em ti,
Das tuas paixões, das tuas mudanças, das tuas palavras meigas.
Preciso de te confessar que te amei, mas que nunca o quis dizer.

Preciso agora de te dizer adeus.
Preciso de te deixar um beijo e um sorriso.

Eu não preciso

Eu não precisei de passar para o papel
Aquilo que senti durante estes dias.
Tal vazio me preenchia,
Tal esperança me preenchia
Que fiquei sem palavras,
Sem sangue a correr nas veias da imaginação.

Apenas sonhava com palavras que um dia me irias dizer.
Acreditava que tudo iria mudar.
Acreditava que tu irias mudar outra vez.

Olha o que nos fizeste!
Destruíste o encanto, o sonho,
A vida, tiraste-nos o ar puro que um dia respirámos.

Eu não preciso da tua indiferença nem do teu passado.
Nunca precisei. Sabe-lo bem!
Eu não preciso que geles o meu sangue
De cada vez que proferes palavras insensíveis.

Eu não preciso das tuas mãos más
Que me apertam o inocente pescoço.
Eu não preciso dessas tuas mãos repugnantes
Que me queimam quando me tocam.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Eu sou louca

Eu sou louca! Louca! Louca!
Quero-te e não devia!
Penso em ti e não devia!
Sofro e não devia!

Passo por aquela avenida
E vejo as luzes de Natal a piscar.
Suspiro... Onde estás tu?
Com quem andas?O que fazes?
Qual é o teu nome?
Ainda és o mesmo?

Eu sou louca porque te dedico palavras belas
Que não entendes ou que finges não entender.
Pensava eu que se dissesse que te vou esquecer
Ajudaria a esquecer-te!

Mas ainda mais loucamente te lembro!
Será que tu também te lembras das nossas noites de loucura
Mantidas em segredo para toda a eternidade?
Será que te lembras daquilo que sempre te disse
Quando contigo não falei!?

Eu sou louca! Eu gosto de sofrer e de alimentar as minhas quimeras
Quando me deito e finjo dormir.
Sabes, meu querido, é por ti.
E eu, numa manhã indiferente disse-lhe:
"Há algo dentro de mim que me diz que esta história não acaba aqui"!

Silêncio louco

Peço-te um favor: fala comigo!
Não deixes que este silêncio lance o seu poder maléfico
Em mim e em ti- em nós!

Destrói-o sem dó nem piedade!
Ele fere-nos e tortura-nos e mata-nos!
Ele é sagaz, ele odeia-nos!
Ele quer o nosso sangue!

Este silêncio louco deixa-me louca!
Deixa-me irónica e subtil, deixa-me no reino dos Infernos!
Deixa-me pensar em ti e esquecer-me de mim!

Quebra o silêncio. Só tu tens esse poder.
Tu trouxeste-o, tu criaste-o!
Prova o teu próprio veneno, meu querido!

Alma louca

Alma insana! Pecadora.
Invejas-me, amas-me.
Não me queres. Desejas-me!
Sorris! Gritas-me ao ouvido aquilo que nunca sentiste.
Confundes-me!

Não gosto de ti, mas gosto demasiado de ti.
Entende, meu Amor, não te exijo castelos de quimeras
Nem flores belas!
Não te exijo nada porque não sei se te quero!
Não, eu quero-te!

Oh! Alma louca! Quem te entende?
A minha alma misturada na inconstância e sobriedade da tua!
A minha alma desvairada para te ter abraçada ao teu corpo viril.
É sonho, é utopia!
Tu nem sequer existes!

Grito louco

Ai! Quero gritar palavras mudas!
Quero sentir a voz até que desapareça!
Quero bradar aos céus que me tens na loucura dos olhos teus!

Quero enlouquecer-te de vida, de olhos brilhantes
E estrelas cadentes em noites de Inverno - as nossas noites!
Quero atravessar a fronteira da tua pele morena, do teu corpo ardente
E dar-te o veneno que há muito me suplicaste!

Mas é apenas o meu grito! O grito de uma pessoa que todos julgam louca!
Um grito louco! Uma esperança moribunda de dia e viva durante a noite!
Mas é apenas um grito de alguém que sonha com princípes encantados e chuvas de estrelas!

Inverno louco

Já não reconheço este Inverno!
É tão frio.
Triste. Repugnante.
Mórbido.

Já não reconheço este Inverno.
Não é o mesmo que nos apresentou
E acolheu nos seus deliciosos flocos de neve pura.

Dezembro não tem o mesmo sorriso.
Eu também não o tenho.
Tu roubaste-o. É justo: sempre te pertenceu.

Não mo devolvas! Devolve-me apenas os nossos dias de Inverno!
Deixa-me endoidecer-te outra vez!

Louca tensão

É segredo! Ninguém se apercebe deste clima de tensão no ar.
Só eu! Tu não percebes ou finges não perceber.
Quero fugir desta loucura que alimenta os meus dias e as minhas noites.
Deixa-me!Liberta-me!

Não quero ouvir a música!
Eu sangro ainda mais quando escuto aqueles suaves acordes
Que nos embalaram naquelas noite de loucura.
Não quero ouvir a música que me dedicaste
E da qual já não te recordas.

Não sei o que te dizer, não quero saber como estás.
Mas as pessoas falam comigo sobre ti.
As pessoas dizem-me que te viram.
E eu não te pude ver.

Amanhã vou acordar com um sorriso no rosto.
Um sorriso falso, é verdade.
Mas mesmo assim um sorriso!
Vou sonhar contigo durante todo o dia
Para depois destruir os meus castelos de sonhos
E perceber que nunca mais me falarás.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Momento de loucura

Foi no meu momento de loucura que assumi que te quero.
Nunca quis dizer à minha insolente alma aquilo que ela me havia dito
Anos antes, naquele mês que marca a minha vida.
Novembro, doce Novembro!(Mas era tudo tão diferente...!)

Eu sabia que a tua palavra me sorriria mal chegasse,
Que o som da tua voz quente e macia seria a minha canção de embalar,
Que as promessas que escondias nas respirações incontidas eram só para mim,
Que os teus olhos meigos queriam apenas olhar os meus e...

Ela perguntou-me várias vezes. E eu sempre neguei.
Ela já sabia que eu escondia. E eu nada disse.
Ela voltou a questionar-me. Apenas uma vez.
E eu não neguei.
Foi nesse dia louco que começou a minha trágica e feliz Sorte!

Nesse dia voltei a escutar a tua voz, a observar os teus olhos, a sentir as tuas palavras.
Nesse dia conheci a inconstância daquilo que és, o hino de paixão e ódio que um dia me prometeste cantar!
Nesse dia ri e chorei. Adormeci no palácio utópico que é a minha casa
E acordei na imensidão da dura noite.

Nesse momento de loucura, o meu momento, percebi que eu e tu apenas tínhamos- temos, tivemos.... - uma única hipótese de viver: ou em reinos de luz e harmonia ou então não vivemos!

Loucura

Eu tenho de escrever agora!
É necessidade! É vício!
É retrato de dia cinzento,
Manhã escura de cetim que fere
A pele morena e os olhos êxtasiados
No momento da paixão!

Eu tenho de escrever agora
Para imortalizar as lágrimas presas
Em meu olhar triste e profundo!
Eu quero gritar as palavras que bradam dentro de mim!
Que sede de carvão, de papel, de tinta, de pena!
Eu quero! Eu quero!

E nesta confusão deste meu grito que poucos ouvem,
Esconde-se aquilo que tanto procuro!
Aquilo que desejo e que jamais desejei!

Nada apaga este ritmo que eterniza a magia do corpo
Que ama e fere e queima o teu!
Nada apaga a chama da palavra que jamais te disse
E que ainda está dentro de mim! Que sempre estará dentro de mim
Pronta para ti, meu Amor...

A escrita dos homens

Aquilo que aqueles homens escrevem não me preocupa.
Das suas mãos as palavras tornam-se frias, feias.
Não gosto daqueles homens.
Fazem-me querer procurar uma nuvem de sonho que não existe.

Vi os seus papiros perdidos no tempo
E o meu pequeno mundinho deslumbrou-se.
Tanto cor-de-rosa! Tanto vermelho! Tanto laranja!
Que bela conjugação de cores-
Aquelas palavras daqueles homens enfeitiçaram-me.

Mas existe no mundo um homem que com suas palavras me tem matado
A cada segundo que passa. Existe um homem pior do que aqueles que me iludem.
Existe um homem que roubou a minha essência e a destruíu!
Transformou a minha melodia num mero conjunto de sons.
Escureceu o meu dia. E pior do que tudo: roubou a luz dos olhos meus
Que se alegravam de olhar e ler as suas palavras doces.

São esses mesmos olhos que agora choram a dor da perda.
E não sabem o motivo. Não querem esse fim. Nunca o procuraram.
Sempre fugiram dele.
Sempre o evitaram.
São esses mesmos olhos que agora choram a certeza de um amor que não quer partir.
São esses mesmos olhos que, habituados à escuridão, dela não querem sair.

Os homens são maus. A sua escrita é vulgar - a minha não.
Não gosto deles nem dele.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Alma de escritor

Hoje choro porque a minha alma se define a cada dia que passa!
As lágrimas acariciam a minha face e eu apenas sorrio.
Apenas o olhar brilha!
Apenas todo o ser canta, pula de contentamento!

Ai...não sei explicar!
Tenho algo dentro de mim que me grita querer planar!
Tenho algo dentro de mim que domina o meu reino de fantasias
E me faz bruxa e princesa, e mãe e madrasta, e flor murcha e fruto!

Sei quem fui. Sei quem serei.
Fui aquela que todos feriram,
Fui aquela que curou as feridas.
Serei aquela que cuidará e chorará ao ver as cicatrizes.
Serei aquela que nunca saberá em quem confiar!

Doeu! Mil olhares invejosos cruzaram o meu - tão inocente!
Ai, doeu! De todos vinha a difícil mágoa,
Não tinham palavras, não tinham sangue!
Não tinham fome de infinito nem vontade de desejar!

Se não escrevo...

Se não escrevo o meu sangue pede palavras,
As minhas veias perpetuam aquilo que passeia pela minha imaginação.
Os meus versos desconhecidos apertam o coração que os sente.

Se não escrevo, a minha alma de poetisa neste frio se perde,
Neste frio se gela, neste frio abandona meu corpo ainda quente.
As minhas mãos tremem se o veneno das palavras que te dedico
Não ferem o papel.

Se não escrevo não vivo.
Se não escrevo toda eu sou um poço de nada!
Uma miragem sem contornos,
Alguém deixado ao acaso.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Amanhã tentarei escrever

Amanhã tentarei escrever sobre este momento
Em que me deixas caída na confusão da minha própria Sorte.
Amanhã tentarei escrever acerca das pétalas que me ofereceste
E que, depois, envenenaste.

Amanhã enterrarei a minha obra
E esquecerei para depois me recordar.
Amanhã farás parte de um passado presente
Que não me quer abandonar!
Amanhã tentarei escrever sobre o cruzamento
Do nosso destino.

Mas eu já sei que as palavras me vão faltar...!
Oh!Se sei... Quando pensar em ti para te dedicar os meus versos
Esquecer-me-ei de dizer que não te odeio, que gosto do brilho dos teus olhos
Que fogem, assuustados, dos meu!

Talvez escrevesse

Talvez escrevesse para dizer que te adoro
Ou que simplesmente não te adoro.
É tal o estado de contradição dentro de mim
Que talvez devesse escrever o grito que me percorre!

Talvez escrevesse para exorcizar a minha raiva
Por não ter coragem de te dizer que me magoas
Com esse gesto vulgar
E que, nesse momento, me odeio por saber que ainda te adoro mais.

Talvez escrevesse para contar uma história bela
De um príncipe e de uma princesa que viveram felizes para sempre,
Mas não gosto dessa expressão.
Não gosto do tempo a que se refere: a vida!

Talvez escrevesse sobre ela e aqui deixasse o meu mais profundo lamento!
Talvez escrevesse sobre as flores murchas que uma vez me ofereceste
E referisse o teu sorriso sarcástico.

Talvez te odeie por preencheres todos os versos da minha vida,
Talvez te adore por me fazeres ser cem pessoas ao mesmo tempo,
Talvez te deseje por essa chama viva que tens dentro de ti.

Talvez me odeie porque não te consigo odiar.

Ontem não escrevi

Ontem não escrevi com medo que as minhas palavras
Fossem meros conjuntos de letras.
Ontem não escrevi porque a minha mão pesava
E porque o meu coração estava oco.

Ontem não escrevi por dó do meu estado de inquietude.
Os meus olhos não quiseram ler palavras belas
Nem descodificar enigmas escondidos nelas.

Ontem não escrevi porque não resisti à dor de não o ter.
Ontem não escrevi porque chorei desalmadamente.
E ontem perdi-me e voltei a encontrar-me
No simples acorde de uma viola.

Hoje escrevo

Hoje escrevo sobre um nada que nem sequer existe.
Não sei porque escrevo. Será dom? Será talento?
Será necessidade?
Hoje escrevo sobre algo indefinido, tal como eu!

Hoje ele fez com que eu perdesse o meu rumo
E agora estou perdida.
Ouço a chuva a bater na vidraça, o seu toque intenso
E bruto. Ele fez-me o mesmo.

Hoje escrevo porque o quero, mas não o amo.
O amor constrói-se. Ele só me deixa ruínas
De um sentimento que não o nosso!
Hoje escrevo porque entre nós o silêncio é mais forte.

Hoje escrevo porque choro sem derramar uma lágrima.
E porque meu coração já não existe.
Tenho veneno dentro de mim.
Já não vivo, agonizo esperando a misericórdia dele.

Mas ele é cruel. Ele nunca sentirá compaixão nem dó
Nem piedade. Ele vive o momento.
Ele não me pertence porque eu tenho medo do hoje e ele receia o amanhã.

Refúgio na solidão

Tenho um nó na garganta. Quero falar e não consigo!
Dói-me o peito! Como dói! Quero sentir e não posso!
Dói-me a alma! Quero ser e não sou!

Mas dói-me mais ainda esta noite em que me abandonas.
Passas por mim e rejeitas aquilo que o meu olhar inocente
Tenta, em vão, dizer-te!

Estou tão só! Tão só!
Queria encontrar um país pequenino,
Onde os sonhos são flores e as ruínas deles
Pedacinhos de nuvens que desaparecem quando o sol brilha!

Estou tão só! Preciso de água, de luz, de vento, de cuidado!
Não consigo crescer com todas estas ervas daninhas à minha volta!
Quero-me refugiar na minha semente!

Refugiando-me do medo

Não imaginas o medo que dentro de mim sinto.
Pensas que sou forte e capaz de vencer.
Pensas que sou ousada e que avanço sem pensar que posso escorregar.
Tu não me conheces, meu Amor!

Tenho medo daquilo que não sinto,
Do que não digo e do que digo, do que ouso querer!
Até de sonhar tenho medo!
E esse medo é um gigante que esmaga o meu triste coração.
Em mil pedaços o transforma; com apenas uma mão o apanha
E atira ao ar!

Não sei onde estou! Estou apenas com esse meu medo.
Estou desesperada! Não tenho um sítio que me acolha!

Medo, deixa-me! Não voltes hoje! Hoje não!

Refugiando-me de ti

O tempo passa e tu não chegas;
O tempo pára e tu não chegas;
Olho para aquela porta e tu não chegas.
Volto a olhar e tu não chegas.

Naquela noite deixaste-me voar para depois me roubares as frágeis asas.
Naquela noite deixaste-me a desejar a ternura dos olhos teus.
Olhei para a porta e tu não chegaste.

Não sei o que aconteceu e hoje não o quero saber.
Não sei se lamentaste não me ter visto
Ou se sorriste.
Será que esboçaste aquele teu sorriso de satisfação fingida?

O que nos aconteceu? Seremos, de facto, nós?
Eu quero fugir de ti prendendo-me a ti.
Eu não quero sofrer desta paixão que me amarra brutalmente a ti.
Preciso de encontrar um recanto secreto.
Preciso de um espaço meu.
Assim vivo: refugiando-me de ti e querendo-te junto a mim...

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Refúgio da alma

Aqui jaz meu corpo frágil,
Vagabundo de mim,
Amante daquilo que sou.

Aqui jaz meu corpo inerte,
Fraco. É um no meio de muitos.
Não tem um abrigo, a chuva intensa fere-o,
Mesmo estando morto.

Mas a minha alma junto dele repousa.
Brilha, eleva-se nos céus negros
Rodeados de corvos sagazes.
Mas minha alma junto dele habita!
Desce agora ao refúgio que a acolheu
Quando a madrugada a ofuscou com os seus raios de sol pálidos.

Aqui jazem meu corpo e minha alma.
São dois elementos, são um só elemento,
Uma só matéria, uma só esperança.

E é aqui, neste local frio e pouco iluminado,
Que tudo o que sou morre e se completa.