sexta-feira, 20 de março de 2009

"O que é?", perguntaste-me tu ao entardecer. Os últimos raios de sol iluminavam a avenida. Carros e buzinadelas, o passeio cheio de sapatos apressados, de sacos de compras nas mãos. Uns que vêm em silêncio, aquele que ouve música e sente o ritmo pulsar e explodir no próprio corpo, deixando o movimento apoderar-se da sua alma em plena rua. E com toda a gente a olhar. Reparo no esgar de espanto do motorista do autocarro. Por pouco não teve um acidente ao olhar para aquele.
Insistes. "O que é?". E eu tardo em responder. Estou a saborear as palavras, a tentar encontrar o tom exacto. Estou a mastigá-las devagarinho e custa-me dizê-las porque as sinto. Nunca reparaste que a minha voz é muda? Só o papel e a pena me preenchem. Só quando a mão desenha letras e forma palavras.
O grande muro que cerca a propriedade, a fonte, o silêncio, o instinto. Instinto. Nós. Amor e ódio, céu e inferno. Tudo no mesmo minuto. Uma escadaria cheia, um risinho nervoso.
Vamos as duas pela avenida. Perguntas-me "o que é?".
São as cores do Outono, Mariana.

1 comentário:

Vânia disse...

É o amor... xD *