domingo, 28 de outubro de 2007

Um dia passa. E a seguir outro. Desigual. O relógio corre, descansa, volta a correr. E tu és o ponteiro desassossegado que dentro dele vive como se tudo fosse perfeito e o vidro que te separa da realidade nunca se partisse.
Um dia passa. Uma manhã nasce, uma noite morre e ainda há uma estrela que te sorri e que tarda em ir dormir.
É nisto que pensas enquanto fitas o horizonte. E depois tentas juntar palavras, quaisquer palavras, palavras ao acaso e compor um belo texto que irá ser admirado por todos, que te elevará. É isto que queres? Para que servem as palavras que bailam dentro de ti? Para que serve o teu olhar choroso enquanto contemplas a estrela pequenina e pensas em todos os que passaram pela tua vida e que nela ficaram gravados, nos que a preencheram esporadicamente... ?


Vou riscar tudo. Não gosto deste texto. Não é perfeito. Tenho de sentir e criar a minha linguagem.



E num momento tudo se desfez. O meu império de ilusão caiu. O que sou eu sem ele? Carpirei as minhas mágoas. Abraçarei o que resta do meu reinado. Mas afinal quem sou eu? Uma rainha? Rainha de quê? De um condado frágil que se desmorona quando o vento sopra fortemente? Sou rainha de quem e de que gente? Onde estão os meus súbditos?

-Quem és tu, cavaleiro da madrugada?
As perguntas ecoam na minha mente, não há respostas, não há ninguém para responder. Estou só. O meu vestido alvo não emana luz suficiente para reerguer o meu castelo. Jazendo junto aos destroços, apenas me resta a memória e a dor. A perda, a ignorância e compaixão daqueles que passam sem nunca me ter conhecido, sem nunca me ter conhecido, sem nunca me ter olhado. Pedaços de sonhos e desilusão, vestígios da minha glória. Como se o dia fosse perfeito e a noite vil, o meu império se desfez. Porque tudo é efémero e as jóias não são poder. O tesouro real perdeu-se na tempestade do Tempo. Resto eu. "Ficou meu ser que houve, não o que há", diz-me Ele. Reencontro-o em mim, em cada uma das pessoas que vejo e que escuto enquanto as ruínas me dilaceram a alma.
Das ruínas construirei a minha pequena cabana. O ar da montanha agraciárá o meu dia. E continuarei aqui sozinha. Adormecerei na chaise-longue enquanto o sol se põe. E voltarei a ser rainha de mim mesma e guardiã do meu tesouro.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Eu sou um todo vazio.
Sou um corpo e uma alma.
Mas, principalmente, sou uma alma espelhada num corpo.
Através dos olhos, do olhar.

As lágrimas caem enquanto a mão torturada escreve,
Enquanto sigo um rumo desconhecido e não encontro
Paz ou sequer um mero transeunte que me possa ensinar
O trilho certo.

Faço planos que não sei o que são, construo sonhos sempre.
E desisto. E quase apago o olhar.
E assim o tempo corre devagar, passando por mim, intemporal.

E assim sinto o peso dos segundos, o relógio imponente que rege o que sou.
Não sei para onde vou. Sou uma torre de marfim fechada, maravilhosa.
Quem me esculpiu perdeu o molde, perdeu a precisão no gesto.

E no meio da multidão grito por socorro silenciosamente.
Muitos me olham, fingem entender.
Sou um tudo que não é nada.
Sou um pedaço de alma perdido no vazio dos corações.

domingo, 9 de setembro de 2007

A noite que se apresenta a meus olhos
Avizinha-se longa e sem sono.
Quero adormecer sem sonhar,
Sem imaginar, sem sofrer.

A noite dos meus olhos não é mais que solidão,
Não é mais que desalento.
Quero dormir, dormir,
Mas o coração não deixa.

Ingénua! Inocentes olhos que acreditaram nos teus
E que procuram (ainda!) um sinal de mentira
Na verdade cruel da vida!

Pobre de mim que, sem sono, adormeço nas Trevas
Para nunca mais acordar.
Colheste rosas para mim
E sorriste.
Estendeste-me os braços acolhedores,
Simulaste meiguice.

Colheste rosas para mim
E sorriste.
Abraçaste os meus medos
Como se dos teus se tratassem.

Colheste rosas para mim
E sorriste.
Entrelaçaste as minhas mãos nas tuas,
Contaste-me mil e um segredos.

Colheste rosas para mim
E sorriste.
Encantaste-me.
Prendeste-me.

No cesto das rosas escondeste uma serpente
E fugiste.
Colheste rosas para mim
E sorriste.
É de noite. O silêncio impera no meu palácio.
O silêncio quebrou os espelhos
E as recordações;
Aniquilou sentimentos, afastou abraços
E deixou-me só, entregue à desilusão.

Há apenas o meu trono: tecido aveludado
Vermelho-sangue desbotado.
As jóias da minha coroa foram roubadas
E vendidas numa ruela de Crueldade.

E estou só no meu palácio a saborear o travo amargo
Do silêncio, a sentir a queimadura provocada pela lágrima,
A imaginar sombras nas minhas paredes reais.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Julguei forte quem é fraco,
Julguei triste minha alma
E julguei sofrida minha alma.
Julguei-me fraca e forte.

Mas olho para tantas caras inocentes
E vejo tanto sonho e tanta esperança.
Sinto-me ridícula diante do espelho da vida
E dos olhos de quem me olha
Esperando agarrar a minha mão.
Vejo uma bailarina presa num quadro.
Olha-me, triste e livre, pedindo-me socorro.
Um vestido branco, contornos pouco definidos,
Fita preta no pescoço, expressão delicada.

Baila no azul acinzentado do meu quadro,
Voa no vazio, acompanha o compasso,
Dispensa a orquestra.
Apenas me pede, olhar suplicante, uma mão firme
Que a acalme.

Mas a minha mão ainda não acalmou
E não pode ainda sujar-se de tinta
Nem agarrar a pequena e frágil bailarina.
Mas a minha mão cansada ainda não encontrou paz
Para permanecer no vazio.
O violino descontrolado da orquestra
Finalmente encontrou as suas notas musicais.
Produz uma melodia serena, mas frágil.
O violino descompassado desenhava sons
No ar e perdia-se...

Mas o Maestro, de olhar negro profundo,
Ensina-o a seguir o ritmo dos outros instrumentos.
E a melodia é calma, as cordas magoadas voltam
A ser esticadas...
E o conjunto continua
(Com a alma em brasa e o olhar perdido...).
E se hoje chorei quando o sol se pôs
E se escondeu, choro ainda mais quando a lua
Se espelha no manto negro e o meu pensamento voa...

E se hoje, quando o sol se pôs, estava decidida a esquecer-te,
Agora, nesta noite fria, encontro-te e nao sei o que fazer...
E se hoje prometi não sentir mais o teu aroma,
Esta noite beijámo-nos e não pude fugir de ti
Nem do teu olhar a cruzar o meu...

E se tenho vindo a sonhar contigo...
E se te tenho desejado tanto...
E se te olho com fingido desprezo...

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Hoje também a guitarra chora,
Arranca a melodia produzida pelos acordes
E quer romper as cordas
E ver-se livre daquela Mão.

Amanhã também chorará.
E Ele deita-la-á para o lixo
Como se não tivesse valor.
As cordas serão pó
E a melodia desvanecer-se-á na escuridão.
E de dia observas-me.
Sorrio para ti, para ele,
Para todos.
Rio-me contigo e com ele,
Com todos os que me rodeiam.

(Mas no olhar há uma marca...)

E de dia observas-me
E não reparas na minha inquietação.
Não percebes o movimento frenético
Das minhas mãos
Nem o momento em que não deixo que a lágrima caia.

(Mas no olhar há uma marca...)

E a majestosa noite chega.
Não há lua nem estrelas.
Apenas escuridão e frio, muito frio.
E tu não estás.
E eu quero falar
Mas a promessa cala-me a voz
E...

E não sei.
E tu não estás...
E tu não estás...
Está frio.
O meu corpo já não se move.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Tenho frio e não tenho coração.
Arrancou-mo sem dó nem piedade
Apesar das minhas tantas súplicas.
Tenho frio e é de noite.
Arrancaram-me o sol vilmente.

Estou aqui sozinha sem coração e sem sol.
Não sei como continuo a sobreviver
E a respirar a brisa de angústia
Que o Destino me reservou.
Tenho vontade de dormir.
Estou tão cansada, tão cansada...
E ele não repara.
E ele já não me procura.
Passa por mim todos os dias
E ignora-me.
Sou apenas um dos seus objectos.

(Tempo, vem para aqui.
Também quero sentir.)

E num murmúrio o objecto desfaz-se
E apenas sobra o pó da dor...
E ele impera...
E o seu manto é belo, mas é nefando.
Nada posso fazer, não as posso impedir
De queimar o meu rosto e de ferir
O meu coração.
Nada posso fazer, não me atrevo a pedir-lhes
Clemência ou piedade.

Imperatrizes da minha vida, da dor.
Lágrimas cruéis, invulgares
Que tornam negras as folhas
E matam as flores e os sorrisos.

Apenas

Apenas sei que o dia é feio,
O sol não sorri, as flores choram.
Apenas sei que não há melodia
Nem vida nem reacção.
Nem ódio há.

Apenas sei que afinal o que sei é apenas um conjunto
De nadas que não me servem de nada,
Apenas me arrancam lágrimas cruelmente
E me deixam só num local que não conheço
Rodeada de gente, apenas gente.

domingo, 13 de maio de 2007

Menina, que meiga és!
A luz que emanas cega-me!
Queres dar-me um beijo?
Vem!

(E de repente apenas sinto raiva
E ciúme e ódio. A menina matou o que de bom
Em mim vivia.
E agora estou caída no chão de mármore;
Apenas vejo sangue à minha volta,
Sangue de uma condenada ao veneno letal
Chamado inveja.)
Acordei com uma nítida sensação de estranheza.
Sonhei com um passado que ainda magoa.
Recordações de uma flor bela e cheia de vida
Me vieram à memória.
O dia negro, a chuva, o fogo...
A morte do sol, da flor...

Onde estás, meu Amor do passado?
Será que ainda me recordas e adormeces feliz?
Por que veredas desconhecidas passeia a tua vida...
Sem mim, sem nós...?

Mas apenas vou sorrir e as lágrimas de saudade que cairão
Vão amenizar a dor que o coração sente por te ter perdido
Sem te dar um beijo de despedida.
O que sinto denomina-se indiferença.
Não sei definir (ou apenas não quero!).
Adeus! Estou cansada de escrever!
Não tenho vontade de exprimir o que sinto agora.
Não quero abrir as feridas de uma dor que não cessa.
Hoje não. Amanhã. Sim, amanhã será um bom dia.
São meras palavras que enchem os meus dias.
São apenas sons vocálicos e consonânticos.
Mas não gosto de as ler em voz alta.
Perturbam-me.

São meras palavras que sinto mas que não sei usar.
São meras palavras que me completam.
Apenas palavras desprezadas por todos
E glorificadas por Poetas.
(É apenas um desabafo.
É segredo. Apenas preciso de arrancar estes sentimentos
De dentro de mim. Sem pressas. Sem esperanças.)

Os olhos não brilham. Os dias de chuva
Fazem parte da minha vida. O sorriso
Apagou-se. A esperança perdeu-se.

Porquê? Não sei. Não procurei um motivo válido;
Nem sequer menti.

As mãos não querem escrever. Estão cansadas.
O império da Alma ruíu. Apenas encontro vestígios
De um passado glorioso.
(Mas é apenas um desabafo.)
Rosa negra no pescoço.
Traição. Ciúme.
Sorriso cruel.
(Eu sofro
E calo o grito
Que me aperta a garganta).

Rosa negra plena de espinhos
E de vida.
(Ah! Como dói! O sangue suja o chão alvo.
O meu corpo ali jaz).
Quero alcançar aquela estrela além.
Vem comigo, menina.
Preciso da tua luz
E do teu sorriso.
O meu apagou-se.

É urgente reacender sorrisos,
É urgente amar,
É urgente viver.
É urgente apenas sentir.
Noite escura e noite escura.
Dias de Primavera que enegrecem o meu mundo.
Não quero flores, não quero um céu azul.
Não quero folhas verdes nem arco-íris de desejo.
Não quero noites de Estio abrasador
Nem um mar azul e relaxante.

Quero adormecer na floresta cerrada
Que se apresenta a meus olhos;
Quero loucura, quero dor.
Quero-te.
Já pressentira o último beijo quando me tocaste pela primeira vez.

E hoje quero ser rainha sem coroa,
Fogueira sem chama, flor sem fruto...
Não te desculpes. Não me peças para ficar.
Deixa-me partir já e esquecer as tuas palavras.

Deixa que o nosso mistério permaneça,
Deixa-me ficar aqui abraçada a ti até chegar a hora
De chorar sozinha para que não vejas a dor que sinto.

E resta a lembrança...
Queria parar o Tempo
Para que o Tempo não me sugue a alma,
Para que não me deixe a mão cansada de escrever
Acerca do próprio Tempo
Que, afinal, é nada.
Nada e apenas nada.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Segredo

É segredo.
É meu.
E tu não podes saber.
Não quero que saibas.

Não queremos que saibas.
É nosso.
Somos cúmplices de uma verdade incómoda.
Preciso de ir lá para fora.
Quero gotas de chuva.
Quero raios e trovões.
Não quero ter raiva
E não quero chorar
(Como agora)
Sem saber o motivo
(Eu conheço-o perfeitamente
Mas "Shh", é segredo).
Está um dia cinzento e feio.
É assim que me sinto.
Sem razão, sem chão.
Não tenho um passado.
O Presente não conheço.
Apenas distingo dias de sol
E dias cinzentos.

(Vou para a cama e peço uma noite sem sonhos.)
E hoje não quero nem posso
Desprender o meu olhar do teu.
O meu beijo quer o teu.
A minha pele precisa da tua.

E se naquele Inverno eu tivesse seguido a Razão,
E se naquele Inverno tu tivesses seguido a Razão...
E hoje seguimos o instinto.

Mas tu não estás. Preciso apenas de te observar
Outra vez e deixar que te aninhes em mim.
Preciso apenas de me deitar a teu lado
E ver-te sorrir.
Em cada olhar teu e apenas teu
Descubro as chamas onde arde
O teu desejo.
Em cada palavra tua sinto a intensidade
De um sentimento inesperado, incontrolável.
Em cada murmúrio um sorriso.
Em cada beijo uma história.

Em cada olhar teu e apenas teu
Está presente uma marca do meu;
O brilho do meu
Que pertence ao teu.
Deixa-me segredar-te palavras loucas.
Deixa-me adormecer nos teus braços.
Mas deixa-me partir. Já não quero estar aqui.

Deixa-me murmurar-te palavras meigas.
Deixa-me olhar-te em silêncio.
Mas deixa-me ir. Já não quero estar aqui.

(Lês as minhas palavras gravadas num papel
Em voz alta. Os meus dedos calam-te.
Os teus olhos encontram os meus.)
A bailarina dança no meu quadro.
As palavras bailam na minha alma.
Hoje não quero. Hoje quero.
O quê? Não sei. Não quero procurar.

A bailarina que dança no meu quadro
Seca as minhas lágrimas.
As palavras que bailam na minha alma
Ferem o meu ardente coração.

E tu subtilmente me sorris;
E cumplicemente me olhas
Para me beijares quando a noite cair
E as estrelas forem as únicas testemunhas.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Oiço uma voz que não a tua.
Onde estás? Onde estás?
Percorro corredores escuros
Para a encontrar.
Perdi-te; tenho de te reencontrar.

E essa voz vai-me guiar na escuridão.
E essa voz vai dizer-me onde estás.
Preciso de te abraçar outra vez
E escutar a tua voz meiga
(Que todos desconhecem...)...
E na mistura do passado com o presente
Descubro sentimentos em mim escondidos.
Não sei o nome (ou talvez saiba, mas estou demasiado cansada
Para os revelar - fazem-me sofrer).

E na mistura da minha mão com a tua
Descubro carinhos que desconhecia em ti.
Tudo está gravado na memória;
Tudo está gravado e bem guardado no coração.

(Sim, está no sítio mais puro. Ninguém observará
A lembrança daquele momento. Dorme em paz.)
Preciso desse veneno a correr nas minhas veias.
Preciso desse frasco todo de veneno para que a minha morte
Chegue depressa e não seja dolorosa.

Dá-me esse veneno cujo antídoto não existe.
Dá-me esse veneno, rogo-te!
Não quero estar aqui. Não posso.
Não sou necessária.
Deixa-me ir para junto do meu anjo.
Eu sei que me queres mal,
Mas não te conheço!
Queres destruir-me,
Queres vencer-me,
Queres matar-me!

Afinal, quem és tu?
Invejas-me?
Odeias-me?
Amas-me?

Não te sou indiferente.
Não te amo e não te amo.
Nem sequer sei o que é o amor.
Nem sequer sei o que é amar.

O Camões diz que "é um fogo que arde sem se ver",
Mas eu não entendo ou não faço um esforço para entender.
E tudo isto apenas porque estou cansada
E ninguém percebe.

E tudo isto porque me ofereceste um sentimento diferente
Que desconhecia, mas que me prende a ti e não me deixa dormir...

domingo, 22 de abril de 2007

Hoje quero desistir de mim. Desistir de nós.
Sinto o amargo sabor da derrota.
Sinto que perdi o que nunca me pertenceu.

Mas também sinto a força do teu desejo reprimido,
A do meu desejo reprimido e inconfessável.
E hoje quero apenas desistir...

Amanhã será um novo dia.
E eu sei que vou acordar sem forças para lutar
Ou sequer para me levantar da cama
E sorrir àqueles que me rodeiam.

(Sorriso falso, fingido. O meu sorriso pertence-te.)
Hoje vi o mar. Hoje vi ondas.
Hoje revi a minha vida naquela praia.
Hoje revivi sentimentos e momentos de um passado muito presente.

Hoje vi as estrelas. Hoje vi o céu.
Hoje revi pedaços de luz cujo rasto perdera.
Hoje revivi o nosso sonho, o meu sonho.

E hoje quero chorar. E hoje não tenho vontade de me esconder
Nem vontade de dizer que não sofro.
E hoje quero apenas dormir, dormir... dormir para sempre...
Vou-te contar um segredo:
Hoje chorarás.
Escreves,
Lembras-te de momentos do passado
(Eu sei que são do presente!),
Sorris.

E pensas adormecer feliz.
Mas eu perturbarei o teu sono encantado
E farei com que acordes assustada a meio da noite.
Irás para uma floresta negra; pensarás que o vais encontrar.

Mas estás enganada! Eu estarei lá à tua espera
Para te arrancar o coração sem dó nem piedade.
Magoar-te-ei e deixarei cicatrizes que nunca sararão!

Ah! Doce vingança... Imagina-te a viver sem coração!
Não sentirás... (E de repente mudo de ideias!)
Não! Eu quero que sofras... Fica com o teu coração
E vive o teu pesadelo. Eu estarei a deleitar-me
Com o espectáculo magnífico da tua destruição!
Mais um dia que chega ao fim
E as palavras de outrora já não me pertecem.
Têm medo de mim. O meu sorriso triste não as cativa,
O meu choro amedronta-as.

Mais um dia que chega ao fim
Sem que a minha vida mude.
Ainda é (e será...) um barco à deriva do sentimento.

Falo com eles e com elas. Todos me bajulam.
Todos me sorriem. Nenhum entende o grito que me sufoca,
Nenhum entende o medo que me faz fechar os olhos e desistir...
Deixa-me só. Deixa-me conversar com as paredes brancas
Onde faço esboços de poemas;
Deixa-me aqui sozinha no meu mundo.
E deixa que as lágrimas me caiam.
E não me abraces.

Sai! Já disse! Não quero que vejas o vazio
Que há dentro de mim! Não quero que tenhas pena
Ou apenas que te comovas!

Sai daqui! Não sei quem és.
Só sei que estás a dar cor às minhas paredes
E a quebrar o silêncio que impera na minha casa.
Tenho vontade de chorar.
Tenho uma vontade imensa de chorar
E gritar. E gritar até ficar sem voz.
Até desmaiar de cansaço; até ficar com os olhos
Vermelhos e inchados; até exorcizar toda a raiva.

Tenho vontade de chorar sem razão.
Apenas quero chorar por razão nenhuma.
Chorar, chorar... Ou já não terei lágrimas?
Chego a casa. Silêncio.
Paredes brancas e silêncio.
Escuridão e silêncio.

É a minha casa. Paredes brancas,
Poucos móveis e silêncio.
Não sei iluminá-la.
Poderia pôr a música a tocar,
Mas não quero que os vizinhos se apercebam
Da minha solidão.

Vou dormir. Cama vazia;
Paredes brancas e silêncio.
O luar apenas me permite distinguir sombras.
E é a dele que aparece...
E assim adormeço...
Não quero esperar mais.
Não posso. Nao mo permite o coração.
Amanhã vou-me esquecer do mundo
E vou a tua casa apenas para te sorrir.

Não sei o número nem a rua;
Nem sequer sei qual é a casa,
Mas vou encontrá-la
Porque já não posso esperar mais.

Amanhã vou-te sorrir
E tu não vais entender a minha mensagem.
Os meus olhos vão brilhar, mas terei de os apagar.
Tu brilharás e ninguém vai perceber.
Apenas eu.
Estou cansada. Profundamente cansada.
Não sei se tenho forças para dormir.
O cansaço, o terrível cansaço, não me deixa descansar
E chego ao dia seguinte mais cansada ainda.

Vejo pessoas, tantas pessoas. E nenhuma me cativa.
Nenhuma me prende; nenhuma se quer deixar prender.
Estou tão cansada de ser só
E ter de pintar amigos em nuvens
E copiar melodias que não me pertencem...
E mais uma noite fria chegou.
E a cama vazia chama por mim.
E a tua cama vazia chama por ti.

E uma lágrima cai na minha almofada
E junta-se aos fragmentos de sonhos
De noites anteriores.

E todos os pedacinhos da minha vida
Se cruzam na noite fria em que me encontro.
Os sorrisos, as memórias, as lembranças dos beijos,
Os sonhos...

E o amanhã chega de mansinho.
E eu não consegui dormir.
Adormeço quando a luz enche o meu quarto
E não mais acordo até tu me despertares...
Sabes bem que choro. Por ti.
Por ti e apenas por ti.
E caio no chão gelado que me suporta.

Sei bem que choras. Por mim.
Por nós e apenas por nós.
E encostas-te nas paredes brancas.

E eu estou aqui e tu aí;
E o pensamento é o mesmo.
Não foi o último beijo.
Por isso não o demos.
Por isso não estamos juntos.
Promete-me que não revelas o nosso segredo.

Não sei o que éramos nem o que somos.
Não sei como nos conhecemos.
Nem sequer me lembro da primeira vez que falámos.

Mas temos um segredo. Eles não sabem.
Eles não têm o direito de saber.

Eu sei que te ris quando me encontras
E pensas na ignorância deles.
Eu penso e também me rio.

E na nossa cumplicidade arquitectamos beijos
Que já trocámos...
E murmuramos promessas que se perdem nas nossas vidas...
É um segredo que a Primavera esconde.
É um rascunho de paixão que te dou e me dás.
É apenas um choro feliz quando me dás a mão
E sorris.

E no teu sorriso vejo o desejo,
A confiança.
E no teu olhar brilhante vejo a chama
Do teu coração que arde sem que o mundo se aperceba.

E aproximo-me de ti. E olho-te nos olhos.
E beijo-te. E não falo, mas digo que te amo.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Vivo no pomar.
Sou tão feliz!
Os aromas suaves
Dos frutos misturam-se
Com o meu corpo.

As joaninhas voam,
As borboletas pousam
Nos meus cabelos compridos.
Contemplo-as com os meus olhos negros.

São belas! Envolvem-me na sua magia
E fazem-me rodopiar de contentamento.
Tanta cor! Tanta vida! Tantos sorrisos...

(Acordo estremunhada. Foi apenas um sonho
Que eu tive. Um sonho apenas.)
Colhe as tuas rosas no meu jardim.
Pica-te nos meus espinhos
E deixa-me curar essa ferida.

Colhe as minhas rosas no teu jardim
E deixa que eu me pique nos espinhos
Para que possas curar essa ferida.

E constrói comigo um roseiral
E leva-me lá todas as madrugadas
E recita-me poesias d' Ele
E deixa-me adormecer nos teus braços.
Não me deixes aqui sozinha
Entregue à Primavera.
Fica comigo esta noite
E mostra-me as estrelas
Da tua vida.

(E num murmúrio de silêncio
Acaricias-me a face, beijas-me a testa,
Agarras a minha mão e iluminas a minha escuridão.)
Tenho castelos feitos de auroras.
Sinto o perfume dos teus cabelos castanhos
Na minha almofada.
E sorrio quando envergo um vestido simples de princesa.

Tenho tardes de paixão, tenho o sol a iluminar o teu sorriso
E a oferecer-me o mel dos teus lábios quentes.
E sorrio envergonhada quando dizes que me desejas
E que me queres junto a ti.

E na Primavera da minha vida
Descubro aromas inefáveis,
Flores raras, raizes de sentimentos.

E geramos frutos chamados lembranças
Para que adormeçamos felizes
Quando a noite chegar e não estivermos juntos.
Gosto da simplicidade do teu olhar,
Da euforia das tuas manhãs
Que, mesmo plenas de nevoeiro,
Têm um brilho especial.

Gosto do teu coração honesto
Que, apesar de frágil, é forte.
É imenso, bate descompassado
Ao ritmo da vida.

Gosto do teu sorriso,
Da tua voz melodiosa.
Poderia passar horas a conversar
Contigo que ouviria sempre uma palavra amiga.

É isso mesmo: Amizade.
Partilha de dores, de medos,
De histórias, de vidas.

E eu estarei aqui. Estarei aqui quando o Sol nascer,
Quando a Lua sorrir na negra noite
Ou apenas quando a tua vida for nevoeiro
E não tiver estrelas ou sorrisos.

domingo, 1 de abril de 2007

E neste meu passeio pelo jardim
Descubro cores que desconheço.
Vejo violetas castas, margaridas impuras,
Papoulas vermelho-sangue e rosas carmim.
E subitamente a dor de que padeço
Se revela nas escrituras
De um Destino cravado na flor de jasmim
Quando sinto o caule espesso
A libertar todas as minhas amarguras...
(Para onde vai a minha lágrima?)

Chora, menina.
Não guardes a dor no teu coração.
Deixa a lágrima rolar na tua face.
Deixa-a cair na almofada para se juntar às outras
De há muito tempo atrás.

(Não a posso perder ou estarei perdida...)

Leva-a, tristeza. Não deixes que a menina
Perca o brilho dos olhos grandes e vivazes...
(Não. Eu quero ser triste!)
Não oiças o que te diz o seu coração confuso e magoado.

Ela quer ser. Apenas ser.
(Não quero. Quero fugir.)
Menina, dá-me um abraço.

(Eu sei que também és como eu.
Apenas queres desculpar o que não és
Com fragmentos fingidos de uma alma que não é tua.)
Deixa-me só. Não tenho medo de estar sozinha.
Não tenho medo do escuro nem dos ruídos silenciosos
Que escuto na noite misteriosa.

Vai-te embora e não voltes.
Não quero que destruas os meus castelos de solidão
Nem as ruínas da minha frieza.
Deixa-me estar aqui a contemplar a luz da lua.

(E oiço murmúrios de pedaços de silêncio
Que o meu Amor se esqueceu de levar.
E oiço cânticos entoados por anjos maus...)
A parede branca acolhe a minha lágrima.
Estou numa sala vazia.
Tenho uma túnica negra
Que me purifica.

Estou só. Estou no centro da sala.
E estou feliz. Todos se foram embora.
Já não me sufocam. Já não tenho o sabre
De ouro a ameaçar a minha garganta.

Posso falar finalmente. Posso gritar aqui.
Sozinha. Completamente só. Sem ninguém.
Escuto uma música cândida proveniente dos céus!

Os puros anjos negros juntam-se a mim
Para festejar a minha liberdade,
Para festejar o meu sorriso.
Queria escrever coisas sem sentido.
Quero pintar barcos nas nuvens,
Abraçar a lua e o sol,
Trazer a chuva no Verão,
Voar com os passarinhos pequeninos
Que cantam para mim quando a Primavera chega.´

Queria fugir daqui e ir para qualquer lugar.
Não me interessa onde. Preciso apenas que chegues
Neste momento, me pegues na mão e me leves daqui
Sem dizer nada a ninguém.
Leva-me para junto do meu túmulo de flores do campo
E vela o meu sono profundo.
Estou tão cansada.
Quero estar sozinha.
Não quero pessoas.
Estou tão cansada.
Não lhes quero sorrir
Nem falar.

Quero que me deixem só.
Eu e as paredes riscadas
Pela minha dor.
Quero que me deixem chorar
Sem razão e não me olhem com pena.
Quero sair desta prisão.
Não quero dar um título à solidão
Para que tenhas pena de mim.
Não quero fazer exortações
Para que me confrontes.
Não quero escrever
Para que não saibas o que sinto.

Afinal, não quero sentir, não quero chorar,
Não quero morrer neste naufrágio que é a minha vida.
Afinal, não quero que me craves sabres de mágoa no peito,
Não quero ver o meu sangue a sujar o mármore branco
Que acolhe o meu corpo antes de partir.
E eu estou aqui, apenas aqui.
Imóvel enquanto os meus olhos entristecem
E a minha alma sai do meu corpo
Para se refugiar no vazio.

E eu estou aqui sozinha,
À espera que chegues
E me abraces antes de o crepúsculo chegar
E me beijes com paixão e me digas para ficar.

E eu estou aqui serena,
Sem esperança. Espero pelo mar
Cruel que me sorri falsamente
E espera que me dê aos seus búzios.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Peço perdão se não disse que te amava
No Estio abrasador em que me olhavas
Com ternura e me embalavas quando a noite chegava.

Se eu te tivesse dito, hoje não sorriria
Quando te envio um ósculo suave
Enquanto sonho com o pecado.

Peço perdão por um dia te ter amado,
Por uma noite te ter despertado a paixão,
Por te ter iludido.

Mas peço perdão ao meu triste coração
Por tê-lo feito sofrer ao escrever palavras
Que não sente, ao proferir infâmias que não o são.
Nunca me iludiste.
Nunca me enganaste.
Apenas me desapontaste!

Nunca me traíste.
Nunca me esperançaste.
Apenas me envenenaste.

E hoje caio nos teus braços,
Prendes-me com teus abraços
Para que não te deixe.

E hoje quero-te quando a noite cai
E a tua mão toca a minha como um feixe
De luz que o nosso corpo atrai.
Derrama lágrima de lânguida
Dor. O mar levou-te os pedaços
Que te dão vida.

Tu, uma pobre concha abandonada
Na praia lusitana, descansas junto da duna.
Mas estás desprotegida.

Uns negros olhos te contemplam.
Vêem a tua beleza quebrada
E espalhada no areal.

Mas gostam de ti
E guardam-te na memória
Sem esquecer nenhum traço.

Derrama lágrimas de venenosa Dor,
Concha da praia. O vento já te espalhou;
Varreu os teus pedaços da areia quente.
Vem passear comigo, meu Amor.
Escuta o silêncio, envolve-te no odor
Do meu corpo e arranca-me a tristeza
Criada pela tua alma de fingida realeza.

Amor, colhe esta flor branca para mim.
Coloca-a suavemente em meus cabelos,
Recita-me d' Ele poemas belos
Para que me recorde de ti assim.

E não me deixes ir sem te falar
Do que descobri hoje
E que meras lágrimas me fez derramar

Na confusão de sentimentos que me foge
Do coração sem saber se te amo, se te odeio
Ou se apenas queres repousar em meu seio.
Faz-me um favor: não me fales.
Hoje não. Só hoje.
Porque o hoje de hoje
É um presente perigoso,
Assustador.

E afinal ela diz que a amas
E que a queres.
Mas eu não posso acreditar
Que sejas tão cego.

Não me fales, amante.
Hoje não. Deixa que a
Repulsa se vá embora.
Ama-me amanhã.
Se ontem te disse que te queria
Hoje meu coração de ti renega.
Hoje a minha vida mudou;
Choro, dor e lágrimas.

Se ontem me imaginei em teus braços,
Hoje meu corpo rejeita o teu calor.
Hoje a minha vida pereceu:
É choro, é dor, é lágrimas.

Mas eu sei que esta noite
Virás de mansinho
E enfeitiçarás os meus olhos

Com palavras doces e mil e uma promessas.
Beijar-me-ás o rosto
E eu cairei nos teus perigosos ardis outra vez.
Não devia estar aqui.
Nem sequer devia pegar no lápis
E escrever estas linhas de dor.

Mas preciso de arrancar todo este veneno
De dentro de mim antes que seja tarde.
Mas preciso de te odiar
Para outra vez te querer.

Ela falou de ti, de vocês.
E eu? E nós?
Maldita! Maldito!
Malditos!
Mas ninguém pode saber. É segredo.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Toma este rebuçado.
Eu sei que gostas.
Não queres? Porquê?
Foste tu que mo deste.

Pois, estás a ver como estou:
Fraca, triste, sedenta de vingança.
Então, meu Amor, vem buscá-lo!
Pertence-te!

Não queres assemelhar-te a mim!
Como é amargo o desejo!
Que triste é a tua alma.

Dizes que tens pena de mim,
Mas és insano! Eu é que sinto compaixão.
Tu não. Nenhum bem é digno de ti!
Volta para as trevas.

(E enquanto dormias provaste o rebuçado
Que te dei! Ah! Como é doce a vingança!
Também estás destruído!
Agora posso descansar!)
Saio de casa. São oito da manhã.
Encontro a moça loira e rio.
Vou ver o mar, esperança vã;
Fico presa em meu desvario.

A areia molhada provoca-me arrepios.
Vejo o pescador pachorrento e paciente.
Olho-o nos olhos: encontro rubis frios
E uma pequena esperança latente.

Apetece-me um gelado. Enquanto passeio
Encontro-te. Estás diferente, duro.
Lembro-me do triste Inverno feio
Que cegou o meu olhar escuro.

Estás com ela. Já nada me dói.
Mas vejo que ainda me queres
E continuo igual: a dor destrói.
Vai-te embora se preferes.

Eu vou virar-te as costas agora.
Adeus! Até nunca mais!
Sei que chegou a terrível hora
E que não te verei jamais.

Quinta-feira

Nunca gostei das quintas-feiras.
Sempre me trouxeram desilusão.
Sempre me deram a provar o travo
Amargo da vida.

Mas a quinta-feira também pode ser símbolo
De prazer. Sei que posso sorrir à quinta-feira.
Sei que te posso olhar nos olhos doces,
Repousar nos teus braços
Ou simplesmente adormecer num sonho encantado.

A quinta-feira marca a minha vida.
Nesse dia não tenho palavras; não escrevo.
Apenas fico perdida em mim (e em ti...)
A pensar na mão que esculpiu na pedra o meu Destino.
Tenho tanto para dizer, mas as palavras não me ajudam.
Correm lentamente nas minhas veias, deslumbram-se
No meu coração e morrem em meus dedos.
Sorrio-lhes. Eu percebo-as. Também elas querem falar
E não podem; também elas querem sentir e a minha mão
Não permite.

Também eu quero sentir, mas ele não me deixa.
Quero falar, mas a minha voz perde-se no silêncio.
Sorriso vago, o lápis já não quer escrever.

E o Céu apresenta-se como dádiva.
Subirei pelo cordão de ouro que o meu anjo
Me oferece e repousarei junto dele.
Quando passo pela cidade
Que se apresenta todos os dias a meus olhos
Tenho vontade de parar no tempo
E ser uma das estátuas que lá estão.

Expressão parada. Estaria presa dentro de mim.
Seria bronze. A cotovia repousa no meu ombro.
Encosta-se a mim e conta-me novas das pessoas
Que nunca me sorriram.

Não consigo falar. Apenas escuto.
Começa a chover. Ela parte.
E eu fico sozinha.

E nesse momento ganho vida
E volto a contemplar a cidade
Que se apresenta a meus olhos.
E desejo parar no tempo outra vez.
Quem te disse que sei usar as palavras
A meu bel-prazer e com elas manipular-te?
Ninguém. Eu sei. Tu quiseste enganar-me
Com as palavras que me pertencem e não consegues!
Elas são minhas! Não tens o direito de as profanar!
A tua boca é suja.

As minhas palavras são cristalinas.
Desenho-as a lápis de carvão.
Sujam-me os dedos, cravam-se na minha pele.
Pertencem-me totalmente.
Beijo o silêncio em que me envolveste.
Nada digo. Apenas te olho nos olhos.
Nos meus vês mágoa e raiva.
Apenas dor e sofrimento.

Tentas agarrar-me e prender-me
Outra vez a ti, mas já não consegues.
Nos teus olhos vejo culpa e desilusão.
Apenas desejo de vingança.

Consigo afinal soltar-me. Não preciso mais
De ti, meu Amor nefando.
Não quero o teu toque .
Não quero sentir o teu cheiro.

Sou livre, completamente livre
Para beijar outro silêncio,
Abraçar outro corpo e olhar outros olhos
E mais uma vez sofrer e voltar a desprender-me
Das algemas cruéis que querem ferir os meus pulsos frágeis.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Sou jovem e...

Sou jovem e amo profundamente.
Amo a vida, as flores que recebo
Daqueles que me desejam, os aromas
Exóticos, o proibido.

Sou jovem e sorrio.
Sei fingir sorrisos e sei mostrar
A natureza bruta emanada por eles.
Gosto do proibido.

Sou jovem e erro.
Dou com a cabeça nas paredes das nuvens,
Caio e volto a levantar-me, acreditando sempre
Num novo amanhã.

Sou jovem e não sei o que fazer.
Gosto de seguir o coração, mas sofro sempre.
Sou jovem e gosto de seguir o instinto
E ainda não me arrependi.

Fotografia de um jovem

Olho para o retrato de um jovem.
Esperança espalhada pelo rosto,
Olhos brilhantes.
O corpo mostra a leveza da sua idade.

Mas também vejo a sua alma!
Imensa, quase a perco de vista!
Tantos sonhos inacabados, tantos ideais!
E tantas dúvidas e agonias.
É a sombra de um passado bem presente.

Este jovem é forte. O seu retrato modificar-se-ã
Devido ao seu Destino sagaz.
Um dia será velho e poderá dizer
Que aproveitou os anos de energia e glória.

Era jovem e sofria

Sofria por um amor impossível.
Era jovem e amava.
Era jovem e sonhava com caminhos
Trilhados pelo sorriso da lua,
Sonhava com príncipes e princesas
Que vivem em castelos de sonhos.
Partiu em busca deles.

Mas apenas viu ruínas.
E escutou gritos de dor
Provenientes das pedras brutas
Que a magoavam terrivelmente.
Era jovem e sofria por não encontrar
Um mundo perfeito.

Jovem

A bailarina ainda dança
Na caixinha de música que me ofereceste, jovem.
Quando a tua música parar, também ela parará
E eu verei a minha alma aprisionada em ti
E na tua existência mágica.
Jovem, leva-me contigo
Quando todas as estrelas se apagarem
E a lua governar o céu completamente só.

Era jovem e não sorria

Rosto apagado.
Expressão incólume.
Um corpo jovem,
Uma alma podre.

Era jovem e não sorria.
Era triste e nada fazia
Para sair do buraco negro
Em que se encontrava.

E eu nada podia fazer.
Apenas o vi.
Jazia a meus pés, morto.
Aconcheguei-me e como ele morri.

Era jovem e não vivia

Ouvia música,
Pintava as paredes
Com riscos e cores
De diferentes tonalidades.

Saía à noite e dançava;
Era cobiçada por aqueles homens
Maus que a tratavam como objecto
E nada mais.

Cantava melodias que ninguém conhecia
E ria.E ria de si própria.
Era jovem e fingia ser alguém que não era.

Era jovem e não vivia
A sua vida, mas a de uma outra que não existia.

Era jovem e tinha um sonho

Era frágil e dócil.
Sempre me interessei pelas palavras
E por tudo o que era diferente.
Não tinha muitos amigos,
Só a moça loira e branca.

Era jovem e tinha um sonho!
Colorir o mundo com vocábulos enfeitiçados
Pelas minhas mãos.

Era jovem e esse sonho concretizou-se.
E hoje em minhas trovas estão presentes amores
Puros, paixões ardentes, desilusões e frustrações
E a esperança de passar para o papel os vestígios
De uma existência talhada pelo Destino.

Uma miragem de mulher

Apareço sempre no teu sonho, meu Amor.
Agora que estou longe de ti entendo
Que tenho de te proteger.
Sou o teu sonho.

Passeámos por entre veredas de loucura,
Dançámos e beijámo-nos à chuva,
Tendo o vento como testemunha.

Mas deixaste-me ir embora.
De repente largaste a minha mão,
Devolveste-me o coração e nada me disseste.

Agora queres-me de volta na tua vida,
Mas não passo de uma miragem de mulher.
Uma mulher que um dia amaste, esqueceste
E lembraste-te de voltar a querer e amar.

Tua mulher

O futuro não me preocupa.
As tuas outras mulheres não são razão
Para me tirar o sono e para me fazer chorar.
Não te amo, mas quero-te agora.

Fui tua mulher, tua amante durante aquelas horas
De prazer. Tua mulher e só tua.
Os sussurros, os beijos, os carinhos foram meus.
Os nossos olhos foram envolvidos por uma luz

E disseram a verdade sobre nós,
Elevando a nossa graciosidade de Poetas.
O nosso desejo foi cumprido.

E quando me recordo de ti, sorrio.
E o meu corpo estremece ao recordar o teu
E a falta que lhe faz.

Apenas mulher

A minha condição é ser mulher,
Apenas mulher.
Acordo e espreguiço-me na cama vazia.
Levanto-me e olho-me ao espelho.
A minha expressão morre a cada dia que passa.

Já não tenho luz no olhar
Nem me apetece ir trabalhar,
Mas vou. Eu tenho obrigações.
O dia é aborrecido.
As pessoas são aborrecidas.

A tarde chega e regresso a casa.
Encontro a dor e a ausência da ternura.
Estou cansada. Vou dormir.

E é nos meus sonhos que me realizo.
Porque sou como o Poeta que busca
O infinito no mundo oposto.
E sei que vou acordar amanhã
Com os olhos inchados de chorar.

Mulher anjo

Adeus, anjo em forma de mulher.
Nem sequer te conheço.
Penso que apenas te vi uma ou duas vezes.

Mas hoje acordei e vi que já não habitavas aqui.
Sobe aos Céus e ocupa o teu lugar.
Adeus. Olha por todos nós e pelos teus amigos
Que sofrem com a dor de te ter perdido.

Sei que costumavas sorrir. E isso é suficiente
Para gostar de ti. Nunca convivemos.
Nem deves saber que existo.
Mas olha por mim também
E dá-me uma estrela do teu olhar.

Mulher demónio

Poderosa.
Ela domina todos.
Enfeitiça os corações.
Atiça o veneno do ciúme.
Ela enlouquece-os.

Poderosa. Ela prendeu-me
E cortou a minha carne.
Vejo sangue e dor sair do
Mais puro de mim.
Ela aprisionou-me dentro dela.
Já não sei qem sou.
Ela matou-me com os seus demónios.

Menina Mulher

Na tua cama repousa meu corpo.
A tua poesia confusa é o teu desejo.
A tua boca invade a minha
Sem pedir permissão.

Mas na minha mente passeiam príncipes
E fadas. Vivo coisas que desconheço.
Mais uma vez o Destino baralhou
As escrituras.

As tuas mãos voltam a pegar nas minhas.
O teu sorriso volta a encontrar o meu.
O teu olhar arrebata o meu.

Mas no meu espírito viajam conceitos
De Amor que desconheço.
E assim me entrego ao desejo,
Tendo a certeza daquilo que quero.

Mulher

Em meu seio inviolável descansa
A fonte da vida: o Amor.
Não sou mais que uma mulher,
Não sou mais que uma chama que arde
Lentamente ao sabor da vida.

A minha alma ardente é o meu segredo.
E ninguém o pode decifrar
Porque sei fingir e mostrar aquilo
Que pretendo que os terríveis outros pensem.

Amo com o corpo e com a alma.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Choro escondido

Olá cotovia.
Por quem choras?
Os teus tristes lamentos
Reflectem-se na hora amarga
Em que choro escondida
Do todos e do mundo.

Vem aqui, cotovia.
Encosta-te a mim
E diz-me um segredo.
Partilha comigo esta dor secreta
Para que amanhã possamos sorrir
E fingir que tudo está bem.

Choro Silencioso

É na escuridão desta noite
Que os meus sentimentos
Se revelam nas lágrimas
Silenciosas que percorrem
O meu rosto.

É na escuridão desta noite
Que foi nossa que relembro
As palavras meigas que eram
Tuas e a dedicadas a mim.

Mas tenho de contrariar
Esta vontade do coração
Para não voltar a falar contigo
E cair na tentação de te querer
Outra vez.

Porque não me és indiferente
Apesar de o meu olhar te dizer
O contrário. E só eu sei o quanto
Desejo não te amar, meu Amor.

Choro desalmado

Já não sei se o choro
Que me suga a alma
É reflexo do que não tenho.
Não sei se o que me preenche
São notas soltas, perdidas
Enquanto o Poeta tocava flauta
Na imensidão agreste do campo.
Já não sei se choro
Porque nada mais tenho a dizer,
Porque já não sinto
E já não desejo.
Não tenho alma, não tenho sonho.
Quis o nada para nada ter;
Estou no nada e o sofrimento daí provém.

O meu triste choro

É este o meu triste choro.
Não o quero definir
Ou identificar.
Apenas é este.
Não tem motivos para existir,
Mas existe.

Preciso dele para me levantar da cama
Todas as manhãs. abrir a janela
E receber a energia do sol fraco
Que me dá os bons-dias!
É triste, é um facto.
E dentro dessa tristeza
Escondem-se as mais belas
Palavras do Poeta.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Noite de choro

Dura a noite me acolheu.
De mil desejos apenas um me concedeu.
Uma flor me foi oferecida
Pelas mãos que um dia me tiraram a vida.

Mãos brancas, cruéis e imortais
Que apertam o meu pulso triste
Sem escutar os meus tristes ais
Quando o murmúrio da noite resiste

Ao longínquo vento fustigante.
E ao longe vejo a lua fulgurante
Pintando estrelas num céu de seda.

Mas a lua não sabe que a dor
Rasga os véus que cobrem a vereda
Onde o sorriso dá lugar ao rancor.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Eu choro - II

Está a doer, a doer tanto que perdi a voz
De gritar por socorro.
Está a doer e eu nada posso fazer.
Não consigo esquecer o perfume,
As cores, a parede branca e pura
Que gelou o meu corpo.

E quero mais! Quero o teu corpo, não a tua alma.
Não preciso dela porque não faz parte de mim!
Tu não fazes parte de mim.
Mas choro porque cravaste em mim o teu toque,
Puseste sangue nas minhas veias
E apertaste a minha mão para que fosse só tua
E de mais ninguém.

Eu choro

Não quero escrever que choro.
Não tenho vergonha, não me admiro.
Simplesmente as lágrimas cruéis
Inundam os meus olhos

E eu nada posso fazer.
Resta-me esta sala vazia
Onde a dor ecoa
E o desespero passeia uma lâmina

No meu frágil pescoço.
Resta-me um pedaço de chão
Coberto de pó e pedaços de sonhos

Destruídos por aquele que desejo.
E nesse sítio escuro espero ansiosamente
Pela aurora que levará o meu corpo.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Céu azul

Corre! O teu céu é tão azul!
Tão agradável que quero voar nele
E chegar ao infinito!

Quero ser livre!
Quero voar e escrever palavras
Belas com pedaços de nuvens.

E quero descansar e sentir a magia
Dos raios de sol! E quero vê-lo a transformar-se
Para acolher a lua e as maldosas estrelas!

E quero abraçá-lo para o proteger
E não acabar com a imensidão de azul
Que os meus olhos um dia pintaram!

Céu perdido

Os anjos cantam a tristeza.
O céu perdeu-se.
Foi ela e só ela.
Má, cruel, vil.

Ela e a sua face luminosa.
Ela e os seus ardis de amor.
Ela e as suas lágrimas fingidas!
Ela,ela e só ela!

Quero chorar por ele e não posso!
As lágrimas fugiram!
Ele levou-as no coração!
E agora estou vazia!

Mas a culpa é dela!
Se ela náo existisse, o Céu estaria comigo
E o riso acalmaria o meu pesado sentimento.

Céu estrelado

Esta noite foi sublime!
Um céu repleto de estrelas me ofereceste, meu Anjo!
Um céu cintilante, uma alma pura para mim!
Nunca me esquecerei.

Meu Anjo, já anoiteceu novamente.
É outro céu estrelado o que me trazes?
(Anjo? Anjo? Onde estás?)

Anjo, esse céu é feio!
Não o quero! Leva-o daqui!
Ai...como fere!

"Não confies nas estrelas.
Roubaram a luz dos olhos teus,
Entristeceram a tua melodia
E violentaram as tuas palavras
Quando mataram o poeta!"

Céu na Terra

Paredes brancas. Corpos.
Num dia de frio eu fui tua. Só tua.
Mas apenas num dia de frio
E vento e cheiro de terra molhada.

Os meus cabelos repousaram no azul.
O meu corpo acolheu a dádiva,
A minha alma o toque.
E nada mais foi dito!

Será terra? Será Céu?
Olhar sedutor.
Ofereci-te o Céu na Terra
E o momento único numa nuvem angelical.

Céu, salva-me!

Escuta o apelo desta serva.
Aqui jaz meu coração pecador.
Quero palavras para construir metáforas.
Quero sílabas para construir sonhos.

As lágrimas não acariciam a minha face.
Não sei onde se esconderam.
Procuro dentro de mim e encontro o vazio.
Procuro em todo o lado e encontro o vazio.

Já não me reconheço! Ai...não!
Onde está a alma sonhadora e dócil?
Quem é esta que me faz pecar?

Olhar ardente, coração frágil.
Céu, salva-me de mim
E das minhas lágrimas silenciosas.

Meu Céu

És meu. Não te tenho amor.
Apenas te desejo.
Gosto da maneira como me acolhes em teus braços.
Natureza selvagem, estado puro.

Meu Céu de tardes de prazer,
Faz com que o sol brilhe de novo.
Quero sentir a seda nos nossos corpos
E deixar que o instinto nos domine
Mais uma vez...

Céu negro

Aqui estou, meu Céu Negro!
Depois de dias de delicioso ócio,
Aqui me tens novamente.
Volto a ser tua escrava.
Volto a calar as minhas lágrimas
E sorrio.

Sem brilho e sem sonho.
Apenas o meu cabelo esvoaça na tua escuridão
E os meus lamentos perdem-se
Quando os lábios beijam a palavra
Que me aperta a garganta.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Sem cor

Onde estou?
Não vejo nada!
O teu pecado cegou os meus olhos.

Para onde me levas?
A tua mão está fria.
É o espelho do teu coração.

Que dia é hoje?
Tiraste a cor da minha vida.
Agora resume-se a pequenas palavras
Traduzidas numa melodia
Tocada na flauta do Poeta.

Verde

Não gosto de verde.
Não gosto de folhas
Nem de espaços amplos
E bucólicos.

Não gosto de ter esperança
Nem de sentir frio
Quando Ela me tenta percorrer.

Azul

Voa nesse teu céu azul, cotovia!
Liberta-te das mãos que te prendem aqui.
Repousa as tuas belas asas no telhado daquele castelo
Onde tudo é luz e quimera!

Beberica a água que dá vida à tua vida
E volta a voar!
Abraça galhos de árvores frondosas,
Beija ninhos de irmãos teus.

Quando anoitecer, volta à cidade!
Percorre bairros e pracetas,
Encontra um recanto para descansar.

Quando a cotovia adormece,
O céu já não é azul
E a cidade volta a despertar...

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Amarelo

O meu sorriso é amarelo.
O teu sorriso é...é...
Tu não tens sorriso, mas sorris.

Não consegui defini-lo! Porquê?
Apenas sei que o meu é de tal forma
Porque alguém de quem não gosto mo disse.
Apenas sei que o meu é amarelo
Porque prefiro acreditar nas palavras de quem me mata
Do que nas daqueles que querem que viva!

O teu sorriso é...é...
Tu não tens sorriso, mas sorris.
Uma parte de ti ainda brilha, ainda sonha!

Rogo-te que me escutes e que leves esta cor da minha vida
Para que nunca mais volte e se transforme em verde
Quando o mar arrastar o meu corpo e o devolver ao Céu.

Laranja

Hoje não é um bom dia para escrever.
Hoje não quero sequer pegar na caneta preta
Nem no papel para ordenar palavras
E dizer que formam um belo conjunto.

Quero desenhar formas que desconheço
Em tons de laranja. Não quero depois tentar identificá-las.
Só preciso de ficar a observá-las. Só preciso de as sentir.

Não quero falar sobre elas e nem te quero oferecer um sorriso.
Apenas te ofereço aquilo que não conheço
Para que também não o possas descobrir.

Preto

Não sabes que esta música sombria que escuto
É minha e tua.
Já não faz sentido chamar-te meu Amor,
Já não faz sentido lembrar os teus abraços.
Apenas posso carpir as mágoas e rasgar fotografias
Até sufocar de dor, até deixar que o coração não mais viva!

Estou ainda de luto pela alma que é minha
E que tu levaste contigo apenas para ferir.
Não preciso de vestir algo preto,
Eu sou essa cor.
Não preciso de me refugiar na noite,
Eu sou a noite escura que me abraça.

Onde estás? Onde estás?
Peço-te um último favor: não me respondas.
Não quero ressuscitar o coração.

Vermelho

Nos teus lençóis de seda vermelha me envolveste.
Aquele dia desvairado, aquela tarde que nos acolheu.
Não havia tempo nem espaço.
Tudo era silêncio.

Usava um lenço vermelho
Que te deixei e com ele deixei o perfume da minha pele
Cravado na tua.
O meu desejo é o teu.
A minha boca é a tua.

Guardo ainda naquele livro as rosas que me deste.
Gosto de as contemplar quando o pensamento voa
E o olhar se acende.

Gosto deste nosso contraste.
E não tirei o anel de brilhantes.

domingo, 14 de janeiro de 2007

Natureza destruída

Sai daqui, Homem!
Olha à tua volta.
Olha a tua casa.
Observa a tristeza no rosto de tua Mãe.

Pétalas secas.
Frutos que se perdem.
Raizes que não se prendem ao chão duro.
Árvores mortas.

A culpa é tua, Homem.
Agora é sempre noite.
Nem a luz do sol alivia todo este sofrimento causado por ti.

Espalha a tua maldade noutros corpos. Estes já foram por ti envenenados.

Castelo destruído

Aquela princesa das minhas histórias perdeu-se.
Poderia ser Julieta ou Maria Eduarda, mas chama-se Teresa.
Observa o seu castelo, as pedras que um dia acolheram noites de baile,
Encontros secretos.
Está nos jardins! Pobre moça!
Ele continua sentado junto da flor!
Ambos se perderam!

Mas, ao contrário de todos os amores proibidos,
Eles vão seguir o seu caminho aqui.Juntos.
Caíram na abençoada tentação!
Não têm castelo, mas continuam a ser um solitário e uma princesa
Que, jovem, sente por ele um amor excepcional.

Vida destruída

Tu, que vives na selva de horrores,
Que sacias a fome quando Ele te estende a mão,
Que matas a sede quando encontras água,
Que escondes um pequeno pássaro nas tuas mãos pequeninas e bondosas.
Que acordas com o sol triste e te deitas com a noite angustiada.
Tu, que tens a vida destruída, olhas-me com um sorriso.

Eu, que viajo pelo mundo, que vejo pessoas,
Que resolvo enigmas, que tenho uma paisagem bela quando olho pela janela,
Que rio do que não tem graça e que tenho a vida destruída,
Contemplo-te com lágrimas nos olhos e não te retribuo o sorriso.

Amanhã destruído

Estou deitada na minha cama.
Circulam versos pela minha alma.
Mas não quero escrevê-los.
Não quero que ninguém os saiba
Porque são só meus!
O dia que não chega, a noite que não passa.
Não consigo dormir. Estes versos malditos
Continuam a perturbar o meu espírito.

Mas não tenho motivos para me afligir.
O amanhã que em breve chegará é apenas névoa.
E eu não quero acordar. Assim não sofrerei por vós
Nem pelo amor que me quereis conceder.

Sorriso destruído

Eu sei que vês um sorriso na minha face.
Sempre o viste. Mesmo quando quero deixar a raiva apoderar-se de mim!
Quando quero ser irónica ou quando quero ser cruel.
Todos esses são falsos.

O único verdadeiro foi destruído somente por ti!
Dedicado a ti, criado por ti nas manhãs de Outono
Em que me acordavas e abrias as janelas para que o sol fraco
Iluminasse o meu dia.

Alma destruída

É esta a noite que me acolhe. Está tanto frio.
A lareira e as mantas já não me aquecem.
As luvas vermelhas rejeitam a minha pele.
A minha mente rejeita o meu coração.

Oh! Ele é tão cruel! Não o entendo nem nunca o entenderei!
A minha mente não entende que se magoe e que se mate lentamente.
E a causa és tu.
Quem és tu?

Tu és...tu foste! Sim, tu foste alguém que fez com que os meus olhos brilhassem
E que a minha alma se destruísse para que nunca mais eu voltasse a viver!

Sonho destruído

Tinha tantos sonhos! Sonhava com Primaveras repletas de desejos e flores!
Com almas que planam livres. Com olhares envergonhados ocultados pela noite!
Com corpos que apenas vivem por se quererem.
Mas tinha apenas um sonho verdadeiro: tu.
Tu, aquele que quis e que já não quero.
Tu, que destruíste o meu mais puro sonho
Para o manchares com sangue sujo.
Vai-te embora. Nunca mais me procures
Nem ouses proferir diante de mim a palavra "sonho".

Esboço perdido

Hoje sou princesa de um reino perdido no meio do nada.
Vivo só no meu castelo. Apenas existe um homem no meu espaço.
Quero vê-lo, mas não posso. Também ele está só.
Também ele se julga perdido.

Um dia passeei pelos jardins do meu frágil castelo
E vi-o sentado junto da minha flor.
Contemplei o seu gesto, escutei as suas palavras.
E fugi.

Se eu o olho, perco-me.
E aí, o meu castelo destruir-se-á para sempre.

Esboço ferido

Diz-me, jovem, por que apagaste as marcas de sangue do meu esboço?
Ele não estava ferido!
Ele apenas quis ter vida e eu dei-lha!
Ele apenas quis sentir e eu...

Diz-me, jovem imaturo, por que rasgaste o meu esboço?
Estava guardado no baú das recordações e lá deveria continuar.
Apenas incendiaste o coração que há muito se habituara a sonhar e viver só.
Trouxeste-me noites e noites de esperança e dias e dias de amargura!

Mas conseguiste que o meu esboço se transformasse em mim.
Ele nunca foi ferido, mas eu já fui.

Esboço de alma

Tenho um anel de brilhantes na mão esquerda.
Contemplo-o e sinto que não tem significado.
Tantas pedras pequenas! Tanto valor!

A minha mão pesa! Esses brilhantes preenchem-me a alma!
(Como a fazem doer...!)
Toco nos objectos e todos se partem.
Acaricio as pessoas e todas choram!
Mas não tenho coragem de arrancar os brilhantes
E ficar apenas com uma aliança.

Prefiro nada a nada.

Esboço mágico

Nesta longa noite não dormi.
Fechei os olhos, tentei escutar o vento,
Mas só as tuas palavras surgiam...

Pensei em conversar contigo.
Falar-te de flores, de vida, de sonhos.
Imaginei o que me dirias!
Mas tudo não passou de um momento mágico!
Tu não compreendes esta alma que te escreve sem cessar
E que te quer sem te querer.

Esboço de alegria

Tenho papel, tenho carvão.
Tenho vontade de ver os meus dedos negros e avermelhados.
Quero sentir o sangue a percorrer as minhas mãos.
Quero viver um sonho.
Quero alcançar o que não preciso.

Quero ver aquela folha branca com riscos
E formas que não conheço.
Quero ver um desconhecido que me dá prazer.
Quero apenas esboçar a alegria que nunca senti na vida
No simples murmurar de um pedaço de papel amachucado
Pelas mãos do poeta.

Esboço

Vou pintar um quadro preto e branco.
Não quero pincéis nem tintas.
Só quero uma tela invisível.
Só preciso de silêncio.

As horas passam. A avenida continua igual.
As pessoas passam apressadas.
Não têm mistério.

O meu quadro não existe.
Só sei que tem um fundo preto
E gritos brancos.
É a minha alma que chora.

Deito fora aquilo a que chamei quadro.
Não o é.
É apenas um esboço mal feito daquilo que não sinto!