O corpo quer-se
quente
no abraço
no afago
o corpo
escreve
e desenha
linhas
devaneios
o corpo quer-se
corpo
sem ausência
lânguido
voraz
exausto
corpo
terça-feira, 19 de junho de 2012
segunda-feira, 26 de março de 2012
Os olhos são de vidro
e bate-lhes o sol
anda uma sombra na
parede, irrequieta com o movimento
do corpo.
É a minha dor atirada à
parede em bolas de tinta tensas
que se espalham no
branco-vazio da pedra.
Recorta-a, esfarrapa-a e cola-a numa
tela.
Expõe-me numa galeria
para que fora de mim,
histérica,
loucamente me veja ao espelho.
e bate-lhes o sol
anda uma sombra na
parede, irrequieta com o movimento
do corpo.
É a minha dor atirada à
parede em bolas de tinta tensas
que se espalham no
branco-vazio da pedra.
Recorta-a, esfarrapa-a e cola-a numa
tela.
Expõe-me numa galeria
para que fora de mim,
histérica,
loucamente me veja ao espelho.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Então o amor foi embora.
Nada fica para sempre. Não se transformou em coisa nenhuma.
Só foi embora.
E fiquei ali à porta a acenar para o vazio, num sofrimento brutal
a senti-lo apertar-me as veias como que gritando
não me deixes ir.
No dia seguinte uma embalagem de kleenex
e um café forte
que com despedidas
fico sem dormir
ah e mais um corretor de olheiras
e pó - que fica sempre bem.
Nada fica para sempre. Não se transformou em coisa nenhuma.
Só foi embora.
E fiquei ali à porta a acenar para o vazio, num sofrimento brutal
a senti-lo apertar-me as veias como que gritando
não me deixes ir.
No dia seguinte uma embalagem de kleenex
e um café forte
que com despedidas
fico sem dormir
ah e mais um corretor de olheiras
e pó - que fica sempre bem.
sábado, 28 de janeiro de 2012
E então eu via o amor morrer
mais um bocadinho
às vezes em queda livre
no vazio
ou num tempo enrolado
em que nem um desfibrilhador
no máximo traria de volta um coração
desistente.
Segunda-terça-quinta...
sei lá
todos os dias eram bons para morrer.
num qualquer pararia.
os números caindo no ecrã
o som contínuo do aparelho
do pensamento culpado
sem hipótese de voltar atrás.
mais um bocadinho
às vezes em queda livre
no vazio
ou num tempo enrolado
em que nem um desfibrilhador
no máximo traria de volta um coração
desistente.
Segunda-terça-quinta...
sei lá
todos os dias eram bons para morrer.
num qualquer pararia.
os números caindo no ecrã
o som contínuo do aparelho
do pensamento culpado
sem hipótese de voltar atrás.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
São cacos por limar, irregulares.
Toma, parte mais, disse eu. Não era para me levares à letra.
Já sei que também corto, mas não é com facas.
Podias ter deixado menos cicatrizes.
Agora tenho de ir à farmácia comprar cremes
Já sei que também corto, mas não é com facas.
Podias ter deixado menos cicatrizes.
Agora tenho de ir à farmácia comprar cremes
e se não sabes, devias saber: os dermatologistas
só mandam comprar aqueles produtos caríssimos
que não servem para nada.
Eu só corto com palavras. Das que têm a lâmina
Eu só corto com palavras. Das que têm a lâmina
mais afiadinha. Sabes quais são?
Sim, essas, as palavras-bisturi.
Sim, essas, as palavras-bisturi.
Incisão profunda na palma da mão.
Não brinques com facas, cachopa.
Olha que te cortas e te magoas.
Corte atrapalhado. Não são mãos de cirurgião.
Respira pausadamente. Não gosta de ver sangue.
Já te disse para não brincares com facas, miúda!
Mais profundo, até o encontrar. Nunca teve muita destreza.
Ainda para mais com a esquerda. Mão desastrosamente
amorosa, apaixonada.
Deixa lá isso quieto! Já te disse que te vais cortar
e depois choras!
Procura-o, o bico da lâmina persegue-o.
Toca-lhe
suavemente.
Cerca-o.
Mais um corte aqui, outro ali.
Extrai-o.
Eu bem te disse que te ias magoar! Agora choras, pois!
Olha o coração arrancado do corpo, o buraco profundo da mão
que continuamente jorra sangue.
Sem expressão relembra
"Estou a sentir o teu coração a bater na tua mão".
Não brinques com facas, cachopa.
Olha que te cortas e te magoas.
Corte atrapalhado. Não são mãos de cirurgião.
Respira pausadamente. Não gosta de ver sangue.
Já te disse para não brincares com facas, miúda!
Mais profundo, até o encontrar. Nunca teve muita destreza.
Ainda para mais com a esquerda. Mão desastrosamente
amorosa, apaixonada.
Deixa lá isso quieto! Já te disse que te vais cortar
e depois choras!
Procura-o, o bico da lâmina persegue-o.
Toca-lhe
suavemente.
Cerca-o.
Mais um corte aqui, outro ali.
Extrai-o.
Eu bem te disse que te ias magoar! Agora choras, pois!
Olha o coração arrancado do corpo, o buraco profundo da mão
que continuamente jorra sangue.
Sem expressão relembra
"Estou a sentir o teu coração a bater na tua mão".
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Relembrando Eça de Queirós
Ulisses disse a Calipso:
És demasiado perfeita.
Quero a sujidade
das coisas humanas.
A Penélope é
velha
e
feia
coitada!
20 anos à
espera
a suspirar
pelo tempo
e pelo homem
já tem ponteiros
em vez de veias.
Ulisses, o homem mais astuto
da Grécia rejeitou uma deusa
divina, perfeita, incólume
e bela, sem rugas nem pele de galinha.
Não vai precisar de creme de
dia e de noite
noite e dia
esperava Penélope
a desfazer a tapeçaria.
Calipso dizia eu
de beleza perene
foi abandonada
por Ulisses
esse sacana
que quer coisas efémeras
como o beijo roubado
à pressa à porta do elevador
dum apartamento que não existe.
És demasiado perfeita.
Quero a sujidade
das coisas humanas.
A Penélope é
velha
e
feia
coitada!
20 anos à
espera
a suspirar
pelo tempo
e pelo homem
já tem ponteiros
em vez de veias.
Ulisses, o homem mais astuto
da Grécia rejeitou uma deusa
divina, perfeita, incólume
e bela, sem rugas nem pele de galinha.
Não vai precisar de creme de
dia e de noite
noite e dia
esperava Penélope
a desfazer a tapeçaria.
Calipso dizia eu
de beleza perene
foi abandonada
por Ulisses
esse sacana
que quer coisas efémeras
como o beijo roubado
à pressa à porta do elevador
dum apartamento que não existe.
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