Falhou. Escorreguei do escadote.
Não consegui chegar à prateleira
Mais soturna, mais escondida, mais inútil
E esconder o Livro.
Abro numa página ao acaso e leio o que não quero.
(É difícil colocar aquele livro na prateleira.)
Passo outra e outra e mais outra e outra ainda
E leio o que já senti.
Gritam-me, furiosas, as palavras.
Ganham vida e batem-me.
Acordo no dia seguinte como se tivesse levado uma surra.
(E levei.)
O dia nem sequer tem cor (ou se calhar sou eu que não vejo).
O dia tem mágoa e sinto-a inteira em mim.
Volto ao edifício de outrora e o maestro continua lá.
Impenetrável, cobarde, fingido.
Eu sei onde o encontrar, mas não quero.
Gosto de realidade, não preciso que ela me mate.
Dói-me tudo e estou exausta.
Cortei contra vontade as cordas do violino que não sei tocar.
Cortei. Rasguei. Destruí. E com as minhas próprias mãos desfiz a batuta do maestro.
Ele partiu e eu parti, mas estamos no mesmo lugar.
Agora é tarde. O tempo passa, a vida corre e as flores morrem,
A música permanece, mas eu comecei a destruir as pautas.
Matei os instrumentos. E estou prestes a cometer outro crime.
Matá-lo dentro de mim, apagar para sempre, mas não deitar no lixo.
Ódio! Ódio! Ah! Agora não te vás para que cumpra o prometido.
Sou a última acha da fogueira. Não me posso extinguir já.
Estou exausta. O mundo abraça-me como aquela tia que já não me vê há anos
E que quase me sufoca e me cobre de beijos.
(Vai-te embora, Maestro, mas para sempre. Não te quero reencontrar
Nem saber quem és. Já esqueci o teu nome. Já não quero os teus beijos e os teus olhares
Ardentes. Não me sussurres mais ao ouvido.)
Dói-me muito a cabeça. E o pescoço. Os meus músculos estão presos,
Os meus olhos aprisionados na minha tristeza.
Vou dormir (se conseguir...) com o barulho do meu pensamento
E da minha recordação para amanhã voltar a fingir e a sofrer, a chorar e a sofrer.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Nunca vi os meus olhos tão tristes
E o coração tão morto.
Morto vivendo ao sabor do vento
Que fustiga e magoa.
Dor como esta jamais conseguirá ser transposta
Para papel, para corpo.
E eu não esqueço.
Não posso, não me é permitido.
E fecho as cortinas para que não
Se vejam as lágrimas.
Tenho olheiras, olheiras profundas
De não dormir e de sentir e recordar.
Tenho um punhal cravado no peito,
Não páro de sangrar e arrasto-me por aí
Sem deixar cair uma gota de sangue.
Dissimulo, finjo, desprezo.
Estou presa por tempo determinado.
Preciso de me libertar das correias
Que dilaceram o meu corpo.
Dói tanto que quase sufoco,
Que quase grito
E sinto um cansaço tal que já nem
Dormir quero.
E o coração tão morto.
Morto vivendo ao sabor do vento
Que fustiga e magoa.
Dor como esta jamais conseguirá ser transposta
Para papel, para corpo.
E eu não esqueço.
Não posso, não me é permitido.
E fecho as cortinas para que não
Se vejam as lágrimas.
Tenho olheiras, olheiras profundas
De não dormir e de sentir e recordar.
Tenho um punhal cravado no peito,
Não páro de sangrar e arrasto-me por aí
Sem deixar cair uma gota de sangue.
Dissimulo, finjo, desprezo.
Estou presa por tempo determinado.
Preciso de me libertar das correias
Que dilaceram o meu corpo.
Dói tanto que quase sufoco,
Que quase grito
E sinto um cansaço tal que já nem
Dormir quero.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Está a doer outra vez.
Progressiva, intensa e ferozmente.
Dói. Dói. Não pára de doer.
Não paro de recordar.
Dói ainda mais um sofrimento calado
E fingido.
Como dói olhar e não conseguir sequer
Encarar e disfarçar o ardente e recôndito
Sentimento.
Já não sei o que é dor.
A minha mão dói, o meu peito dói,
O meu frágil coração dói.
Tudo o que sou dói
Cada vez mais e não pára de doer
E magoar.
Não paro de sentir nem de abrir baús
De memórias vivas, marcas indeléveis
De felicidade.
Progressiva, intensa e ferozmente.
Dói. Dói. Não pára de doer.
Não paro de recordar.
Dói ainda mais um sofrimento calado
E fingido.
Como dói olhar e não conseguir sequer
Encarar e disfarçar o ardente e recôndito
Sentimento.
Já não sei o que é dor.
A minha mão dói, o meu peito dói,
O meu frágil coração dói.
Tudo o que sou dói
Cada vez mais e não pára de doer
E magoar.
Não paro de sentir nem de abrir baús
De memórias vivas, marcas indeléveis
De felicidade.
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