Um dia vais acordar de manhãzinha e abrir a janela do quarto para ver o sol nascer. Já não o fazes há muito tempo. Os dias correram e atropelaram-se uns aos outros em silêncio. Sem gritos e com algumas lágrimas que se perderam por entre os milhões de passos que deste procurando o infinito. Mas um dia, logo de manhãzinha, irás até à janela. Uma qualquer para ver que o sol já não nasce. E pensarás, assustado, que te fugiu por entre os dedos escorregando num momento em que um coração parou, enregelado de dor. E nesse dia a tua lágrima cairá, sofrida e sem fim, no chão do teu quarto, que estará frio, insensível, livre de ti. No dia em que reparares que o sol que te aquecia todas as manhãs e de ti se despedia com um beijo suave e com a promessa de um breve regresso fugiu de ti, da tua crueldade, do teu coração de pedra, a tua lágrima cairá. Deixou de arder lentamente quando te deslumbraste com a imagem de um quadro. Era apenas amarelo e tu deixaste-te enfeitiçar por aquele sol fingido, pronto para te usar e para te deitar fora. E esqueceste o sol que do outro lado brilhava. Mas teimaste em fechar as cortinas e entristeceste-o. Ficou dias sozinho, sentindo-te do outro lado encantado, usado, e o próprio raio queimou-o. O teu gesto rude, a janela que fechaste... Oxalá tivesses apenas fechado a janela do teu quarto. Correste a casa depressa, descalço, não te importando com os cacos que reluziam na escadaria. Feriste-te e não te doeu porque já nem conseguias sentir. Voltaste a correr. Fechaste todas as janelas e isolaste-te no teu palácio sentindo-te um Imperador. E o sol continuou cá fora. Só. Sem ti. Espreitava para te tentar ver nem que fosse de longe apenas para te dizer que o brilho se apagara. E tu nunca o deixaste entrar na tua casa, na tua vida, dentro de ti.
Um dia reparaste que fugiu... Enfraquecido, cansado devido a uma espera que imaginava infindável, apenas partiu. E aí voltaste a abrir a janela. E a chamar o sol incessantemente, buscando ternura e conforto. Fartaste-te do teu sol falso. Mas não te lembraste do que deixaste cá fora. Não te lembraste da dor que causaste, do ciúme, do desalento. E não o encontraste.
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