segunda-feira, 27 de novembro de 2006

O meu pequeno refúgio

Tenho um refúgio repleto de flores secas.
Há tanta vida! Há tanta esperança!
Tenho um pequeno refúgio que me faz sentir grande.

Tenho um refúgio que me acolhe quando o coração sangra e alma não vive.
Há tanta dor partilhada! Há tantos sorrisos desinteressados!
Tenho um pequeno refúgio que me faz sentir pequenina!

Tenho um refúgio pequenino e sem chave.
Ninguém o encontra! É mágico! É invisível!
Tenho um refúgio pequenino que se revela ao som da minha voz!

O meu pequeno refúgio é tão simples e belo!
Tem um baloiço de sonhos, uma meia-lua de brilho,
Um escorrega de preocupações!
O meu refúgio é só meu!

Refúgio dos sentidos

Vem,meu querido, vem depressa!
Agarra a minha mão na tua!
Prende os meus lábios aos teus!
Prende teus olhos nos meus!

Vem, meu querido, depressa!
Segue a minha voz suplicante!
Acompanha a minha respiração ofegante
De te ter!

Rasga a seda que nos envolve,
Rasga o papel que ainda não te escrevi
E não me digas que sim!
Rejeita o carinho que te quero dar!
Rejeita, se conseguires!
Rejeita a paixão sagaz que por mim tentas esconder!

Vem para o nosso refúgio!
Deixa que eu me refugie na loucura dos teus braços,
Refugia-te na ternura dos meus...

Refúgio

Este é o meu refúgio pequeno e escuro.
É aqui que respiro sem sentir o ar.
É aqui que grito sem ouvir o tom agressivo da minha voz.
É aqui que me habituo à claríssima luz do dia.
É aqui que não calo o sentimento.
É aqui que uma luz ténue não abraça a minha pele.

Este é o meu secreto e misterioso refúgio.
É aqui que a minha dor é esculpida.
É aqui que a minha raiva é transformada em sussurros de medo.
É aqui que o meu instinto é devorado pela minha racionalidade.
É aqui que a minha pele pelo fogo é torturada.
É aqui que o meu ser é manipulado.

domingo, 26 de novembro de 2006

Sem falar

Esse teu silêncio atira lanças ferozes
Contra meu corpo amante do teu.
Esse teu silêncio mata a minha fome de viver,
Cala o meu grito de piedade e compaixão.
Estamos sem falar. É a nossa realidade!

Mas eu não preciso de falar para dizer baixinho que te quero!
Eu não preciso de falar para me convencer que ainda te vou ter!

Nunca te disse que te queria e que te quero.
Nunca a minha boca proferiu tal infâmia!
Nunca as minhas palavras foram escutadas por ti.
Mas sempre os meus olhos te disseram aquilo que pensas saber.

Sem tocar

Não tocaste, meu querido, o cetim vermelho que acariciava a minha pele.
Ontem não quiseste sentir o calor da paixão que por ti sinto
E que me mata e me faz viver a cada dia que passa.
Não, tocaste meu querido, a minha pele que gritava pela tua mão.

Ontem lembrei-me daquele beijo suave, das carícias trocadas
No dia cinzento que acolheu o nosso derradeiro encontro.
Ontem sentei-me no lugar que um dia ocupaste, esperando criar uma noite nossa.
A nossa noite.
Não me tocaste! Como o poderias fazer? Nem sequer me viste,
Nem sequer me quiseste ver! Não me encontraste e nem me quiseste encontrar!

Hoje, guardo na memória as lembranças de um passado presente
Que o meu coração grita não querer esquecer!
Hoje quero falar contigo, mas a minha mente não o permite.
Estou aprisionada a esta ilusão do passado que é o meu amor teimoso do presente.

Sem luz

A nossa chama apagou-se, meu querido.
Apenas nos resta a cera dessa vela que ardeu lentamente
Durante as horas de deleite a que nos entregámos.
Estamos às escuras neste sentimento que morreu
Porque não o protegemos.
Perdão, estou às escuras.

Tu terás a tua chama ainda acesa. Ainda me consegues queimar, torturar com o calor
Por ela emanado. Tu não estás às escuras. Conseguiste roubar a única fonte de luz
Que nos poderia unir.
Não a quiseste partilhar.
Não alimentaste a nossa flor e ela... morreu.

Sem ti

Oh que tonta que sou!
Tudo isto aconteceu por minha culpa, só por minha culpa.
Oh que tonta que fui!
Deixei-me iludir pelo desejo, pelo prazer de te ter!
E de tanta ilusão, acabei por te amar.

Amar, sim. E quando o escrevo, sinto e choro e sofro
E condeno-me por te querer.
E penso em esquecer-te, mas não posso, não quero.
E a cada hora que passa te quero mais e não to posso confessar.
E a cada noite que me abraça te abraço em pensamento e não to posso confessar.

Hoje estou sem ti. Ontem já te não tive. Amanhã não sei,
Não sei se estarei aqui para escrever o fim ou o início desta nossa história.
A minha mão sangra a cada palavra que o meu magoado coração profere.

Sem nada

Esperei pelo hoje e aguardei o amanhã.
O hoje trouxe-me um presente envenenado.
Olho para a porta e tu não chegas.
Olho para o Céu em busca de uma réstia mínima de esperança.

Já sabia que não chegarias. Eu sei quando respondes ao meu chamado - ou quando queres responder -; eu sei quando me queres falar; eu sei quando me queres ver.
Já sabia que seria inútil olhar para a porta diante dos meus olhos amargos.
Tu nunca chegarias.

Minha inquietação nota-se nos meus olhos.
Bailam, cintilam, tentam esconder aquilo que eu nunca te disse, mas que sentes e sabes.
Olho mais uma vez para a porta - a última - e tu não chegas.

O meu amanhã revelou-se ainda mais angustiante. O meu amanhã ecoa na minha mente,
Mantém-me presa, ainda.
O meu amanhã chegou sem eu querer.

Hoje, neste meu amanhã, choro.
Choro no chão duro da tristeza,
Mas acalentada pelo sangue quente
de uma ferida que teima em não fechar.

Hoje, neste amanhã, estou sem nada.

sábado, 25 de novembro de 2006

Sem sentidos

Onde estou? Não vejo nada, não escuto nada a não ser a voz da minha mente.
Não toco nada, não sinto o frio nem o quente. Não saboreio, não sinto o aroma!
Onde estou? Não distingo o amargo chocolate do doce fel da minha existência!
Onde estou? Não tenho sentidos!

A minha incauta pele não sente a seda que a tua mão revela.
Meus olhos ardentes fecham-se quando oiço a tua voz quente.
Já não tenho sentidos.
Nem aquele frio que me persegue quer ficar em mim!

Onde estou? Não vejo, não sinto, não escuto.
As palavras que a tua boca saboreia não deliciam a minha alma nem o meu coração.
São apenas palavras.
Eu preciso de sentir outra vez!

Sem palavras

Hoje não tenho palavras.
Fogem-me por entre os dedos
Tal gotas de chuva em dia invernoso.
Hoje não tenho palavras.
A minha boca está muda.
A minha voz está cansada.
A minha mão na escreve.
O meu sentimento não cresce.

Amanhã não sei se terei palavras!
Oh! Quem me dera conhecer o amanhã!
Amanhã não sei se terei luz, não sei se terei lágrimas
ou se continuarei assim:sem palavras!
Amanhã não sei se terei voz para dizer o que o coração grita.

Esperemos pelo hoje e aguardemos o amanhã.

domingo, 19 de novembro de 2006

Flor artificial

Vi-te de relance!
Tão bela!
Conheci-te!
Senhor, perdoai-me!
Esta flor é nefanda!

Esta flor tem um aroma único!
Esta flor enfeitiça! É demasiado poderosa!
Esta flor é irreal!
Esta flor é bela, mas é venenosa!

Esta flor prendeu-me! Já faço parte dela e não quero!
Esta flor é artificial!
Senhor, ajudai-me!
Não posso ficar com ela!
A minha vida será ainda mais amarga!

Rogo-vos, Senhor!
Salvai-me desta loucura!
Senhor, dai-me vida!
Dai-me vida enquanto é tempo!
Esta flor mata-me a cada instante!

Eu sofro!Eu sofro! Eu, Senhor!
Eu e mais ninguém!
Eu sofro por causa desta flor que crava os seus espinhos
Na minha alma, no meu coração, no meu corpo!

Esta flor emana uma luz que me tem cegado!
Senhor, suplico-vos!
Salvai-me...
Salvai-me...


Senhor, estou cansada...
Senhor, eu estou...
Cansada...
Adeus...

Flor morta

A flor morreu. A flor não resistiu aos dias de chuva forte.
A flor não desistiu. A flor tentou perdoar.
A flor morreu por culpa da palavra cruel
Escrita por essa mão gelada e insensível.

Hoje, celebras a vitória, a tua vitória!
Brindas à morte da flor que era tua - e que sou eu!
Ris cruelmente dos versos que te fiz,
Das palavras doces que do meu ser brotaram.

Hoje é o dia da minha derrota. Um dia feio, chuvoso.
Um dia amargo, pesaroso. Este dia nunca mais acaba.
A lágrima que agora acaricia a minha face compadece-se
Da dor que o meu coração carpe.

Mas amanhã estarei no chão. E lá, esperarei serenamente
Por uma mão dócil e preocupada que me protegerá
E voltará a plantar a minha semente.

Hoje estou morta, não o nego. Hoje estou presa no cárcere
Do meu ousado e utópico sentimento.
Amanhã estarei no renovado chão.
Amanhã esperarei por alguém.

E durante muitos amanhãs crescerei.
Experiente, ferida (ainda..!), indiferente a ti.
Eu sei que me vais querer colher de novo.
E tentarás aprisionar-me.
Pedir-me-ás uma resposta.
E eu, magoada, dir-te-ei: "Talvez te responda".

sábado, 18 de novembro de 2006

Flor murcha

Desconheço o porquê da escolha deste título.
Nem sequer me apetece escrever sobre flores.
Estou invulgarmente amarga.
Hoje não consigo apreciar a beleza.
Flor murcha? Uma entre muitas, talvez.
Não sei e não quero fazer exortações.
Não preciso de divagar no mundo da poesia
Nem de cair no meu próprio mundo de contradições.

Talvez eu esteja revoltada com essa flor.
E talvez eu esteja revoltada porque essa flor é demasiado importante para mim.
Essa flor que me faz ter vontade de viver ou de apenas contemplar a chuva que bate
Na vidraça da janela do meu quarto, prendendo-me no tempo.
Sim, eu admito que estou magoada com essa flor delicada e intempestiva que tem dado um sentido à minha vida. Eu admito que essa flor murcha se tem apoderado daquele amor meu
E o tem transformado em ressentimento.

Essa flor és tu! Tu, a quem eu não chamo "meu amor".
Tu, a quem eu não revelo a importância desse aroma nem do brilho desses olhos de mel
Tão esquivos e sinceros.
Tu!

Mundo florido

O teu mundo é florido!
Sorri!
O teu mundo não é névoa na manhã fria!
Sorri!
Tens um mundo repleto de nadas!
Tens um mundo repleto de castelos de ternura,
Aventuras em barcos misteriosos, tens um pôr-do-sol
Em cada entardecer!
Sorri!

Não te compadeças da minha dor!
O meu mundo é um reino de fantasmas,
Os meus sonhos estão repletos de sombras,
Ruínas de sentimentos.
Não te entristeças com a minha Fortuna!
Vai! Segue o teu caminho!

O teu mundo é azul como a água, fonte de vida!
É vermelho como as rosas da paixão!
É verde como as folhas da esperança!
É amarelo como o sol que ilumina o teu rosto a cada manhã!

O meu mundo é castanho como a terra ignota que ampara o meu choro!
É negro como a noite insaciável que me prende.
É cinzenta como as manhãs de nevoeiro que sorriem para a minha vida.
É lilás como as flores que repousam serenamente nas minhas mãos pálidas, sem vida.

Flor da Vida

Quantas e quantas vezes nos interrogamos acerca da nossa vida? Quantas e quantas vezes derramamos lágrimas de sangue naquele dia estranho em que as horas apenas seguiram a sua ordem natural e nada aconteceu? Quantas e quantas vezes abraçámos a cruel e longa noite que nos diz "Estás só!"? Quantas e quantas vezes pensámos em arrancar a nossa raiz da terra a que pertencemos? Sim, todos pensámos nessa possibilidade. Ninguém o pode negar.
Quantas e quantas vezes quisemos ser novamente uma pequena e frágil semente? Quantas e quantas vezes as nossas lágrimas se uniram num mar de angústia e frustração? Quantas e quantas vezes quisemos mostrar a bela flor que possuimos no recanto mais belo e simples do nosso ser? Quantas vezes quisemos sentir aquele perfume suave e que alegrava o mais cinzento dia de forte Outono? Todos o admitem.
Quantas e quantas vezes te quis dizer que és a flor que aromatiza o meu dia, seja qual for a estação? Quantas e quantas vezes chorei por ver que tinhas arrancado as pétalas da minha flor sem dó nem piedade para depois as tentares juntar? Quantas e quantas vezes recordei aquele dia em que estivemos juntos?
Quantas e quantas vezes quiseste ser meigo e não o conseguiste por culpa dessa lembrança que ainda te atormenta? Quantas vezes quiseste mudar? Quantas vezes choraste ao entender, por fim, que também tu tinhas errado por culpa desse nosso confuso sentimento?
Quantas vezes quisemos arrancar as folhas da nossa flor? Quantas vezes a mão enfraqueceu nesse momento?
Eu sei, não há vida sem essa flor. Eu sei e tu sabes. Ambos sabemos, mas não o admitimos. E quanto mais o imperdoável tempo passa, mais distanciados estamos.
O Outono passou. O Inverno fez a sua entrada triunfal... Agora já a flor está nua.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Flor na madrugada

Pequena e cheia de frio.
Pobre flor! Acolhe a madrugada,
Vive-a.
Essa flor sou eu.
Eu, que ando perdida neste bosque.
Eu, que procuro frutos silvestres
E aromas desconhecidos.

A madrugada, minha conselheira, abraça-me para que não sinta frio.
Protege-me com a sua capa negra banhada pela lua lá no vasto céu.
A terra onde estão as minhas raízes não me pertence.
Eu sou da madrugada.

domingo, 12 de novembro de 2006

Flor

Lembras-te de quando preenchias o meu dia com flores coloridas?
De quando sugavas o néctar divino e mo davas?
Eu lembro-me de todos os nossos momentos mágicos no bosque dos sonhos.
Eu lembro-me, eu conservo o aroma da flor que me deste quando pegaste na minha mão
E deixaste que os teus olhos de mel dissessem tudo o que a tua tímida boca queria esconder.

Aquela flor que hoje guardo no meio do livro das nossas memórias.
Nunca mais o abri. Nunca mais o folheei. Nunca mais li uma só palavra
Que me fizesse lembrar da nossa história.
A nossa essência é sagrada.

Aquela flor escondida no livro que relata a nossa história.
Meu amor, ela terminou.
Choramos a perda, o final do caminho.

Não temos o fruto sumarento na nossa vida,
Tê-lo-emos na nossa morte.
Aí já não existirão lembranças.
Apenas existirá a flor.

Pelos tormentos da intuição

Quero chorar e não consigo.
Tu és mais forte do que as minhas tristes, amargas lágrimas.
Por culpa desta intuição maldita sofro e deixo a minha alma esvair-se em sangue.
Sangue quente, fervoroso.

Por culpa deste tormento vagueio pelos teus tormentos.
Estou fechada numa gruta escura e confusa.
A minha intuição diz-me que és implacável.
És cruel e magoas o meu ser com tais palavras que a tua boca profere.
Feres e fazes com que eu queira chorar. Mas sem conseguir.

É por isso que hoje não te quero. Não me deixas aliviar este sofrimento.
És vil, regozijas. Emanas alegria quando me vez padecer.
E é por isso que hoje te odeio e amanhã te amo.
E assim percorro, sozinha ou contigo, os tormentos desta minha perspicaz intuição.

Intuição camuflada

Eu e tu.Tu e eu.
Não há um nós, apesar de viveres comigo e dentro de mim.
Apenas passeias a meu lado. Já não te deixo invadir o meu
Pequeno e ordinário mundo.
A tua existência resume-se a uma sombra daquilo em que acreditava;
Já não preciso de ti e tu já não precisas de mim.

De tuas mãos brancas me foi dado a beber aquele veneno
Cujo antídoto ainda não descobri. Invadiste o meu corpo.
Morro a cada dia que passa. E por tua culpa!
E por minha culpa! Eu confiei em ti!

Qual será a minha sorte? Apenas esperarei pacientemente
A morte no frio leito que me acolhe?
Apenas continuarei a viver contigo sem te escutar?
Não sei.

Agora já não sei se ainda em mim existes ou se estás apenas camuflada.
Não sei se dissimulas ou se realmente desapareceste.
Só sei que eu não recuperei e que tu destruíste aquilo que de belo em mim existia.

Intuição

Eu, vã alma solitária, tenho um grande poder!
Eu, inocente alma, desejo não o possuir em mim.
Não me agrada possui-lo.
Estou presa a ele; aterroriza-me todos os dias;
Aterroriza-me todas as noites.

Eu, alma intuitiva, não o queria ser.
Só eu sei aquilo que sofro por ser guardiã de tal segredo.
Só o meu fraco e displicente coração conhece o peso de tal fardo.
Eu, alma intuitiva, não o queria ser.

É por escutar aquela voz todos os dias e todas noites
Que choro calada e sem lacrimejar.
É por saber decifrar o enigma que preenche cada dia e cada noite
Que hoje te perdi.

Vai-te embora, Intuição!
Deixa-me, por fim, poder carpir as minhas mágoas
E sentir o peso da lágrima que teima em não cair.

Perdi a minha intuição...

Lágrimas de sangue dão cor ao meu rosto.
Lágrimas encarnadas, ferozes.
A minha pele queima!
Aquele fogo que tem a minha intuição presa
Fez com que eu a perdesse.

Agora já não a reconheço. Já não está em mim.
Já não a sei.
Não.Não a sei.
Ai! Como dói saber que a perdi e que nunca mais a vou recuperar.

O meu frágil e inseguro coração bate descompassado.
Sinto-o dentro do peito. Quer fugir.
Está só sem a minha doce intuição.

Perdi-a.Jamais a reencontrarei.
Perdi-a. Jamais conseguirei acertar o compasso
Deste coração em brados de dor.
Jamais.

terça-feira, 7 de novembro de 2006

À espera da intuição

As horas do meu relógio passam. Desiguais.
Já não aguento.
Estou há espera há bastante tempo e estou irritada.
Por que veredas passeia a minha intuição?

Ainda não chegou!
Anseio a sua chegada!
Eu preciso de uma pista!
Eu preciso de um sinal divino que me dê forças
Para continuar esta luta sem glória!

Eu quero escrever aquilo que irei pressentir quando ela chegar!
Eu quero que "aquela força" se aposse do meu vulgar corpo!
Eu não quero ser eu! E nem quero pensar nem ser racional!
Eu só quero ser um corpo intuitivo.

Estou à tua espera. Não me deixes aqui sozinha.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Intuição a média luz...

Meus sentidos apuram-se no local a que chamo casa.
Eu sou a minha casa.
Conheço todos os meus recantos.
E todos os dias me surpreendo
Com os objectos que lá encontro.

Eu gosto de me perder em mim durante o crepúsculo.
A combinação das luzes do dia e da noite é perfeita.
Distingo a minha sombra e o meu corpo.
Consigo ver o brilho do meu olhar reflectido no espelho
Que me cobre.

A minha intuição diz-me que esta luz me revitaliza.
Mostra-me aromas ignotos, sabores exóticos.
Um novo mundo de sentimentos sem nome.
Apenas com uma existência!
Estou perto, muito perto de os reinventar!

Intuição feminina...

Não tenho certeza, mas sinto.
Sinto e não queria sentir.
Não gosto destes presságios.
Preferia não estar certa de que
O que receio irá acontecer brevemente.

Tenho medo, tanto medo.
Medo de te perder, de nunca te ter
Por completo para mim.
Estou assustada.

Aquilo que sei e aquilo em que acredito
Misturam-se na fusão das almas e dos corpos
Que se tocaram na tarde fria e escura
Daquele dia em que eu fui eu e tu foste tu.

A minha intuição de mulher, de fêmea
Diz-me que és meu sem o seres!
A minha intuição não engana o pobre coração
Que bate lentamente, ao som da valsa de Strauss.

Não escondi o teu retrato

Juro que não fui eu.
Mas perdoa-me.
Imploro-te!
Não fui eu que escondi o teu retrato.

Eu não te quero esquecer nem apagar aquilo que és.
Não tenho razão para esconder o teu retrato.
Um retrato a carvão, indefinido.
Eu não me quero esconder de ti.

Não quero perder esse aroma extasiante,
Quero viver nesse nosso delírio que é nosso.
Não quero perder o porto seguro que me abraça
Todas as madrugadas.

Juro, não fui eu que escondi o teu retrato.
Não te esqueço. Ñão matei aquilo que temos vivido.
Ontem e hoje, mesmo longe.

Nao, meu querido, não escondi o teu retrato.
Também eu faço parte dele, de ti.
Não me quero esconder daquilo que sinto.
Hoje tenho a certeza disso. Amanhã não sei.

Retrato-te em mim

Não és a minha fonte de inspiração.
E nem eu sei qual é ela.
Não és perfeito,
Não és ideal para mim.

Mas por alguma razão que desconhecemos,
Eu retrato-me em ti!
Não queria! Não queria!
Singularidade de tons outonais,
Contraste de encarnados.
Sangue, carne.

Olhar fugidio - o meu e o teu.
Olha para mim. Olha para dentro do meu olhar e vê o reflexo do teu.
Naquela tarde de Outono - sempre o Outono... - eu fui tua
E tu foste meu.
Naquele abraço suave que me prendeu nos teus braços
E me fez acreditar no delírio que os nossos corpos - o nosso corpo - sofreu.

Retrato as tonalidades azuis que brilharam na nossa tarde.
Recordo o metal, o toque, o contacto.
A minha mão na tua.
A minha boca desejosa, impaciente por beijar a tua.

Retrato

Olho para o teu retrato e uma vontade
De chorar e sorrir invade o meu rosto triste.
Não estás, é verdade.
Tu não estás e eu choro.

Choro todos os dias ao olhar para o teu retrato.
Expressão subtil, não sei qual a cor dos olhos,
Não sei qual a cor do cabelo.
Parece cinza. Um cinza raro.

Não sei qual é a cor do fato que usas - azul, penso que é azul-,
Não sei em que pensavas - seria em mim? -,
Não sei.

Só sei que a dor me dilacera naquelas noites em que, sozinha,
Em frente ao teu retrato - e contigo - a minha mágoa tira o véu
Casto e singular que a cobre.

E ali estou. Só. À tua frente. Completamente nua de sentimentos outros.
Só a magoa, a dor e eu.
Sim, e tu!

O teu retrato

O teu retrato está vazio.
Não tem cores.
É apenas a tela branca e rude.
O teu retrato está vazio.
Mas não é vazio
Porque é teu.

E tu nunca serás vazio.
E tu nunca foste vazio.
Nenhum momento contigo foi vazio.
Nenhum.

O teu retrato pertence-me.
E sempre me pertenceu
Porque eu tenho as aguarelas que me deixaste.
Porque eu tenho a tua alma em mim.

Retrato de João

Eu queria escrever sobre João.
Mas as palavras custam a sair do coração.
A mão pesa quando agarra a caneta.
A tinta é rastro de sangue, dor.

Na mente a imagem desfocada.
Eu era pequena.
Mas grande também.
Tenho o aroma guardado,
O sorriso.

Tenho os longos passeios na praia guardados em todo o ser.
Memória ou talvez ainda realidade.
Dá-me a mão. Não, não é legítimo proferir tais palavras.

Nunca a largaste.
E esse retrato, preso no tempo eu que parámos, mas que continuamos a viver,
Não se desgasta.