Odeio a sensação de simplesmente não saber. Eu. Logo eu. Eu conheço-me. Eu sei o que quero. Eu. Eu. Eu. Eu sou egoísta. Porque sim. Porque já pensei demasiado nos outros e esqueci-me de tratar de mim. Eu tenho objectivos. Eu sei sempre que rumo tomar. Mas agora não sei. Tenho as entranhas revolvidas e um coração idiota a fazer pressão para soltar as cordas a que está preso. E a deixar-me com insónias. Mas pior que isso é não saber. Simplesmente. Apenas. Continuo egoísta. Muito. E contrariar esse coração estúpido dá trabalho. É segurá-lo com força como se fosse um animal selvagem que nunca teve um carinho. Preciso de domá-lo, de puxá-lo até fazer sangue em mim para que ele pare. Mas ele insiste, teimoso. E eu chego ao fim do dia exausta de tanta luta. Tenho-o preso por mais umas horas. O sono é inquieto. E no dia seguinte, quando ele desperta com forças renovadas, as minhas estão cada vez mais gastas; o sangue pinga cada vez mais para o chão e corre cada vez menos nas minhas veias. E isto tudo para dizer que me perdi. E que o coração está a formar um exército e que eu estou sozinha. Todos por ele e eu por mim. É desigual, é injusto. Ele não se devia virar contra quem o trata e o cola quando se despedaça, quando encalha na vida; contra quem o salva de se afogar em sofrimento.
Odeio não saber.