segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Quimera

Hoje não é dia de metas nem de objectivos. Não é dia de lágrimas nem de sorrisos. Hoje é dia, dia de sonhos. Dia do choro incessante. É Inverno dentro de mim. O vento sopra, agreste. Fustiga, ataca, espanca. E agora chove. E seguidamente o céu ilumina-se! É a minha raiva, o meu ciúme, o meu amor. Sou eu. Eu a chamar a tua atenção. "Olha para cima, meu amor...", sussurro. Sei onde estás, nem sequer sei onde estás. Estou confusa e cansada. Preciso de dormir. Mas nem a noite se compadece. Nem o sono vem. Cumprimento as estrelas que vêm fazer companhia à lua. E espreito pela janela.
Não me lembro de nada. Ele encontrou-me caída, perdida nas minhas escolhas difusas, na ansiedade que percorre o meu gesto, o meu olhar, a minha linguagem corporal, a minha alma, o meu ser... Apenas me encontrou desmaiada, desencontrada da vida e descalça.
"Quando deixas de negar o teu coração, meu amor?", interrogo-me quando a manhã sorri aos meus olhos tristonhos. São 5.11. O meu dia começa depois. Não sei quando é depois. Só não quero começar a amar e a sofrer a esta hora absurda. É a hora dos sonhos espontâneos e das loucuras desencadeadas pela paixão. Deixo-me ficar quentinha debaixo das cobertas.
O quarto ainda está um pouco escuro. Não muito, consigo distinguir as sombras. O meu pensamento voa e poisa no sono tranquilo dele. Falta pouco para me magoar no seu amor. Daqui a nada o despertador toca. Triiiim... Afinal o "daqui a nada" é já, neste instante. Não posso prolongar a minha espera sem dor.
Hora e meia depois entro no recinto. Passos ansiosos, fingido desprezo, olhar genuíno. A minha alma não mente. "Meu amor, por que finges que não me vês? O teu olhar aprisiona o meu. Dispo a tua alma sem pudor e encontro o fogo que aí acendi." Foi ele que passou. Discreto, galante, fingido. E eu, demasiado perto e demasiado longe para o poder tocar. Segurar a mão e olhar a alma. Mutuamente, sem pressas. Baixar os olhos envergonhados tal donzela cortejada.
E, se um dia, o sonho voltar a tornar-se realidade, o Inverno desaparecerá de mansinho. Virá a alegre e inconsciente Primavera livrar-me do medo, da terrível ansiedade. E ele, misturado na Natureza, colherá amores-perfeitos para mim. E abraçará o Verão e o calor do sol.
Um dia, iremos passear na serra e sentir o vento, e beijar flores, e regatos gelados, e abraçar-nos no meio dos girassóis sempre tão belos.
É, se a ansiedade passar e a vida regressar...

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