quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Mundo de mutações

Mundo gigante!
Mundo aterrador!


Deixa-me abraçar-te!
Deixa-me entrar no teu hemisfério de mutações!
Hoje não quero ser diferente!

Hoje, és tudo o que quero.
Amanhã não sei.
Não me preocupo.
Apenas quero sorver a tua energia de hoje
Com urgência.

Quero-te porque és azul e amarelo,
És branco e lilás!
Quero-te porque te modificas.
És verde e és vermelho,
És preto e és salmão.

E porque hoje és o meu mundo...

Mutação do Mundo

Ontem o mundo era triste.
Ontem era um local soturno.
Ontem eu era uma pessoa no mundo.
Ontem eu era o mundo numa só pessoa.

Hoje não sou nada!
Hoje não sou o mundo!
Hoje não sou pessoa!
E feliz assim me sinto!

Não tenho limites, não tenho pecados.
Apenas vivo sem ser alguém!
E assim o Mundou sofreu uma mutação.

Eu fui o instrumento!
Não escolhi, fui escolhida!
Não deliberei, alguém o fez por mim.

Alguém trocou as setas dos destinos do Mundo
Usando o meu ser.
Eu não o sabia,
Mas é assim que me sinto feliz!

domingo, 24 de setembro de 2006

Mutação dos sentimentos

Esta noite será longa.
Esta noite será amarga.
Esta noite é necessária.
Esta noite é minha.

Esta noite sofrerei uma mutação.
Esta noite chorarei.
Esta noite sofrerei.
Apenas esta noite.

Esta noite serei um céu sem luar,
Serei uma manhã povoada de nevoeiro,
Serei um galeão afundado,
Serei as decrépitas cinzas de uma fogueira.

Esta noite marca uma nova etapa.
Esta noite sei que te perdi.
Esta noite sei que nunca mais pensarei em ti.
Apenas esta noite.

Esta noite não vou adormecer.
Esta noite vou deixar o meu pensamento ser livre.
Esta noite vou recordar.
Esta noite vou esquecer.

Amanhã acordarei e já não serei eu.
Amanhã mudarei.
Amanhã.

Mutação dos sentidos

Vejo cores, muitas cores!
Várias tonalidades!
Várias gamas.

Distingo sons!
Agudos, graves.
Distingo o profundo e agradável som do silêncio.

Degusto a vida que passa por mim,
Magoando-me e fazendo-me sorrir!
O sal das lágrimas que escorrem pelo meu
Pálido rosto.

Distingo cheiros!
Uns adocicados, outros silvestres.
Uns repletos de primavera, outros de inverno.

Toco no proibido, no infinito!
Que sensação.

Todos se misturam, todos me alegram.
Mas todos me confundem!
Passo a ver o infinito,
Degusto as primaveras e os invernos,
Cheiro o silêncio,
Toco nas cores,
Escuto a melodia melancólica da vida.

Mutação errónea

Deambulando pelos caminhos da vida,
Possuindo coragem, um olhar curioso.
Transformando o amargo em doce,
Sofrendo, acalmando a saudade.

Observando a vida, simplesmente fazes uma pausa.
Sentes a tua respiração.
Eu sei, precisas de te encontrar,
Mas não sabes qual o teu caminho.

Atiças a raiva que afinal também possuías,
Espalhas o dissabor e a mentira.
Atiras flechas de dor.
Não és tu.

Tu sonhavas! Tu bailavas ao som da tua música!
E agora?
Onde estão os teus desejos?
Não sabes! Eu também não sei.

Sei que mudaste...
Sei que não te reconheço.
Sei que o veneno humano circula nas tuas veias...

Prisioneira do Desejo

Não me posso mover.
Os teus olhos ardentes petrificam-me.
O movimento do teu corpo
Acompanha o meu.

Sei que não posso, que não devo
Ser tua refém.
Contudo, gosto do meu cativeiro!
Gosto dos momentos passados
A ouvir a chuva
Ou simplesmente em silêncio.

O teu cheiro persegue-me,
A minha boca procura a tua.
Amo-te sem te amar.

Desejo.

domingo, 17 de setembro de 2006

Solitária

Um local sombrio, escuro, agradável.
Uma punição, o equilíbrio.
A paz há muito desejada penetra
Na imensidão do ser.
Solitária, voraz - a noite que permanece
Durante vinte e quatro horas.
Apenas um feixe de luz ultrapassa o obstáculo.
Apenas um raio de Sol tem permissão
Para acariciar a face áspera
Que se esconde ali.

Sozinho, mas não só.

Grades da Razão

E se eu removesse essas grades
Que impedem a Razão de planar?
E se eu, num simples gesto, destruísse
Essas barras de ferro que confundem os sentidos?

Grades da Razão, mantêm-na prisioneira
De um querer que não o seu.
Guardas atentos, perspicazes.
Celas escuras, frias.

E se eu renegasse esta ideologia?
E se eu quebrasse esta minha Razão
E deixasse fluir a Vida?
E se eu mentisse a mim mesma?

Tudo seria peculiar.
Ficaria cega pelo sol que, de vez em quando,
Me visita; ficaria queda, sem reacção.
Existiriam duas prisioneiras: eu e a Razão...

Presa no Tempo

Algemada aos minutos lentos
Que atravessam este meu relógio.

Terríveis ponteiros.
Cada movimento marca o início
De uma dor.

Presa no tempo que insiste em não passar.
Presa no tempo que não passa sem deixar
Marcas profundas de mágoa e desespero.

Mas contra mim não tenho forças para lutar.
Não sei distinguir o certo do errado,
O bem do mal, a noite do dia.

Para mim tudo é igual, tudo me é indiferente.
Tudo menos o tempo.
Esse gigante que insiste em arrancar pequenos
Pedaços de sorrisos que ainda existem em mim...

Reclusa Inocente

Tu, criança dos olhos de água,
Almejas sonhar tranquilamente
Com mundos encantados e sem dor.

Tu, criança matura, queres dar asas
Ao teu hemisfério de cores.
Mas ainda não podes.
O teu mundo é apenas preto e branco.

Estás presa dentro de uma frágil bolha de inveja.
Ninguém te ajuda.
O teu gesto meigo há muito se perdeu na linha
Doirada do horizonte.

Presa dentro da tua pátria.
Condenada a uma vida que não é tua.
Mas estás inocente.

Prisão de Sentimentos

Raiva. Posse.
Não me consigo libertar
Destas algemas de amor.
Estou presa a ti.

Ciúme, muito ciúme circula nas minhas veias,
Possuindo.me, arrastando-me para um mundo irreal.
O meu pensamento voa,
O meu sentimento fere-se em cada ideia que surge.

Tu e talvez mais alguém.
E eu sei que sofro, mas não me consigo libertar.
O meu olhar não consegue deixar de te procurar
Em todos os locais, mas não encontra ninguém.

São sentimentos de impotência, incerteza
Aos quais estou presa.
As chaves desta minha amarga cela
Estão perdidas no meio do baú da minha Vida...

Prisão

Olhos semicerrados.
Sem brilho, sem entusiasmo.
Quatro paredes me cercam.
Grades impedem-me de planar.

É este o meu passado, presente e futuro.
Um conjunto de dias ocos em que aproveito
Para reflectir.

Sinto frio, muito frio.
Não faz sentido continuar aqui.
O tempo não passa, torturando-me.

É nesta prisão escura e aterradora
Que existo.
É aqui que pereço diariamente...

Fabrico de Vidro

Vidro. Milhões de grãos de areia.
Mas apenas vidro.
Não brilha.

Fabricado apenas porque é preciso.
O acto já está cravejado na essência.
Não é possível descodificar o reflexo
Do ser que se aproxima.

Não é possível ler os olhos marejados
De lágrimas, a testa enrugada,
a tremura das mãos delicadas.

Nada é possível.
Nada é seguro.
Nada é nada.

Areia fina

Véu de areia fina
Que não me deixa ver a verdade
Que se apresenta diante dos meus olhos...

Eu não quero afastar esse véu.
Prefiro continuar a ter visões,
A ver sombras do deserto
Que simplesmente não existem.

Mas têm corpo, têm alma.
Mas têm essência.
Projecto-me,
Sou quem não sou.

E essa areia está de tal maneira
Impregnada em mim que é capaz
De me transformar numa escultura rude.

E assim permaneço.
Eu, o deserto, o sol abrasador,
As noites frias, o resistente camelo...

Jactos de Areia

São balas que dilaceram tudo aquilo que sou,
Que me transfiguram, que me fazem cair
Violentamente no chão áspero que se denomina
Vida. A minha vida.

Todos os fragmentos de maldade
Me perseguem, vorazes.
Desejoso de encontrar um alvo fraco
A abater.

Jactos de areia quente, fria, tépida.
Jactos de areia que não se compadecem da
Minha mágoa.

Já não sinto nem quero sentir.
Apenas respiro calmamente.
Espero o momento em que o relógio parará
E me chamará para dizer as horas...

Areias do Deserto...

Quentes, abrasadoras.
Poderosas.
Carregam o peso da História,
o peso da Vida.

Areias do deserto que acariciam
O horizonte longínquo e inalcançável.
Areias do deserto que ferem o Presente,
O Futuro.

Areias calmas, plenas de equilíbrio
Dentro da imensidão.
Areias agitadas, enfurecidas,
Loucas.

Apenas areias, apenas deserto.
Apenas matéria.

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Areias movediças...

Não posso ser eu!
Não quero ser este "eu"!
Esta não é aquela que caiu na tentação
De explorar o desconhecido.

Não posso ter sido engolida por estas areias impuras.
Mas permiti-me cair na armadilha.
E talvez, na altura, o tenha feito conscientemente.

Sim, eu fi-lo. Apenas queria ser diferente,
Mudar o rumo da vida.

Não calculei o risco.
Não soube parar de desafiar o que está acima de mim.
E acabei por atrair o azar.
Acabei por ficar presa nas areias movediças da minha própria Sorte.

Apenas isso...

Simplesmente areia...

Eu não quero chorar.
Eu não quero rir.
Eu não quero sorrir.
Eu simplesmente não quero.

Eu quero ficar assim-adormecida.
Eu quero sentir o frio que me invade.
Eu quero ficar sentada no meio das almofadas
A olhar para o nada,
A sentir o vazio,
A respirar o ar que não existe.

Eu quero ficar assim.
Olhar o teu retrato.
Voltar a observá-lo.
Cuidadosamente. Sem pressas.

Esta noite quero ficar dentro de mim.
Não quero ver o luar que me estende a mão.
Não quero procurar o céu negro e cativante
Que me desespera.

Esta noite quero ser prisioneira do meu corpo.
Quero bailar.
Quero ouvir os melodiosos acordes do vento.

Quero ser areia. Quero reunir todos os pedacinhos de mim.
Purificar-me nas águas geladas.
Construir castelos.
Subir as dunas da fantasia.

Amanhã, eu quero simplesmente acordar.
Não quero ter sonhos.
Amanhã não quero voltar a ser areia, simplesmente areia.
Não quero precisar de saciar esta fome de mim,
Não quero precisar de me encontrar...

Ampulheta do tempo...

As palavras que me percorrem
Transformam-se em grãos de areia
Presos dentro do gigantesco primitivo relógio.

A severa ampulheta do tempo transforma-as,
Confere-lhes vivacidade para depois as deixar
No extremo da escuridão.

A implacável ampulheta do tempo...
A que altera o significado que quero dar
Aos vocábulos que conjugo.

A que denigre a poesia que me encanta.
A que erradica o brilho, o sorriso,
A quimera.