quarta-feira, 19 de abril de 2006

Vulcão do Silêncio...

A calmaria imperava no local. Naquele momento tudo estava bem: o vulcão estava tranquilo, sereno; a sua câmara magmática encontrava-se no local correcto. O magma estava todo concentrado. As emoções sentidas até à altura fazem com que aquele local seja demasiado pequeno; é demasiado denso, é escuro, é silencioso. Silencioso de mais. Não há movimentos nem reacções. Tudo é estranho. Demasiado estranho. A grande rocha que outrora ardia na densidade das emoções parece um corpo sem vida. A pressa ocupava a sua inerte vida; a perfeição estava presente em cada poro, em cada tecido, em tudo. E essa rocha sentia-se sufocada...
O destino transformou-a numa câmara de silêncio, da qual é a soberana. Sobreviveu a todas as tempestades que tentaram derrotar a sua vida; o sorriso inundava o seu rosto e o silêncio era um desconhecido. Contudo, ao longo dos anos sofreu uma metamorfose: enclausurou-se no seu silêncio; o magma fervilha dentro da sua alma...
Mas, o ciclo vicioso continua a mostrar a sua força. Esse vulcão está prestes a entrar em erupção. Está insatisfeito: não gosta do ruído nem do silêncio; não gosta da perfeição nem da imperfeição; não gosta de nada...
A lava quer conhecer novos mundos, quer espalhar o seu calor. As cinzas têm o profundo desejo de voar por entre montes e vales, querem acariciar rostos imperfeitos, almas destroçadas, almas misteriosas. Querem-se misturar no mundo do silêncio e no mundo da confusão. Querem viver cada dia como se um amanhã não existisse; querem gritar pelos céus por onde passam, querem acreditar nesse vulcão que lhes deu vida...
O vulcão que já não é o que fora em tempos. O vulcão deteriorou-se, sofreu a passagem do tempo, a singularidade da Mãe Natureza, a crueldade dos humanos, a força do vento...
E agora? Já não é ninguém, já não tem magma... O voraz silêncio, após a erupção, extinguiu-se. Desapareceu do mesmo modo que se havia instalado. E o ciclo continua...
Uma primeira fase de pressa; uma segunda fase de silêncio e, posteriormente, uma nova fase de ruído...
E o ciclo continua...
As denominações podem mudar com a passagem do tempo, mas o Vulcão do Silêncio é a origem, o início dos tempos e das eras... O Vulcão do Silêncio é único, porque cada silêncio é único...

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