São tantas palavras, mas tenho a visão turva.
Linhas azuis, espaços em branco.
Nem sigo a direcção da linha quando escrevo.
Vejo e sinto tudo turvo.
Fazem todo o sentido e para mim não fazem sentido nenhum.
Estão ocas, sem vida e sem música.
As cordas do violino rebentaram.
Do nada, um dia, naquele dia.
E naquele dia uerbum não é nada
E vida nada também é
Porque a melodia não faz paredes bailar
Nem o meu olhar transparecer o desconhecido que sinto em mim.
Inteira, intemporal. Não quero isto nem aquilo.
Querendo não quero tudo (nem o bastante para sorrir!).
Ai, meu pobre violino! Agora entrelaço as tuas cordas nos meus dedos
Esperando que também deles não se despeçam.
Conservo a forte caixa frágil que encontrei no Mundo.
Volto à realidade das coisas e as palavras não me escutam,
Nem me cantam nem me ferem.
Ah! Voltar a senti-las jorrando dentro de mim
Excessivamente calmas, pacificamente furiosas a ponto de me bater,
De me esquartejar, de me matar de cansaço e sofrimento.
Ignoro-as agora. Não as quero.
Já não descrevem o sol como eu quero,
Entristecem flores na Primavera
E apodrecem os frutos.
Para que quero palavras que não me obedecem?
Moderadamente absurdas, absurdamente moderadas.
Assim também não quero, não gosto.
Não quero palavras fragmentadas e sem essência.
Não gosto de fechar os olhos.
Mesmo que as veja sem as ver,
Olho para o nada e encontro-as inteiras em mim.
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