Precisamos de chorar os nossos mortos
mesmo que eles estejam vivos.
Os olhos já se esvaziaram
E quando se olha
ao
fundo
só
se encontra uma tristeza imensa
que os
inunda.
Precisamos de chorar os nossos mortos
dentro das linhas invisíveis que nos cosem
a alma
o coração
e os mantêm unos
mesmo que semi-desfeitos
ou aos pedaços
ou esburacados
Uma coisa mesmo não sendo
inteira não deixa de ser uma coisa
com sentidos
e sem sentido
no decorrer dos dias e das lágrimas
que atravessam calendários
(nunca gostei muito de calendários
e devo ter três ou quatro na carteira
e um ou dois espalhados pela casa
para que mesmo que esbarre com o
tempo
ao transpor a porta da cozinha
ou ao remexer na carteira
me lembre
-sempre um cliché-
que o pior e o o melhor do
tempo
é que ele
passa.
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