quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Nunca me custou chorar. A tristeza vinha de mansinho e as lágrimas caíam. A recordação pulsava no coração, abrindo cicatrizes e o choro abraçava a minha noite. Hoje custa. As lágrimas já não caem como antes. Sinto-me estranha. Tenho medo. Disfarcei tudo aquilo que me doeu numa coisa qualquer. Talvez no tempo, no espaço, no meu dia-a-dia. E de noite adormecia exausta e sem sequer pensar.
Hoje parei. Pousei, acabaram-se as coisas para fazer e fiquei sozinha comigo mesma. E voltei a descobrir uma dor aguda que me está a destruir agora, que me intimida, que me assusta ao ponto de querer desaparecer daqui sem dizer nada a ninguém. Só quero ir para um lugar onde ninguém me conheça, onde ninguém saiba o meu nome ou diga quem eu sou. As lágrimas que deslizam no meu rosto dizem-me que afinal ainda sei chorar.
Apetece-me escrever palavras que não conheço.
Juntar sílabas ao acaso, apagar com a borracha,
Apertar o lápis por entre os dedos e desenhar letras.

Dizem que a minha caligrafia não é bonita.
É-me indiferente. Não quero cadernos repletos de palavras bem desenhadas.
Quero só palavras. Bonitas, feias, grandes, pequenas, de duas, três, quatro ou cinco sílabas.
E até de seis ou sete se puder ser.
Só quero palavras a brotar de dentro de mim.

Não quero sentidos nem ordem. Não quero regras nem imposições.
Quero trocar o sujeito, os complementos, o predicado!
Quero tudo e não quero nada.

Afinal só quero sentir dor na pele
Porque já não sei quem sou.
Morri um dia destes que passou.
Nem sequer derramei uma lágrima.
E voltei a encontrar-me numa rua errante qualquer
Só porque passei por acaso.