terça-feira, 2 de maio de 2006

Tradição e corte

Um simples olhar era sinónimo de amor e de respeito. Os galanteios dirigidos à donzela eram delicados, românticos e sinceros. Os bilhetes que se entrelaçavam nos dedos dos enamorados contavam as mais belas histórias de amor.
A tradição estava presente: o cavalheiro cometia as mais inimagináveis loucuras para poder estar com a dama dos seus sonhos; recitava-lhe os mais belos poemas; esperava paciente e angustiadamente o dia do encontro, apesar de uma janela mágica o separar da sua amada. As flores campestres, o canto das aves, a harmonia das serras e dos bosques verdejantes eram o espelho da alma dos amantes, as testemunhas da terrível separação.
A corte era algo delicioso... A fase do enamoramento, do tentar agradar ao outro, do sonho e da ilusão... Nessa fase, as mais belas palavras eram ditas no silêncio mudo de um olhar; a alma reflectia-se no corpo, que tremia de vergonha a cada carícia mais ousada... O fruto proibido era o mais apetecido. Contudo, a tradição era respeitada!
Hoje em dia, a corte já não é o que era: já não tem impregnada a ternura de anos áureos do romantismo, já não possui a pureza do gesto nem a magia do amor. Hoje em dia quase tudo se resume a uma imitação sem graça daquilo que era o devaneio do amor ardente e do fogo da paixão...
Os cavalheiros já não surpreendem as damas com flores espontâneas e puras... É certo que alguns tentam seguir os princípios e regras estipulados desde que o mundo é mundo e que o homem se começou a apaixonar, mas não é o suficiente...
O "morrer de amor" cantado por tantos poetas já não tem o mesmo significado nem o mesmo impacto... Há algo que parece superficial...
Há algo que não soa bem na inquietude do vento...

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