sábado, 10 de junho de 2006

Tempo e Destino

"Eu sou o Tempo! Todos falam de mim, dirigindo-me palavras amargas ou doces, consoante o estado de espírito. Ninguém é capaz de ser imparcial, tentando compreender a minha árdua posição de Pai e Padrasto. Sinto-me só... Os meus filhos, por vezes, olham-me com desprezo. Não querem ser um traço visível da minha passagem. Nas suas expressões vejo faíscas de raiva, de horror... Nada posso fazer. Há algo acima de mim que escreve o livro da vida. Eu sou apenas um mensageiro que é constantemente humilhado, rejeitado. As minhas filhas mais velhas, as Horas, são tristonhas e apagadas, embora mostrem o contrário; os Minutos, os meus filhos do meio, são mais alegres, activos e inconstantes; os mais novos, os Segundos, são velozes, esforçados... Gosto de todos de maneira igual, sinto que temos a capacidade de nos completarmos, mas tenho a certeza que eles não sentem o mesmo! São jovens..."
"Eu sou o Destino! Sou omnipotente e omnisciente. Conheço os detalhes da existência de cada um. Sou solitário e ajo segundo aquilo que as minhas cansadas e calejadas mãos escreveram. É muito complicado traçar o rumo de cada um, de cada comunidade, da Humanidade. Tenho muito trabalho e preciso de muita concentração. Cada erro é fatal e sinto-me frustrado quando isso acontece. Uma linha mal traçada e tudo se desvanece... Apenas ficam as cinzas do nada.
Sou uma espécie de Deus. Vigio atentamente os passos do meu mensageiro, o Tempo, dando
-lhe algumas orientações; todavia, ele não me reconhece, apenas sabe que existo. Não gosto de me dar a conhecer, tenho muito medo do exterior e dos pequenos mundos que, entretanto, foram criados...
Aprecio a beleza do obscuro, as linhas invisíveis dos sentimentos, a serenidade e a harmonia dos elementos... Vida, tão bela vida...!"

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