terça-feira, 14 de abril de 2009

Tem tão poucas folhas de vento.
Um dia. Hoje não falo de sol, de chuva, de trovões ou de nevoeiro. Nem de arco-íris, nem neve, nem calori, nem frio.
É um dia em que o teu corpo insaciável não pressiona o meu. A tua boca adúltera hoje não sussurra nos meus lábios. A minha mão não vai afagar mais os teus cavelos, o meu riso não vai ecoar na noite. Nem em sonhos. Só em palavras que nem sequer são pensadas. É o corpo que as atira, revoltadas, para os livros. Mas as folhas são poucas, são poucas. E são de vento. Serão arrancadas. Só vai sobrar a capa. Estilhaçada, rasgada, destruída. E eu estarei lá para a apertar. E olho para a minha mão ainda macia e lisa. Mas vai ter uma cicatriz profundadepois de sangrar incessantemente, depois de sarar e voltar a abrir até acalmar.
Tempo, o gigante indestrutível, o meu arqui-inimigo. Estou sedenta dele, quero bebê-lo sofregamente. Mas tenho de o saborear. Senti-lo inutilmente insosso, brevemente doce, terrivelmente acre. Sentir a canela que o polvilha, a noz-moscada que o apura.
Ainda não sei se gosto do tempo, mas hoje afinal está a chover.

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