segunda-feira, 23 de abril de 2007

Oiço uma voz que não a tua.
Onde estás? Onde estás?
Percorro corredores escuros
Para a encontrar.
Perdi-te; tenho de te reencontrar.

E essa voz vai-me guiar na escuridão.
E essa voz vai dizer-me onde estás.
Preciso de te abraçar outra vez
E escutar a tua voz meiga
(Que todos desconhecem...)...
E na mistura do passado com o presente
Descubro sentimentos em mim escondidos.
Não sei o nome (ou talvez saiba, mas estou demasiado cansada
Para os revelar - fazem-me sofrer).

E na mistura da minha mão com a tua
Descubro carinhos que desconhecia em ti.
Tudo está gravado na memória;
Tudo está gravado e bem guardado no coração.

(Sim, está no sítio mais puro. Ninguém observará
A lembrança daquele momento. Dorme em paz.)
Preciso desse veneno a correr nas minhas veias.
Preciso desse frasco todo de veneno para que a minha morte
Chegue depressa e não seja dolorosa.

Dá-me esse veneno cujo antídoto não existe.
Dá-me esse veneno, rogo-te!
Não quero estar aqui. Não posso.
Não sou necessária.
Deixa-me ir para junto do meu anjo.
Eu sei que me queres mal,
Mas não te conheço!
Queres destruir-me,
Queres vencer-me,
Queres matar-me!

Afinal, quem és tu?
Invejas-me?
Odeias-me?
Amas-me?

Não te sou indiferente.
Não te amo e não te amo.
Nem sequer sei o que é o amor.
Nem sequer sei o que é amar.

O Camões diz que "é um fogo que arde sem se ver",
Mas eu não entendo ou não faço um esforço para entender.
E tudo isto apenas porque estou cansada
E ninguém percebe.

E tudo isto porque me ofereceste um sentimento diferente
Que desconhecia, mas que me prende a ti e não me deixa dormir...

domingo, 22 de abril de 2007

Hoje quero desistir de mim. Desistir de nós.
Sinto o amargo sabor da derrota.
Sinto que perdi o que nunca me pertenceu.

Mas também sinto a força do teu desejo reprimido,
A do meu desejo reprimido e inconfessável.
E hoje quero apenas desistir...

Amanhã será um novo dia.
E eu sei que vou acordar sem forças para lutar
Ou sequer para me levantar da cama
E sorrir àqueles que me rodeiam.

(Sorriso falso, fingido. O meu sorriso pertence-te.)
Hoje vi o mar. Hoje vi ondas.
Hoje revi a minha vida naquela praia.
Hoje revivi sentimentos e momentos de um passado muito presente.

Hoje vi as estrelas. Hoje vi o céu.
Hoje revi pedaços de luz cujo rasto perdera.
Hoje revivi o nosso sonho, o meu sonho.

E hoje quero chorar. E hoje não tenho vontade de me esconder
Nem vontade de dizer que não sofro.
E hoje quero apenas dormir, dormir... dormir para sempre...
Vou-te contar um segredo:
Hoje chorarás.
Escreves,
Lembras-te de momentos do passado
(Eu sei que são do presente!),
Sorris.

E pensas adormecer feliz.
Mas eu perturbarei o teu sono encantado
E farei com que acordes assustada a meio da noite.
Irás para uma floresta negra; pensarás que o vais encontrar.

Mas estás enganada! Eu estarei lá à tua espera
Para te arrancar o coração sem dó nem piedade.
Magoar-te-ei e deixarei cicatrizes que nunca sararão!

Ah! Doce vingança... Imagina-te a viver sem coração!
Não sentirás... (E de repente mudo de ideias!)
Não! Eu quero que sofras... Fica com o teu coração
E vive o teu pesadelo. Eu estarei a deleitar-me
Com o espectáculo magnífico da tua destruição!
Mais um dia que chega ao fim
E as palavras de outrora já não me pertecem.
Têm medo de mim. O meu sorriso triste não as cativa,
O meu choro amedronta-as.

Mais um dia que chega ao fim
Sem que a minha vida mude.
Ainda é (e será...) um barco à deriva do sentimento.

Falo com eles e com elas. Todos me bajulam.
Todos me sorriem. Nenhum entende o grito que me sufoca,
Nenhum entende o medo que me faz fechar os olhos e desistir...
Deixa-me só. Deixa-me conversar com as paredes brancas
Onde faço esboços de poemas;
Deixa-me aqui sozinha no meu mundo.
E deixa que as lágrimas me caiam.
E não me abraces.

Sai! Já disse! Não quero que vejas o vazio
Que há dentro de mim! Não quero que tenhas pena
Ou apenas que te comovas!

Sai daqui! Não sei quem és.
Só sei que estás a dar cor às minhas paredes
E a quebrar o silêncio que impera na minha casa.
Tenho vontade de chorar.
Tenho uma vontade imensa de chorar
E gritar. E gritar até ficar sem voz.
Até desmaiar de cansaço; até ficar com os olhos
Vermelhos e inchados; até exorcizar toda a raiva.

Tenho vontade de chorar sem razão.
Apenas quero chorar por razão nenhuma.
Chorar, chorar... Ou já não terei lágrimas?
Chego a casa. Silêncio.
Paredes brancas e silêncio.
Escuridão e silêncio.

É a minha casa. Paredes brancas,
Poucos móveis e silêncio.
Não sei iluminá-la.
Poderia pôr a música a tocar,
Mas não quero que os vizinhos se apercebam
Da minha solidão.

Vou dormir. Cama vazia;
Paredes brancas e silêncio.
O luar apenas me permite distinguir sombras.
E é a dele que aparece...
E assim adormeço...
Não quero esperar mais.
Não posso. Nao mo permite o coração.
Amanhã vou-me esquecer do mundo
E vou a tua casa apenas para te sorrir.

Não sei o número nem a rua;
Nem sequer sei qual é a casa,
Mas vou encontrá-la
Porque já não posso esperar mais.

Amanhã vou-te sorrir
E tu não vais entender a minha mensagem.
Os meus olhos vão brilhar, mas terei de os apagar.
Tu brilharás e ninguém vai perceber.
Apenas eu.
Estou cansada. Profundamente cansada.
Não sei se tenho forças para dormir.
O cansaço, o terrível cansaço, não me deixa descansar
E chego ao dia seguinte mais cansada ainda.

Vejo pessoas, tantas pessoas. E nenhuma me cativa.
Nenhuma me prende; nenhuma se quer deixar prender.
Estou tão cansada de ser só
E ter de pintar amigos em nuvens
E copiar melodias que não me pertencem...
E mais uma noite fria chegou.
E a cama vazia chama por mim.
E a tua cama vazia chama por ti.

E uma lágrima cai na minha almofada
E junta-se aos fragmentos de sonhos
De noites anteriores.

E todos os pedacinhos da minha vida
Se cruzam na noite fria em que me encontro.
Os sorrisos, as memórias, as lembranças dos beijos,
Os sonhos...

E o amanhã chega de mansinho.
E eu não consegui dormir.
Adormeço quando a luz enche o meu quarto
E não mais acordo até tu me despertares...
Sabes bem que choro. Por ti.
Por ti e apenas por ti.
E caio no chão gelado que me suporta.

Sei bem que choras. Por mim.
Por nós e apenas por nós.
E encostas-te nas paredes brancas.

E eu estou aqui e tu aí;
E o pensamento é o mesmo.
Não foi o último beijo.
Por isso não o demos.
Por isso não estamos juntos.
Promete-me que não revelas o nosso segredo.

Não sei o que éramos nem o que somos.
Não sei como nos conhecemos.
Nem sequer me lembro da primeira vez que falámos.

Mas temos um segredo. Eles não sabem.
Eles não têm o direito de saber.

Eu sei que te ris quando me encontras
E pensas na ignorância deles.
Eu penso e também me rio.

E na nossa cumplicidade arquitectamos beijos
Que já trocámos...
E murmuramos promessas que se perdem nas nossas vidas...
É um segredo que a Primavera esconde.
É um rascunho de paixão que te dou e me dás.
É apenas um choro feliz quando me dás a mão
E sorris.

E no teu sorriso vejo o desejo,
A confiança.
E no teu olhar brilhante vejo a chama
Do teu coração que arde sem que o mundo se aperceba.

E aproximo-me de ti. E olho-te nos olhos.
E beijo-te. E não falo, mas digo que te amo.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Vivo no pomar.
Sou tão feliz!
Os aromas suaves
Dos frutos misturam-se
Com o meu corpo.

As joaninhas voam,
As borboletas pousam
Nos meus cabelos compridos.
Contemplo-as com os meus olhos negros.

São belas! Envolvem-me na sua magia
E fazem-me rodopiar de contentamento.
Tanta cor! Tanta vida! Tantos sorrisos...

(Acordo estremunhada. Foi apenas um sonho
Que eu tive. Um sonho apenas.)
Colhe as tuas rosas no meu jardim.
Pica-te nos meus espinhos
E deixa-me curar essa ferida.

Colhe as minhas rosas no teu jardim
E deixa que eu me pique nos espinhos
Para que possas curar essa ferida.

E constrói comigo um roseiral
E leva-me lá todas as madrugadas
E recita-me poesias d' Ele
E deixa-me adormecer nos teus braços.
Não me deixes aqui sozinha
Entregue à Primavera.
Fica comigo esta noite
E mostra-me as estrelas
Da tua vida.

(E num murmúrio de silêncio
Acaricias-me a face, beijas-me a testa,
Agarras a minha mão e iluminas a minha escuridão.)
Tenho castelos feitos de auroras.
Sinto o perfume dos teus cabelos castanhos
Na minha almofada.
E sorrio quando envergo um vestido simples de princesa.

Tenho tardes de paixão, tenho o sol a iluminar o teu sorriso
E a oferecer-me o mel dos teus lábios quentes.
E sorrio envergonhada quando dizes que me desejas
E que me queres junto a ti.

E na Primavera da minha vida
Descubro aromas inefáveis,
Flores raras, raizes de sentimentos.

E geramos frutos chamados lembranças
Para que adormeçamos felizes
Quando a noite chegar e não estivermos juntos.
Gosto da simplicidade do teu olhar,
Da euforia das tuas manhãs
Que, mesmo plenas de nevoeiro,
Têm um brilho especial.

Gosto do teu coração honesto
Que, apesar de frágil, é forte.
É imenso, bate descompassado
Ao ritmo da vida.

Gosto do teu sorriso,
Da tua voz melodiosa.
Poderia passar horas a conversar
Contigo que ouviria sempre uma palavra amiga.

É isso mesmo: Amizade.
Partilha de dores, de medos,
De histórias, de vidas.

E eu estarei aqui. Estarei aqui quando o Sol nascer,
Quando a Lua sorrir na negra noite
Ou apenas quando a tua vida for nevoeiro
E não tiver estrelas ou sorrisos.

domingo, 1 de abril de 2007

E neste meu passeio pelo jardim
Descubro cores que desconheço.
Vejo violetas castas, margaridas impuras,
Papoulas vermelho-sangue e rosas carmim.
E subitamente a dor de que padeço
Se revela nas escrituras
De um Destino cravado na flor de jasmim
Quando sinto o caule espesso
A libertar todas as minhas amarguras...
(Para onde vai a minha lágrima?)

Chora, menina.
Não guardes a dor no teu coração.
Deixa a lágrima rolar na tua face.
Deixa-a cair na almofada para se juntar às outras
De há muito tempo atrás.

(Não a posso perder ou estarei perdida...)

Leva-a, tristeza. Não deixes que a menina
Perca o brilho dos olhos grandes e vivazes...
(Não. Eu quero ser triste!)
Não oiças o que te diz o seu coração confuso e magoado.

Ela quer ser. Apenas ser.
(Não quero. Quero fugir.)
Menina, dá-me um abraço.

(Eu sei que também és como eu.
Apenas queres desculpar o que não és
Com fragmentos fingidos de uma alma que não é tua.)
Deixa-me só. Não tenho medo de estar sozinha.
Não tenho medo do escuro nem dos ruídos silenciosos
Que escuto na noite misteriosa.

Vai-te embora e não voltes.
Não quero que destruas os meus castelos de solidão
Nem as ruínas da minha frieza.
Deixa-me estar aqui a contemplar a luz da lua.

(E oiço murmúrios de pedaços de silêncio
Que o meu Amor se esqueceu de levar.
E oiço cânticos entoados por anjos maus...)
A parede branca acolhe a minha lágrima.
Estou numa sala vazia.
Tenho uma túnica negra
Que me purifica.

Estou só. Estou no centro da sala.
E estou feliz. Todos se foram embora.
Já não me sufocam. Já não tenho o sabre
De ouro a ameaçar a minha garganta.

Posso falar finalmente. Posso gritar aqui.
Sozinha. Completamente só. Sem ninguém.
Escuto uma música cândida proveniente dos céus!

Os puros anjos negros juntam-se a mim
Para festejar a minha liberdade,
Para festejar o meu sorriso.
Queria escrever coisas sem sentido.
Quero pintar barcos nas nuvens,
Abraçar a lua e o sol,
Trazer a chuva no Verão,
Voar com os passarinhos pequeninos
Que cantam para mim quando a Primavera chega.´

Queria fugir daqui e ir para qualquer lugar.
Não me interessa onde. Preciso apenas que chegues
Neste momento, me pegues na mão e me leves daqui
Sem dizer nada a ninguém.
Leva-me para junto do meu túmulo de flores do campo
E vela o meu sono profundo.
Estou tão cansada.
Quero estar sozinha.
Não quero pessoas.
Estou tão cansada.
Não lhes quero sorrir
Nem falar.

Quero que me deixem só.
Eu e as paredes riscadas
Pela minha dor.
Quero que me deixem chorar
Sem razão e não me olhem com pena.
Quero sair desta prisão.
Não quero dar um título à solidão
Para que tenhas pena de mim.
Não quero fazer exortações
Para que me confrontes.
Não quero escrever
Para que não saibas o que sinto.

Afinal, não quero sentir, não quero chorar,
Não quero morrer neste naufrágio que é a minha vida.
Afinal, não quero que me craves sabres de mágoa no peito,
Não quero ver o meu sangue a sujar o mármore branco
Que acolhe o meu corpo antes de partir.
E eu estou aqui, apenas aqui.
Imóvel enquanto os meus olhos entristecem
E a minha alma sai do meu corpo
Para se refugiar no vazio.

E eu estou aqui sozinha,
À espera que chegues
E me abraces antes de o crepúsculo chegar
E me beijes com paixão e me digas para ficar.

E eu estou aqui serena,
Sem esperança. Espero pelo mar
Cruel que me sorri falsamente
E espera que me dê aos seus búzios.