terça-feira, 20 de junho de 2006

Pérfida Saudade

Em teus abraços meigos
Me refugiei.
Em teus beijos alados
Escondi o desespero.

Porém descobri que és pérfida.
Iludi-me em relação a ti.

Escutaste os meus lamentos
Durante noites a fio,
Aconselhaste-me,
Deste-me esperanças...

Fingiste compreender aquilo
Que eu sentia!
E eu, cega, acreditei em ti.

Contaste-me histórias de príncipes
E princesas que viveram felizes para sempre,
Mas esqueceste-te de me dizer que o "para sempre"
Não existe;

Consolaste-me enquanto sofria
De saudades daqueles com quem
Não podia estar.
Mas esqueceste-te de dizer que
Esse seria o meu futuro.

És cruel, és falsa.
Usas tantas máscaras!
Porquê, Saudade?

A morte da Saudade...

Tudo tem o seu fim. Tudo se transforma, tudo muda. Mas nem tudo se cria. Mas nem tudo podemos erradicar. Com a Saudade acontece algo similar! Nós, humanos, não a podemos destruir; ela é que se destrói sozinha, completamente isolada de tudo e de todos...
A Saudade morre. Lenta e dolorosamente morre. Não resiste à ausência física, à distância abismal instalada no caos humano. Facas afiadas trespassam-na impiedosamente. O sofrimento é visível no seu rosto moribundo e desfigurado. Toda a dor que suporta espalha-se pelo seu corpo enfermo. E, num momento incerto, os seus olhos deixam de brilhar. A matéria evapora-se no ar, desaparece misteriosamente; a alma percorre caminhos jamais imaginados; não tem um rumo.
Ninguém a vela, ninguém lhe leva uma flor. Ninguém. Agora está completamente só, vazia. Pobre Saudade! Era bastante ingénua enquanto menina, não encontrava maldade em habitar na alma humana; contudo, à medida que foi crescendo, sentia-se uma intrusa, ouvia os lamentos que provocava, o choro queimava-a, deixando-lhe cicatrizes...
Agora que está morta e completamente só, já pode descansar. Já pode reconquistar a inocência perdida há muitas eras atrás...

Saudade da Saudade

Abandonaste-me, sombria Saudade.
É de ti que sinto falta,
É em ti que penso
Quando nada sinto.

Deixaste-me perdida
Nos teus frágeis castelos de areia.
Não te preocupas comigo.
É-te indiferente se o mar os destrói,
Levando consigo os meus búzios partidos...

Tenho saudades tuas, Saudade.
Saudades da tua mão macia
Que acariciava os meus cabelos;
Saudades dos teus ósculos ternurentos
Que me embalavam na solidão da noite...

Sim, Saudade, já não sei se te tenho,
Se te sinto...
Se te quero...

Saudades do Futuro!

Lento futuro...! Por onde andas? Tenho saudades tuas! Saudades das tardes primaveris em que me contavas histórias de países de contos de fada, em que me prometias tocar o mundo, em que me prometias a felicidade... Onde estás, Futuro? Porque é que não me vens buscar? Porque é que não trazes os teus cavalos alados?
Futuro, que saudades que eu tenho! Saudades dos tempos do Verão em que recolhíamos os frutos do amor, em que trocávamos palavras envergonhadas de afecto e respeito... Que saudades dos teus sóis e das tuas luas que sorriam quando eu os olhava e decifrava os seus mistérios...
Futuro, que saudades do nosso passado em comum! Que saudades das noites de Inverno em que nos sentávamos na escuridão para ouvir o crepitar da lenha na fogueira de calor humano... Que saudades da neve pura que enregelava as minhas mãos e as tuas e que nos fazia sentir vivos... Que saudades das árvores despidas e protectoras que nos abrigavam da chuva intensa que, afinal, nos queria purificar...
Futuro, que saudades das tardes outonais e coloridas em que observávamos os pássaros que se iam embora, em que pintávamos fogueiras de S. Martinho na luz da Natureza, em que sentíamos o cheiro das castanhas no ar, em que pegávamos no papel de jornal e nos sentíamos pessoas...
Futuro, que saudades...

Amanhecer na Saudade...

Oh! Que nuvens de tristeza pairam no ar!
Que vento furioso acordou as pequenas flores...
Céu encoberto de angústia, de dor...

Lágrimas de orvalho caiaram
Seres e vidas.
A noite, majestosa noite,
Silenciou as almas perdidas...

E a aurora chegou...
A Saudade bradava:
"Brava Fortuna, o que me fizeste???"!

Não obteve resposta. Apenas sentia
A fúria do vento a dilacerar o seu ser...
Não obteve resposta! Apenas raios e trovões
Iluminaram o ambiente,
Criando um cenário aterrador...

Amanhecer na Saudade
Não é amanhecer...
É perecer...

Saudade

Irónico. É uma palavra estranha. Passa despercebida à primeira vista. Mas, é tão magnânima na sua existência. Irónico. Apenas existe na Língua Portuguesa, o idioma em decadência.
É Saudade, é sentimento. É o espelho dos sentidos na distância. É prova do crime cometido por ele, por mim, por ti, por nós que nos escondemos na subtileza dos nossos gestos.
É Saudade. Apenas existe dentro de cada um espalhando os seus tentáculos de melancolia, provocando a lágrima que queima a face dilacerada pelo tempo...
E apenas se exibe. Apenas fere, rasga o manto de seda pura que envolve cada alma, tornando--a vulnerável... E apenas dói, apenas...
Mágica. Assim é a Saudade. Ostenta a emoção e sente-a. É verdadeira. Não é imitação.
É um truque habilmente arquitectado. Progride lentamente, acompanhando a ondulação... Avança, feroz, para derrubar o barco à vela que tenta não naufragar na bravura do oceano...
É Saudade, é veloz... É aquela que, no silêncio da noite, murmura palavras inexistentes e afaga os corações feridos...

Saudade, onde moras?

Saudade, onde moras?
Diz-me. Desvenda esse mistério
Que encurrala as horas
Nos castelos que formam o teu império...

Saudade, onde são os teus palácios
De lágrimas e dor?
Onde jazem os túmulos caiados
De melancolia e amor?

Saudade, onde vives?
O que escondes?
Para que servem as tuas muralhas?

Saudade, onde te encontras?
Em mim ou em ti própria?
Nas flores ou nos frutos?
Na terra ou no céu?

Saudade, onde moras?

sexta-feira, 16 de junho de 2006

Amor Platónico...

És perfeito.
O melhor entre os melhores.

Venero o teu olhar doce,
Delicio-me quando observo os teus gestos,
O teu ser.

Vejo-te inalcançável,
És apenas uma utopia,
Um sonho que eu ousei ter,
A quimera mais suave que acordou o meu sorriso...

A tua voz acalma a noite que grita
E chora porque as nuvens escondem
A lua. A tua serenidade dá vida ao sol
Escaldante que queima a minha pele.

Estou em ti.

quinta-feira, 15 de junho de 2006

Um amor para recordar...

No fundo da sua memória, encontrou-o. Lá estava. Um olhar impenetrável, um brilho suave e discreto. Ainda se lembra do dia em que o viu pela primeira vez. Sempre cavalheiro, educado. Sabia, sentia que algo mais iria acontecer. Não iriam ser simples amigos. Não poderiam ser apenas companheiros de brincadeiras. Não, teriam algo mais. E tudo se concretizou!
No meio de frases inacabadas, de sussurros meigos disse-lhe o que sentia, o que desejava. Mostrou através daquele olhar delicioso, maroto a magnitude do sentimento que nutria por ela...
O misterioso Outono corria lentamente. Um beijo na mão foi o sinal divino. A chuva aconchegava dois corpos, duas almas incompletas que se encontrariam no fim dos tempos...
Ela, envergonhada, gravava todos aqueles momentos passados com ele, saboreava cada palavra por ele proferida, olhava a sua face...
Mas, a distância e o implacável passar do tempo fizeram com que tudo se desvanecesse... E ambos se transformaram numa recordação, num fragmento do passado...
E, em cada Outono, encontravam-se...

O amanhecer do Amor...

Já a noite escura e silenciosa
Abandonou a floresta do Amor.
A aurora plácida acolhe-a afavelmente,
Fazendo-a esquecer o horror
Vivido anteriormente!

As pequenas flores, que se haviam escondido,
Espalham o seu aroma doce por toda a parte.
São as princesas do amor...

A lua e as estrelas cederam o seu lugar
Ao majestoso sol que lhes dá a luz
Da clarividência.

O céu pintou-se de um azul sereno...
Abraça aqueles que quase o tocam,
Que o desejam...

O orvalho refrescou o Amor,
Deu-lhe forças...
Conseguiu que ele renascesse das cinzas
Como fénix livre e singela...

Amor Obsessivo

Tudo pára. Tudo fica preso
Na eternidade de um minuto.
Obsessão. Loucura.
Posse.

Ele e ela. Os dois sós
No meio do mundo.
Ele e ela não vivem.

Respiram o mesmo ar.
Bebem a mesma água.
Aquecem-se no mesmo fogo.
Cheiram os mesmos aromas.

Ele e ela estão à beira do precipício.

Começam a sufocar.
A água não lhes dá vida.
O fogo queima-os.
Os aromas transformam-nos.

Ele e ela desapareceram.

Amor quase impossível...

Becos de desespero em que te vejo
E em que me vês...
Ruínas de sonhos,
Fragmentos de pensamentos...

Quero-te ver e não posso.
Queres-me ver e não podes.

Estamos longe, demasiado longe
Fisicamente. Estamos perto,
demasiado perto emocionalmente.

És um Deus perfeito devido às tuas
imperfeições.
Tens esse amor quase impossível
Dentro de ti e consegues transmiti-lo
Para mim.

Tens a semente, não o fruto...

Amor de Perdição...

Perco-me em ti...
As palavras que me sussurras
Transformam-se em arrepios de paixão...

Dias em que me encontro em ti,
Em que te encontras em mim...
Em que nos perdemos nos sonhos
Que temos...

São meus e são teus.
Na noite que nos esconde
A tua voz faz-me perder
Os sentidos.

A minha voz acalma
O teu desejo.
A minha respiração
Acende-o.

E chega o momento
Em que nos perdemos
Nesse amor que conhecemos,
Que mostramos,
Mas que não definimos...

Amor

Amor: no dicionário é definido como "sentimento de afecto profundo; paixão". Em mim, em ti, em nós é mais do que isso. Mas talvez não sejamos capazes de o definir. Já Camões tentou com o seu famoso soneto "Amor é fogo que arde sem se ver/É ferida que dói e não se sente...", já vários tentaram e ninguém o conseguiu...
Talvez o amor seja o mais profundo sentimento que existe; talvez seja uma pequena parte daquilo que cada um é; talvez uma grande parte. Apenas temos a certeza de que existe e que alcança a maioria dos seres humanos. Vinca a sua presença em cada ruína de alma, em cada espaço vazio, em cada beco de solidão para que o sofrimento diminua.
Talvez o Amor seja um conjunto de incertezas e talvez só alguns o consigam descobrir verdadeiramente; não se pode excluir a hipótese de haver uma confusão entre amor e paixão, entre amor e afeição, entre amor e comodismo...
O Amor atravessa tudo para se encontrar a si próprio, mas nem sempre consegue. Há tanta Inveja que o consegue derrubar, destruir por completo as suas frágeis muralhas de ternura...
É Amor. É aquilo que não sabemos o que é, mas que conhecemos e sentimos...
É o quadro animado do final da existência...

sábado, 10 de junho de 2006

Mar de incertezas...

...,
não sei nada neste momento. Só sei que te quero, que tu me queres. Mas estou perdida nas vagas enormes do meu próprio ser. Tratas-me como se fizesse parte de ti, tratas-me como se te fosse indiferente. Não me sinto presa e isso deixa-me baralhada. Como eu gostava de me prender no teu ser, de tocar a tua alma, de te fazer feliz...
Não sei nada. Só sei que, dentro de mim. as emoções se sentem baralhadas, sem rumo. A mão que escreveu o meu destino, o nosso destino, enfraqueceu... Já não há força...
Sinto-me feliz contigo; quando me tocas, quando me acaricias, quando me fazes sentir mulher, quando me completas. Deixas um sorriso na minha face, afastas as inseguranças durante algum tempo. Mas, quando estou só e sem notícias tuas, o ciúme possui-me. Quero saber onde estás, se pensas em mim, se sentes a minha falta...
O que é, para ti, a nossa relação? É um enigma, um mistério que gostaria de desvendar. Porém, não tenho pistas, nem mapa, nem guia... Oh, meu Deus! O que faço???
Anseio pelo teu sinal, pela tua presença... Oiço os murmúrios do meu ser... Chamam-te para o meu lado, querem-te, desejam-te...
Quero-te abraçar, sentir o calor do teu corpo. Preciso que sejas o meu porto seguro; preciso que a tua magia se reflicta em mim...
Mas não sei... As incertezas malditas, as dúvidas possuem-me... Liberta-me, por favor...

A magia do Tempo...

Pura, cristalina...
O feiticeiro poderoso
Que a emana conhece a sua sina...
O seu querer desventurado
Divaga por entre as poções inequívocas...

Arrepio de afecto.
Mágoa da paixão
Pelo Tempo,
Pela sua magia...

Não há nada. Não é nada.
Apenas passa sem saber o que quer.
Quer atravessar alguém.
Sente-se desesperada!

Oh! Vida maldita!
Não deixas que a magia se espalhe!
Não deixas que a brancura se apodere
Dos corpos servis que a ti se dedicam!

Tempo de magia! Tempo de ter tempo
Para que as setas do amor se espalhem!

Ó tempo deveras cruel,
Durante quanto tempo
Espalharás a magia
Do teu fel?

Todo o tempo do mundo...

Hoje tive um sonho. Foi tão estranho: eu possuía todo o tempo do mundo! Fazia o que queria e não tinha de dar explicações a ninguém. Tinha todo o tempo para amar, querer, desejar... Tinha tempo para mim e para ti, tinha tempo para todos. Vagueava por entre as ruas. Para os outros, todos os relógios se moviam freneticamente, implacáveis; mas quando eu os consultava, nada via! Estavam parados! Era como se me estivessem a dar um presente.. Aquela dádiva fez-me descobrir o tempo do Tempo, o destino do Destino, a alegria da Alegria, a tristeza da Tristeza, a perda da Perda.
Não havia tempo! Era tudo tão estranho! Via-me a crescer por entre as flores silvestres, a tocar a alma dos outros... Tinha todo o tempo do mundo! Sem horas, sem nada! Apenas eu! Desprovida de incertezas, de dúvidas, podia cavalgar livremente, sentir a brisa suave no meu rosto... De vez em quando, algo me sussurrava "Aproveita! Hoje é o teu dia! Podes ser verdadeiramente tu..."!
Quando acordei, as memórias de tal noite surgiram de repente na minha mente... Um turbilhão de emoções apossou-se da minha alma e eu caí...na minha realidade! Não tinha todo o tempo do mundo; o meu pequeno globo estava condicionado! Eu não era importante, mas sim os outros; eu não tinha poder... Era o meu mundo, mas eu não podia sobrevoá-lo...
E foi um sonho que eu tive...

Horas vãs...

São horas em que me encontro
Só. Não tenho objectivos,
Não tenho razões para viver.

Apenas sinto o amargo tempo
A acariciar a minha pele marcada
Pela dor, pelo sofrimento.

São horas em que me encontro
Desprotegida. Estou à mercê
De todos e sou incapaz de me defender.
Não tenho forças para viver.

Apenas sinto o vil tempo
A torturar o meu ser marcado
Pela angústia e solidão.

São horas em que me encontro vã...
Não tenho nada, não sou nada.
Um espírito vão, um corpo vão...
Alma vão em corpo vão.

Complementaridade!

Tempo e Destino

"Eu sou o Tempo! Todos falam de mim, dirigindo-me palavras amargas ou doces, consoante o estado de espírito. Ninguém é capaz de ser imparcial, tentando compreender a minha árdua posição de Pai e Padrasto. Sinto-me só... Os meus filhos, por vezes, olham-me com desprezo. Não querem ser um traço visível da minha passagem. Nas suas expressões vejo faíscas de raiva, de horror... Nada posso fazer. Há algo acima de mim que escreve o livro da vida. Eu sou apenas um mensageiro que é constantemente humilhado, rejeitado. As minhas filhas mais velhas, as Horas, são tristonhas e apagadas, embora mostrem o contrário; os Minutos, os meus filhos do meio, são mais alegres, activos e inconstantes; os mais novos, os Segundos, são velozes, esforçados... Gosto de todos de maneira igual, sinto que temos a capacidade de nos completarmos, mas tenho a certeza que eles não sentem o mesmo! São jovens..."
"Eu sou o Destino! Sou omnipotente e omnisciente. Conheço os detalhes da existência de cada um. Sou solitário e ajo segundo aquilo que as minhas cansadas e calejadas mãos escreveram. É muito complicado traçar o rumo de cada um, de cada comunidade, da Humanidade. Tenho muito trabalho e preciso de muita concentração. Cada erro é fatal e sinto-me frustrado quando isso acontece. Uma linha mal traçada e tudo se desvanece... Apenas ficam as cinzas do nada.
Sou uma espécie de Deus. Vigio atentamente os passos do meu mensageiro, o Tempo, dando
-lhe algumas orientações; todavia, ele não me reconhece, apenas sabe que existo. Não gosto de me dar a conhecer, tenho muito medo do exterior e dos pequenos mundos que, entretanto, foram criados...
Aprecio a beleza do obscuro, as linhas invisíveis dos sentimentos, a serenidade e a harmonia dos elementos... Vida, tão bela vida...!"

A morte do tempo...

Silêncio! O relógio parou.
Não há horas, minutos, segundos.
A escuridão assola o tempo,
Que, por instantes, dá tréguas.

Tu és aquilo que o tempo faz de ti.
Tu és a rotina, o hábito sufocante
Que te lembra a obrigação,
Que vinca a tua solidão disfarçada.

Como o teu tempo parou,
Como o meu tempo parou,
Podemos fazer o que queremos.
"Por fim vivemos!", exclamamos!

Ah..paz! Um encontro com um "eu",
Com um "tu",
Com um "nós"...
E tudo devido à morte do Gigante da Solidão...

Contudo, essa sua perda de vida é efémera...
Renascerá mais forte e implacável do que nunca...
Aterrorizará as sombras...
Fará com que as recordações dos fantasmas do passado surjam...

E, com elas, eu e tu não seremos capazes de resistir...
Queiramos ou não,
O destino do tempo não está na nossa frágil mão...

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Tempo...

Tempo: principal inimigo do coração, mas o melhor aliado da razão. Esconde-se nas rugas faciais que espelham a vida, faz com que a jovem semente cresça e dê fruto.
O tempo tem uma personalidade própria: quando se sente triste, oferece-nos cascatas de dor; quando está alegre, a luz ilumina-nos o rosto; quando está zangado, grita; quando está inquieto, sopra...
É um espelho de contrastes que quase ninguém percebe. Está presente em todas as coisas, irrita quase todos. Por vezes, lento e preguiçoso... Outras vezes, veloz e impiedoso... É ele o equilíbrio, a calma.
Falar do próprio tempo é difícil. Ninguém imagina as derrotas que ele próprio já sofreu, apesar de racional; todos o condenam, porque não lhes dá aquilo que querem. E o paciente tempo sofre calado a dor que o dilacera durante a escuridão profunda do seu amanhecer... Pobre tempo! Tão misterioso, subtil, majestoso...
Para muitos é "o" tempo; para muitos outros é apenas "tempo"... Mas, para muito poucos, é "um" tempo...
Esses poucos seres acreditam na existência de vários tempos, acreditam na possibilidade de viver em diferentes épocas... Mas, o tempo corre da mesma forma para todos sendo "o" tempo, "tempo" ou apenas "um" tempo...

quinta-feira, 8 de junho de 2006

Relógio Parado...

Na imensidão das horas,
Que correm iguais,
Um simples relógio feito de agoras
Não resistiu aos ferimentos fatais
Do tempo que o devora...

Os pequenos minutos e segundos
Choram copiosamente...
Arrastam a mágoa da perda
Por entre os ponteiros da melancolia...

A dor, essa, atravessou a plenitude
Do ser, da vida.
Instalou-se na sombra do sofrimento...
Camuflou-se de angelicais afectos.

Mas, por entre o tumultuoso caminho da morte,
O tempo permanece frio, racional.
Observa cada relógio que irá parar;
Calcula cada dor que irá provocar...

Calcula cada mágoa que ele próprio
Irá sentir...
Mas nada faz.
É este o destino...

segunda-feira, 5 de junho de 2006

O expoente máximo da Liberdade...

A quimera. Por outras palavras, o sonho. Este é o expoente máximo da liberdade. Curiosamente, alguns sonhos são misteriosos, estranhos... O nosso subconsciente leva-nos por caminhos jamais imaginados, jamais percorridos e, também, esquecidos. Só uma parte do nosso ser é capaz de guardar o sonho a sete chaves, transformando-o no mistério da vida...
Sonhar é ser livre, é cativar a própria liberdade, percorrer mares e montanhas confiando a sua própria vida...
Vida, a mãe do sonho... Todos os conceitos se unem, se completam...
O sono abençoa a razão de viver da progenitora, acalma a cria indefesa e inapta para enfrentar a selva mundana que espera o momento ideal para se tornar cerrada, negra...
Muitos tentaram descobrir o sonho, tentaram iludir a própria ilusão, mas não tiveram sucesso... A força da quimera é invencível. A liberdade pode ser retirada, mas não totalmente. Quem vive no mundo do sonho é o ser mais livre que existe, aquele que não se preocupa com os falsos sonhos dos outros, aquele que apenas se preocupa em tentar descobrir a alma gémea da pedra preciosa que tem entre mãos... A pedra preciosa delicada e rara que lhe confere tranquilidade, paz de espírito...
E quando os sonhos acabam? A morte chega... Todos os sonhos foram vividos, a praia está deserta... O mar já não possui a clarividência para acariciar a areia fina que se entrelaça na sua plácida espuma...

Personalidade livre...

És como és.
Estás pronto para planar...
As tuas asas percorrem o caminho de lés a lés
Aproveitando o sabor do amar...

Sentes raiva. Podes expressá-la,
Podes dominá-la, deixá-la guiar
A tua alma ou, simplesmente, matá-la...

Podes crer em ti. Podes ser alegre,
Triste, carinhoso, afável...
Podes ser ciumento e possessivo,
Indiferente a tudo e todos.

Podes ser um misto dos céus aprazíveis da meia-noite
Escura apenas iluminada pela luz da lua.
A escolha é tua...

Podes escolher ser livre
Ou viver preso na tua realidade...
Podes optar por ter uma personalidade...

Podes voar...
Brilhar. Amar.
Sentir. Viver.
Crescer.
Moldar o teu ser...
Sem nunca esquecer
A força do teu querer...

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Liberdade para Voar...

Alto, cada vez mais alto um pássaro voa no imenso céu azul. É espontâneo, das suas asas brota a esperança e a plenitude. É uma criatura no mundo e do mundo.
Alto, cada vez mais alto voa a sua vontade de vencer, de se aquecer no sol brilhante que dá luz ao resto da Natureza... Almeja encontrar os seus lugares, sorver a água da vida, bebericar o ar que afaga as suas delicadas penas...
Perto, cada vez mais perto de concretizar a sua quimera: ser livre e libertar os seus iguais! Percorreu um longo caminho para alcançar o trilho certo e, após a lenta e proveitosa transformação pela qual passou, sente-se pronto para calcorrear as sinuosas veredas da entrega ao outro.
Será uma árdua tarefa! Persuadir, deleitar e convencer o outro é complicado! E mais complicado é utilizar a simplicidade e a verdade! E ainda mais complicado será dar liberdade a quem a merece!
Começou mais um ciclo: o pássaro que outrora voava no céu azul abandonou o seu antigo posto. Agora é um ser humano...
Um ser humano?????? Uma criatura maldosa e presa nos preconceitos sociais, nos conceitos de egoísmo, injustiça, comodismo e instabilidade???? Pobre pássaro que, apesar de ter sofrido esta metamorfose, conseguiu manter a sua liberdade. Sentia-se pronto para entrar no circo de feras chamado Humanidade.
Anos e anos se passaram... A criatura livre tentou convencer aquelas que se encontravam estagnadas pelas trevas, aquelas que estavam presas no próprio corpo e nada conseguiu. Estava sozinho no meio de milhões, mas não estava só. Tinha a sua força interior, as suas asas fictícias que lhe permitiam poder planar, colocar-se num mundo peculiar e pleno de odores primaveris, flores coloridas, brisas suaves, árvores frondosas e seguras...
Anos e anos se passaram... Não conseguiu tornar o seu sonho realidade. Passou os últimos anos da sua existência sentado numa praceta antiga e vazia a contemplar o voo dos pássaros.
Aquando da sua divina subida ao mundo celestial, no seu peito pousou um pequeno e calado melro que, muito baixinho, disse: "És livre. Voa, voa, voa. Encontra o teu destino...".