Já deveriam ter secado minhas lágrimas. Depois do prazer, a dor, as paredes brancas e o silêncio de uma casa que já não me pertence, mas onde continuo a entrar diariamente apenas para me magoar. A máscara pesa. Como pesa... Horas e horas presa ao meu rosto, apertando o meu coração. A corda na garganta está a ficar apertada e a minha voz a desaparecer, baixando lentamente de tom até ser votada ao silêncio e ao esquecimento. E o esquecimento magoa. Sinto mil flechas trespassarem-me o corpo, diária e continuamente. Mas sobrevivo a todas, arrastando-me por aí e tentando esconder o sangue puro que suja os locais por onde passo, sozinha nesta dor que há meses me atormenta. De vez em quando chove e o chão pinta-se de vermelho vivo. Mas volta o sol e a dor. As flechas, aos olhos dos outros invisíveis, são lançadas dos seus próprios olhos, através das suas acções. Dói tanto que tento não sentir; mas é impossível. Fere ainda mais a lembrança: a volúpia da posse, violenta, instintiva, fugaz.
Não quero mais recordar; o coração não o permite, nega-se a fazê-lo, insurge-se, lutando comigo. Jamais vi exército tão feroz, tão beligerante, tão intenso. Rendo-me. As forças esvaem-se, a minha mão não consegue empunhar o sabre ocioso. Contudo, minto. Ainda me resta uma só força, intensa, que exorcizará o veneno que corre dentro de mim e matará meu coração imortal.
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