sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Não basta um cortinado de seda grená
entre e cidade e eu.
Chove torrencialmente lá fora.
A rua está deserta, invadida pela escuridão
E pelo medo.

Abri a janela para respirar.
A minha alma retorce-me as entranhas
Ao mesmo tempo que o vento espanca
as árvores ainda despidas.
Ao fundo uma pessoa conhecida
Que desafia a Natureza.
A janela aberta sorri.
O meu vulto tenta falar.
As palavras não passam na garganta.
Puxo pela voz.
Falha.
O coração esvai-se em sangue.
E o homem,do outro lado da rua,
espera por uma reacção minha.

Fala o meu corpo.
Insaciável.
Adúltero.
A pele arrepiada.
Ele pronuncia o meu nome.
O temporal abafa-o.
E a voz dele troveja, ecoa
na noite tempestuosa
que se abateu sobre mim.

Sem pensar, arranco a cortina
que lentamente definha no chão do meu quarto.
Perde a cor, grita de dor
Quando a piso
antes de sair
e abraçar uma nova vida.

1 comentário:

Rita disse...

Coitada da cortina.
Eu sou mais do tipo de amorfanhar papeis ^^